PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 04.10.2007, horário: 07:00 horas:

Estava em Videira e depois de uma noite mal dormida, fui tomar café e, em seguida, chegou Investigador “Zico” que na minha mesa. Tomamos café e jogamos alguma conversa fora. “Zico” lamentou a ‘situação da Polícia Civil e comentou que sabia que eu era uma pessoa que tinha conteúdo. A seguir relatou que houve um convite para o Delegado “Alber” dar uma palestra no colégio de seu filho sobre Segurança Pública, mas que na verdade gostaria que eu fosse lá, mas como estava viajando...

Argumentei que não gostava de ministrar aulas, não gostava de palestras, de debates... Argumentei que apenas gostava de pesquisas, trabalhos, participar de grupos de estudos. “Zico” ainda me perguntou se eu pediria a demissão do policial “Valdir Mechailo?” Argumentei que não pretendia fazer isso, pois com tanta corrupção, com tanta mentira, o policial Valdir não tinha culpa suficiente para ser demitido. Argumentei, ainda, que naqueles tempos meu objetivo era ser “invisível”, quanto menos fosse visto melhor. Talvez Zico um dia entendesse o que quis dizer, ou talvez, morresse sem saber. Pedi para “Zico” levar a Delegada Marilisa e Ariane até a “DRP”, isso por volta de oito e trinta e nove horas, sendo que depois deveria retornar ao Hotel para me apanhar, enquanto isso eu iria ler uns documentos.

Horário: 09:30 horas:

Estava na ‘DRP” de Videira e encontrei a Delegada Marilisa Boehm e a Escrivã Ariane Guinter no gabinete do Delegado Flares do Rosar. Marilisa estava feliz, bem falante e com aquele seu conjunto cor de mel. Ariane sentada no computador, sempre vestida de forma discreta, porém, elegante, usando geralmente um conjunto preto. Marilisa parecia estar com um ar cansado, diferente do dia anterior, quando parecia mais rejuvenescida, talvez em razão da sua maquiagem. No momento que cheguei o Delegado Flares foi me recepcionar, muito embora estivesse atendendo uma ligação no celular. Era engraçado, Flares estava usando aquele seu terno preto, com camisa branca e barba por fazer (barba rala). Depois que Flares encerrou a ligação foi dizendo para todos ouvir:

- “Puxa, eu sempre me lembro de ti. O cavalo estava encilhado bem na minha frente e eu deixei passar. Eu deveria ter aceito o desafio e me candidatado à presidência da Adpesc. Hoje eu me arrependo amargamente. Deveria ter aceito o desafio, puxa se pudesse voltar...”.

Interrompi, olhando para Marilisa:

- “Pois é, tu vê Marilisa, ele era o nosso candidato, era um novo canal político. Não quis e só deu a Sonéa. Agora estamos pagando o preço, estamos amordaçados, sem opções...”.

Flares me interrompeu:

- “Imagina, o marido dela é o Diretor-Geral lá da Secretaria, não vai querer bater de frente contra o governo por causa do marido, claro que não, tá na cara!”

Interrompi:

- “Marilisa, o Flares era o ‘cara’, tinha perfil, é do PMDB, tem bom trânsito no partido, não tem nenhum familiar na Polícia Civil, não é casado com Delegada, era o ‘cara’! Doutor Flares a doutora Marilisa também é candidata à prefeitura de Joinville, sabia?”

Flares se mostrou surpreso e conversou um pouco com Marilisa. Depois Flares disse que só estava se incomodando em Videira, numa situação terrível, pois se sentia boicotado pela cúpula da Polícia Civil, isto é, pelos Delegados Maurício Eskudlark e Toigo, pois removiam policiais da sua região sem o seu conhecimento.  Olhei para Flares e pensei em falar alguma coisa, mas preferi dizer na presença dos presentes, ou seja, de Marilisa, Ariane, Investigador Valdir Mechailo e seu advogado Adyr que o pior governo na história da Polícia Civil estava sendo Luiz Henrique da Silveira.

O Advogado Adyr me olhou e completou:

- “Depois o Kleinubing!”

Interrompi:

- “Não, o segundo pior governo para a Polícia Civil foi o Ivo Silveira e o Kleinubing foi o terceiro pior”.

Na verdade não era bem assim, falei aquilo mais para dar uma satisfação, pois Ivo Silveira e Kleinubing fizeram coisas boas para a instituição, à exceção de algumas medidas “traiçoeiras”. No caso do Governador Ivo Silveira tinha ainda que se considerar que estava sob um regime militar...Mas tinha certeza que outros governos foram bem piores que Ivo Silveira e Kleinubimb, por serem omissos, o que não ocorreu com os dois citados. Já Luiz Henrique era uma unanimidade, não existia parâmetro, era absoluto. Flares me interrompeu:

- “Por que será que ele fez isso com a Polícia Civil e com os Delegados? Eu acho que ele não gosta de nós. Eu lembro que na época que eu estava no Deter, uma vez nós estávamos juntos lá em Laguna e fomos até a Delegacia Regional, acho que na inauguração do prédio e ele comentou comigo: ‘Flares, eu comecei como Escrivão de Polícia aqui em Laguna’. Bom, ali em pensei que ele era um amigo da Polícia, mas hoje vejo que ele não gosta de nós...”.

Interrompi:

- “Não sei, o que eu acho é que existia um processo de acovardamento geral da classe neste governo dele. Olha só como é que está a nossa cúpula, nossas lideranças classistas”.

Pensei em falar dos Delegados Regionais, porém, resolvi me conter. Na verdade Luiz Henrique quando deixou a Polícia Civil no ano de 1966, sabendo que não iriam deixar ser Delegado de Polícia, não teve outra alternativa a não ser ir advogar em Joinville. Depois disso a Polícia Civil o esqueceu. Apesar de uma carreira vitoriosa no plano político nunca foi procurado para algum tipo de homenagem, reconhecimento de suas perseguições políticas internas na época que cursava Direito e trabalhava no “Dops”. Obviamente que ele trazia muitas magos do passado. A verdade era que Luiz Henrique devia muito do que foi à Polícia Civil que forjou sua personalidade, desenvolveu uma visão sobre política e políticos, transformou em um profissional destemido..., sim, tudo isso dentro da Polícia Civil que o preparou para vida, sem desconsiderar sua estrela, força do trabalho e outros méritos pessoais que foram potencializados dentro do exercício da atividade policial, especialmente, em órgãos estratégicos. Depois fiquei pensando na frase de Luiz Henrique da Silveira que fez um quase “desabafo” que escondia um quê de emoção: “Comecei como Escrivão de Polícia aqui em Laguna”. Aquela frase era lapidar e definia muita coisa na sua história. Imaginei ele retornando a uma Delegacia de Polícia que frequentou ainda na década de cinquenta, quando era muito novo, depois toda a sua trajetória na Polícia Civil da Capital...Deveria imaginar quanto construiu de história de vida, mas as bases existenciais estavam fixadas naquele decênio para serviu a instituição que o esqueceu..., justamente ele que acabou se constituindo um dos maiores ícones da política no Estado de Santa Catarina e no Brasil. Acabei lamentando não estar no lugar do Delegado Regional Flares naquele momento, tinha muita coisa para conversar com “LHS”, especialmente, depois que entrevistei o Delegado “Mirandão” que foi seu superior no “Dops” naqueles anos difíceis, de regime militar... todas as informações que recebi, o suficiente para compreender que não vendo perspectivas na instituição só lhe restava começar uma nova vida em Joinville e esquecer o passado. Lembrei quando conversei com Luiz Henrique da Silveira no ano de 1986 e quando soube quem eu era ele logo foi me perguntando se era filho do Delegado... Confirmei, mas o que me chamou a atenção era sua memória prodigiosa, porque ele soletrou o nome completo do meu pai, isso depois de duas décadas. Quando pensei em entrevistar “LHS” fui informado que o passado dele na Polícia Civil era uma “caixa preta”, que não gostava de falar sobre esse assunto. Porém, percebi que esse passado foi o grande alicerce para a sua vida profissional e política e que, talvez, eu fosse a única pessoa em condições de entrevistá-lo, como fiz com Ivo Silveira, Konder Reis...

Horário: 11:00 horas:

Estava de saída e fui me despedir do Delegado Regional Flares e comentei que iria fazer uma visita para os dois novos Delegados que estavam na cidade, já que Luiz Felipe e Priscila Cemin conseguiram remoção para Joinville, mais uma das “concessões” no balcão de negócios do Delegado-Geral Maurício Eskudlark. Fiquei imaginando como dois Delegados Substitutos conseguiram aquela proeza e a partir daí muito provavelmente iriam se eternizar naquela cidade, afrontando nossa legislação, princípios...  Esse era um dos pontos fraco de Maurício Eskudlark, primeiramente, vinham seus interesses em fazer concessões para colher dividendos políticos...  

No momento que participei que estava me dirigindo até a Delegacia da Comarca que ficava num prédio localizado na frente da “DRP” o Delegado Flares disse que iria me acompanhar para me apresentar aos novos Delegados. Estranhei um pouco aquela atitude, mas aceitei numa boa. Logo que chegamos no gabinete do Delegado Guilherme fui apresentado e Flares me deixou a sós. Deu para perceber que esse Delegado novo parecia uma pessoa simples e que sabia que tinha sido aprovado também no concurso para Delegado no Estado do Paraná, cujo salário inicial era de nove mil reais contra quatro mil e quinhentos em Santa Catarina. Achei difícil tratar qualquer assunto institucional, mas resolvi deixar cópia do parecer sobre “termos circunstanciados” que fiz a pedido do Delegado-Geral Maurício Eskudlark, sendo que meu objetivo era polemizar, gerar opiniões em contrário, colocar para discussão no Conselho Superior da Polícia Civil...

Também, deixei cópia da “emenda constitucional” que dispunha sobre a criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” (alteração do art. 106, CE) e do anteprojeto de lei que tratava sobre o “Fundo de Garantia”.  Marilisa chegou logo em seguida para fazer companhia e conhecer o Delegado Guilherme. O outro Delegado (natural do Maranhão), também foi aprovado no concurso para Delegado do Paraná e pretendia ir embora até o final do ano, porém, não o conheci porque não se encontrava no local naquele momento.

Fomos surpreendidos pela visita do Vereador Serafim que também era Secretário Municipal da Agricultura e mais o Vice-Prefeito e estavam numa visita formal à Delegacia. Achei aquilo inusitado, mas resolvi dar toda atenção aos dois políticos me perguntando: “O que esses dois políticos estão fazendo aqui?” Mas não perdi a oportunidade para elogiar a visita e deixei de lado o computador que estava sendo operado por mim. Os dois políticos argumentaram que era importante que os policiais se fizessem presentes na cidade para aumentar a sensação de segurança, que era importante se dar visibilidade, em especial, por parte dos policiais militares.

Horário: 11:30 horas:

Retornei à DRP de Videira para terminar a última audiência. No final, isso já perto de meio-dia, Flares e mais o Delegado de Tangará vieram até minha presença. Aproveitei para argumentar:

- “Doutor Flares, eu espero que o senhor como Delegado Regional comunique a direção da Polícia Civil que nós estamos perdendo dois Delegados aqui para o Estado do Paraná por conta dos salários, o que é uma vergonha. Doutor Flares, eu espero que informe a nossa presidente da Adpesc, doutora Sonéa, que só tem olhos para Brasília...”.

Flares interrompeu:

- “Doutor, não são só dois, são três os Delegados nossos que passaram no concurso no Estado do Paraná. Nós somos o décimo sexto salário do país, perdemos para o Piauí, Pernambuco...”.

A seguir o Delegado de Tangará chegou a comentar: “Puxa, se eu ganhasse uns dois mil reais a mais e não sairia de Santa Catarina, mas aqui o salário é de quatro mil e quinhentos reais e lá é nove mil, imagina a diferença...”. Pensei: “Com a palavra os nossos “iluminados” e tantos outros que costumavam dizer que ganhávamos muito bem...”.