PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 16.08.2007, horário: 09:00 horas:

Estava na 2ª DP/Blumenau e fui direto para o gabinete da Delegada Jane Claudete Pícolli. Logo que me anunciei Jane deu as boas vindas enquanto eu sentava bem na sua frente. De imediato deu para perceber que Jane fumava compulsivamente e o ambiente estava bastante poluído. Enquanto conversávamos pude perceber que seus dentes inferiores estavam “encracados” de nicotina, resultando do seu frenético tabagismo.

Era uma cena engraçada ver Jane daquele jeito, demonstrava estar num estágio da vida em que sua saúde física e mental pareciam  bastante comprometidas. De outra parte ela procurava demonstrar segurança, controle e receptividade, tudo isso sob tragadas de cigarro. Para compensar esse viés, Jane discursou dizendo que pretendia se candidatar à presidência da Adpesc.

Na sequência, Jane comentou que esperava que o candidato do PMDB e do PT não ganhassem as próximas eleições (2009).  Em resumo, Jane discursou que tinha boas boas relações com  Espiridião Amin, Jorge Konder Bornhausem...  Enquanto ela falava eu pensei:

- “Puxa, são todos águias na política, será que ela pensa que realmente esse pessoal se preocupa como ela?” Depois, comentei que Esperidião Amin no seu último governo deixou muito a desejar para a Polícia Civil, inclusive, foi nesse governo que nosso projeto de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” tinha ido para o “saco”, depois, concorrer derradeiramente para o início do processo de cisão da Polícia Científica e tantas outras situações que vieram a desaguar no atual governo Luiz Henrique da Silveira que deu o golpe de misericórdia. Jane me ouviu em silêncio e não quis comentar absolutamente nada. Interrompi seu silêncio:

- “Então, me diga, como se poderia esquecer aquele governo?” 

Aproveitei algumas brechas para falar do anteprojeto do “Fundo de Garantia” e como estávamos articulando o encaminhamento da  proposta de emenda constitucional que pretendia criar a “Procuradoria-Geral de Polícia”, ou seja, por meio dos Delegados Regionais e da “Adpesc”. 

Relatei que se o Vice-Governador Leonel Pavan viesse assumir o governo teríamos a grande oportunidade de sair da “segurança pública” e conquistar nossa autonomia institucional.  Nesse momento, o Delegado Rafael já se fazia presente na sala e lembrei também que no dia anterior o “DRP” Rodrigo Marchetti havia conversado comigo dizendo que Rafael estava bastante preocupado com a sindicância instaurada por representação da Delegada Rosi Serafim.

Procurei acalmar Rafael e fui para a audiência ouvir as policiais Ivonete e Dione. Depois que encerrei os trabalhos correcionais, conversei novamente com o Delegado Rafael e repassei para ele o  anteprojeto do “fundo” e a proposta de “emenda constitucional”.  Apesar de pretender aprofundar o assunto com Rafael pude notar que a preocupação dele era com a sindicância, parecia assustado, além de ter sido instaurado um inquérito policial. Argumentei que ele não precisava se preocupar e que isso era pequeno, o importante era a mensagem que eu havia deixado.

Horário: 15:00 horas:

Estava na Delegacia de Polícia de Navegantes e fui direto conversar com a Delegada Maria de Fátima Ignácio (tia da Delegada Magali e irmã do Delegado aposentado Lauro Ignácio). Depois, pedi a um policial que me levasse até a Pousada do ex-Delegado Carlos Sontag (também Vereador por Ibirama e cabo eleitoral de Julio Teixeira...) que foi demitido em processo disciplinar presidido pelo Delegado Hilton Vieira no ano de 2006 (ato do Governador Luiz Henrique).

Ao chegar no estabelecimento Sontag veio me atender surpreso com minha visita. Eu e Patrícia Angélica nos sentamos num sofá existente na recepção da pousada. Carlos Sontag demonstrava claramente um tremor nas mãos e, a exemplo da Delegada Jane, fumava compulsivamente. Perguntei como era que estava a situação funcional dele que ficou surpreso por eu desconhecer o que lhe aconteceu. Pedi que me relatasse como estava o seu processo:

- “Pensei que tivesse vindo aqui para me trazer alguma novidade. O senhor sabe que aquele Delegado, como é mesmo o nome dele? Desculpe mas eu ando esquecido, acho que é Hilton Vieira, isso mesmo, foi ele que acabou comigo. Ele fez um relatório no final do processo pedindo a minha demissão. Na época ele me via e vinha conversar comigo se fazendo de amigo, mas o pessoal já tinha me advertido para abrir o olho com ele, já tinham me dito que ele era “t.”, já tinham me dito que ele era “f.” ... e eu não me preparei, não sei como é que não fiz uma besteira. Mas o processo foi para o Secretário de Segurança e na Consultoria Jurídica foi dado parecer contra o relatório do Hilton, pedindo que fosse retirada a minha demissão, só que na Casa Civil deram um parecer favorável ao Hilton e contra o parecer da Consultoria Jurídica”.

Interrompi:

- “Sim, mas e o processo criminal?” 

Sontag relatou que foi condenado e a decisão foi confirmada em Brasília, muito embora tivesse sido reduzida sua pena para dois anos anos e pouco, sem perda da função pública.  Em razão disso, Sontag entrou com um mandado de segurança tentando anular o ato de demissão do governador Luiz Henrique, mas acabou não logrando êxito quando do julgamento de mérito. 

Recomendei a Carlos Sontag que quando houvesse um “alinhamento dos astros” ele entrasse com um pedido de revisão.  Lembrei que muitas injustiças foram cometidas contra Delegados e policiais civis. Coloquei-me a disposição para ajudá-lo. Carlos Sontag deu a impressão que viu acender uma luz e eu lembrei:

- “Não esqueça, se o Pavan assumir o governo do Estado, o Maurício acaba sendo o Secretário de Segurança e aí um pedido de revisão pode ser julgado procedente, sendo constituída uma comissão de revisão...”.

Assim terminamos nosso encontro e passei a conversar sobre vinhos com um piloto de helicóptero (“Líder Táxi Aéreo”), cliente daquela pousada.

À noite, já em Joinville, Patrícia Angélica foi se hospedar no Hotel Avenida e eu no “Trocadeiro”. Pensei em telefonar para Marilisa a fim de marcarmos um encontro, mas achei melhor não conversar com ninguém, optando por ficar recolhido na minha solidão institucional.