CDLXVI – “GOVERNADOR LEONEL PAVAN: CHANCE DE OURO PARA ALAVANCAR PROJETOS OU AO COMBATE CONTRA MOINHOS DE VENTO?”
Publicado em 19 de junho de 2018 por Felipe Genovez
PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 15.08.2007, horário: 11:40 horas:
Estava na Delegacia Regional de Rio do Sul. Fui inicialmente até o gabinete do Delegado Regional Roberto Schusle e fui informado que ele somente chegaria na parte da tarde. Lamentei em silêncio e resolvi ir até a Delegacia da Mulher (que funcionava no mesmo prédio) ver se a Delegada Karla Bastos já se encontrava naquela repartição. Logo que cheguei resolvi ir adentrando sem pedir licença, apenas perguntei para uma policial da recepção se a titular da “DP” estava na sua sala. Como a porta do gabinete estava aberta e ela se encontrava sentada de costas, falando ao telefone, resolvi entrar sem pedir licença e me sentei sem ser notado.
Passado não mais do que dez segundos bati com a chave da viatura em cima da mesa e ela assustada se virou quase tendo um “tremelique” quando me viu na sua frente. Imediatamente Karla encerrou a ligação, dando a impressão que estava surpresa com minha visita. À direita, num mural junto à parede pude visualizar mais de uma dezena de fotos onde Karla aparecia junto com artistas como Ivete Sangalo, Daniel, Zezé de Camargo e tantos outros. Olhei para Karla e ela fazia um estilo “sertanejo universitário”, moderninha nos trajes..., demonstrando ser vaidosa e ter bom gosto, o que me fez lembrar – guardadas as devidas proporções – a Delegada Marilisa. Sim, porque as duas tinham bastante pontos em comum, e me perguntei se elas poderiam ser ótimas amigas? Não saberia responder porque os polos iguais poderiam se repelir? Elas faziam o mesmo estilo, tinham mais ou menos a mesma idade... A diferença, claro, era que Karla parecia bem resolvida no plano pessoal e profissional, era mais cabeça, centrada... já Marilisa era mais sensibilidade, espiritualidade, sim, poderia dizer que uma era mais “razão e paixão” e a outra é mais “emoção e sentimento”, mas tudo permeado por uma inteligência emocional e instinto de sobrevivência aflorando a pele. Outra diferença era que Karla dava a impressão que “amava” sua profissão, tanto que seu marido e seu filho eram também policiais. Já Marilisa era mais uma sobrevivente que teve que se reinventar, superar muitos desafios nos planos pessoais e profissionais ao longo dos anos como Delegada.
A seguir, Karla pediu licença para chamar uma policial que queria muito me conhecer. Fiquei curioso e ela explicou que na minha última visita essa policial soube que eu estive na DRP e lamentou não ter me conhecido pessoalmente porque há uns anos atrás ele precisou de mim numa consulta e eu fiz meu dever de casa, marcando bastante em razão da minha preocupação e auxiliá-la...
Enquanto tínhamos tempo para conversar pedi licença e fui até o seu computador e injetei meu “pendrive” na USB e pedi que ela mesmo abrisse um arquivo onde estava o anteprojeto do “Fundo de Garantia”. Depois de imprimir o material pedi para que Karla fizesse a leitura do documento e ela meio que surpresa, foi dizendo:
- “Mas eu não sabia disso? Acabei de conversar com a Sonéa no telefone, ela estava me agradecendo a força que eu dei no caso da nossa ‘PEC’ que está lá em Brasília. Ela pediu que eu entrasse em contato com o Décio Lima (Deputado Federal) e eu acionei a Ana Paula (Deputado Estadual), sabe como é que é, a gente tem amizade e nessas horas... Mas eu não sabia que a PM conseguiu aprovar isso para eles...”.
Interrompi:
- “Sim, ninguém sabe, a gente é que está conversando com o pessoal...”.
Em seguida chegou no gabinete o filho da Delegada Karla que ficou alguns instantes. Parecia iniciante, um pouco verde e tinha muito que aprender na profissão. Depois que seu filho nos deixou pedi para que Karla conversasse com o Delegado Regional Roberto e com os demais colegas para que tomassem conhecimento do nosso anteprojeto. Karla ainda lembrou que tinha consigo o outro projeto que tratava da criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”. Argumentei que aquela proposta de emenda constitucional era para o momento em que o Vice-Governador Pavan viesse assumir o governo do Estado, quando teríamos uma “chance de ouro” de conseguir aprovar um projeto de importância institucional. Karla deu a impressão que concordava com tudo que eu disse, inclusive, que já havia requerido sua aposentadoria. Em seguida, argumentei:
- “Bom, com esse projeto aí eu acho que agora tu vais segurar um pouco esse teu requerimento, não vais?”
Karla apenas deixou escapar um sorriso. Em seguida chegou o Delegado Izomar e eu e Karla repassamos as informações sobre a proposta do “Fundo de Garantia”, baseado na legislação que beneficiou a ‘PM’. Izomar se mostrou surpreso, dizendo que não sabia de nada. Depois de ler o anteprojeto e a justificativa acabou ficando num misto de entusiasmo e lamentação da letargia de nossas lideranças. Em seguida, também, chegou o Delegado Luiz Carlos Gonçalves que se somou a nós e se inteirou da proposta do “fundo”. Luiz foi dizendo que não sabia de nada e não conseguia entender bem o que era o tal anteprojeto do “fundo”. Logo que entendeu a proposta pedi que fizessem uma reflexão sobre o assunto, mas que não fizessem menção ao meu nome.
Recomendei que dissessem que tomaram conhecimento do anteprojeto por meio da internet e que o objetivo era pressionar a presidente da Adpesc e a direção da Polícia Civil a fazer a nossa proposta tramitar. Lembrei que o Secretário Ronaldo Benedet havia reclamado que os Delegados não apresentam projeto nenhum para ele, o que era um absurdo. Também, quando Karla narrou o telefonema que recebeu da Delegada Sonéa, aproveitei para lançar uma crítica:
- “Não adianta o pessoal da Adpesc estar preocupado com o ‘Papa’, com Brasília, com ‘Pecs’ e aqui no Estado empurram tudo para debaixo do tapete. É um jogo de cena, não querem entrar em confronto com o governo e, enquanto isso, ficamos totalmente amordaçados. Lamentavelmente, o esposo da Sonéa, nossa presidente, é o Secretário Adjunto...”.
O Delegado Izomar acabou mostrando que tinha uma visão bastante crítica do que estava acontecendo e chegou a mencionar que na verdade quem comandava a “Adpesc” não era a Delegada Sonéa, mas, sim, o seu esposo... O Delegado Luiz Carlos Gonçalves também aproveitou para lembrar que os Delegados não tinham outro caminho a não ser cair fora da Segurança Pública, criar um novo órgão diretamente vinculado ao gabinete do Governador do Estado. Depois disso o Delegado Izomar se despediu e Luiz e Karla fizeram um relato enaltecendo a Juíza de Direito de Rio do Sul que tinha se revelado uma grande amiga da Polícia Civil. Luiz e Karla chegaram a relatar que a disputa sobre a lavratura de termos circunstanciados chegou até o Forum e que o Ministério Público quis dar guarida para a PM, mas a Juíza não aceitou e isso criou um problema sério. Luiz lembrou que Oficiais da PM de Rio do Sul, numa conduta ridícula, buscavam aproximação com os Promotores de Justiça da comarca e passavam a ser subservientes, fazendo-se de úteis..., acabavam pegando Promotores Substitutos menos desavisados, inseguros... que ficavam reféns deles que passam a levar informações, fazer pedidos, bajulações..., o que se constituía uma atitude ilegal que beirava afronta, hipocrisia... Aproveitei para fazer uma reflexão:
- “Eu acho que a gente tem que buscar uma boa aproximação com os Promotores e com os próprios Oficiais da PM. Existe uma visão de que os Juízes têm uma maior afinidade com os Delegados, com a Polícia Civil e os Promotores com a PM, então fica uma situação bastante indigesta...”.
Encerramos a conversa com o compromisso de que eles levassem o assunto ao conhecimento dos demais Delegados da região e a partir daí exercessem uma pressão sobre a Adpesc e na cúpula da instituição.
Horário: 16:00 horas:
Estava na “DRP” de Blumenau e fui direto para o gabinete do Delegado Rodrigo Marchetti que estava me aguardando. Depois dos cumprimentos habituais, pedi para que o mesmo abrisse o meu “pendrive” no seu computador e imprimisse o anteprojeto do “fundo de garantia”. Pedi que Rodrigo desse uma olhada na proposta, dando a impressão que ficou surpreso e foi avisando que não sabia que a PM tinha conseguido aprovar um “fundo”. Rodrigo chegou a me questionar:
- “Mas tu tens certeza que a PM já conseguiu aprovar isso?”
Pedi que ele abrisse o sítio da Alesc e fosse ver o item “legislação”... Rodrigo, demonstrando versatilidade com a máquina, foi direto até a Lei Complementar n. 378/07. Recomendei que ele mantivesse meu nome fora do assunto e dissesse para seus subordinados que conseguiu o material na Internet. Rodrigo de imediato me disse:
- “Vou espalhar isso para toda a rede”.
Interrompi:
- “Acho que tu não deves fazer isso. Olha bem, a PM aprovou isso em silêncio, sem chamar a atenção, então eu acho que nós devemos fazer o mesmo, devemos fazer um trabalho inteligente e silencioso...”.
Rodrigo ouviu atentamente e com raciocínio rápido deu a impressão que entendeu minha mensagem, comprometendo-se a levar o assunto adiante. Depois disso, chegou o Delegado Paulo Koerich de Gaspar e nos cumprimentamos. Paulo e Rodrigo falaram sobre uma matéria que saiu no jornal Santa Catarina daquele dia e que tratava de uma apreensão de várias máquinas caça-níqueis em Blumenau, cuja operação coube a PM. Rodrigo estava indignado porque parecia que houve críticas à omissão da Polícia Civil. Antes de me dirigir para audiência com a Delegada Rose Serafim fiquei meditando: “Esse Rodrigo Marchetti é uma pessoa que poderá ainda incomodar muito. É político, esperto, rápido, habilidoso, centralizador... e passa por cima de quem se colocar na sua frente. Rodrigo pediu que eu desse uma olhada com carinho no embate entre a Delegada Rosi e o Delegado Rafael, em especial, quanto a este último que estava muito preocupado.
À noite, em Balneário Camboriú, fui consultar o meu “Gmail” e verifiquei que os e-mails que mandei para Marilisa não chegaram no seu endereço ([email protected]) e muito embora tivesse mandado um torpedo em seu celular dizendo que tinha mandado o material até aquele momento ela não deu um retorno demonstrando preocupação por não ter recebido o anteprojeto, o que demonstra que talvez não estivesse muito preocupada com o assunto, ou que tinha coisas mais importantes para se ocupar, ou que minhas preocupações, projetos, sonhos, ideais não tivessem a devida importância?. Mas isso tudo era Marilisa, quando presente dava a impressão de profundidade, profusão de sentimentos..., mas depois, tudo se dissipava e o que passou perdia densidade... Lembrei quando ela desdenhou os ricos, dizendo para mim que quem quiser ficar rico, ter patrimônio que viva as suas loucuras e que ela não estava nem aí... Tudo bem, até concordava com aquela sua visão, mas a questão era que poderia se aplicar a muitas outras coisas, não só à riqueza... Não sei se isso poderia ser definido como uma recaída minha, mas essa indiferença, distanciamento, frieza me deixava mal e poderia revelar uma Marilisa bem diferente, o que acabava por revelar como estávamos distantes, e como éramos diferentes. Sim, a exemplo de Karla, jamais conseguiríamos somar nossos esforços para causas tão relevantes. Lembrei que na quinta-feira à noite estaria em Joinville e daria uma passada na sexta-feira por sua casa... Quanto ao Delegado Alves, bom, Alves era só “amor”, totalmente apaixonada por sua nova mulher, e meus amigos simplesmente não existiam, tampouco para combater “moinhos de vento”.