PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 15.08.2007, horário: 11:40 horas:

Estava na Delegacia Regional de Rio do Sul. Fui inicialmente até o gabinete do Delegado Regional Roberto Schusle e fui informado que ele somente chegaria na parte da tarde. Lamentei em silêncio e resolvi ir até a Delegacia da Mulher (que funcionava no mesmo prédio) ver se a Delegada Karla Bastos já se encontrava naquela repartição.  Logo que cheguei resolvi ir adentrando sem pedir licença, apenas perguntei para uma policial da recepção se a titular da “DP” estava na sua sala. Como a porta do gabinete estava aberta e ela se encontrava sentada de costas, falando ao telefone, resolvi entrar sem pedir licença e me sentei sem ser notado.

Passado não mais do que dez segundos bati com a chave da viatura em cima da mesa e ela assustada se virou quase tendo um “tremelique” quando me viu na sua frente. Imediatamente Karla encerrou a ligação, dando a impressão que estava surpresa com minha visita. À direita, num mural junto à parede pude visualizar mais de uma dezena de fotos onde Karla aparecia junto com artistas como Ivete Sangalo, Daniel, Zezé de Camargo e tantos outros. Olhei para Karla e ela fazia um estilo “sertanejo universitário”, moderninha nos trajes..., demonstrando ser vaidosa e ter bom gosto, o que me fez lembrar – guardadas as devidas proporções – a Delegada Marilisa. Sim, porque as duas tinham bastante pontos em comum, e me perguntei se elas poderiam ser ótimas amigas? Não saberia responder porque os polos iguais poderiam se repelir? Elas faziam o mesmo estilo, tinham mais ou menos a mesma idade... A diferença, claro, era que Karla parecia bem resolvida no plano pessoal e profissional, era mais cabeça, centrada... já Marilisa era mais sensibilidade, espiritualidade, sim, poderia  dizer que uma era mais “razão e paixão” e a outra é mais “emoção e sentimento”, mas tudo permeado por uma inteligência emocional e instinto de sobrevivência aflorando a pele. Outra diferença era que Karla dava a impressão que “amava” sua profissão, tanto que seu marido e seu filho eram também policiais. Já Marilisa era mais uma sobrevivente que teve que se reinventar, superar muitos desafios nos planos pessoais e profissionais ao longo dos anos como Delegada.

A seguir, Karla pediu licença para chamar uma policial que queria muito me conhecer. Fiquei curioso e ela explicou que na minha última visita essa policial soube que eu estive na DRP e lamentou não ter me conhecido pessoalmente porque há uns anos atrás ele precisou de mim numa consulta e eu fiz meu dever de casa, marcando bastante em razão da minha preocupação e auxiliá-la...

Enquanto tínhamos tempo para conversar pedi licença e fui até o seu computador e injetei meu “pendrive” na USB e pedi que ela mesmo abrisse um arquivo onde estava o anteprojeto do “Fundo de Garantia”. Depois de imprimir o material pedi para que Karla fizesse a leitura do documento e ela meio que surpresa, foi dizendo:

- “Mas eu não sabia disso? Acabei de conversar com a Sonéa no telefone, ela estava me agradecendo a força que eu dei no caso da nossa ‘PEC’ que está lá em Brasília. Ela pediu que eu entrasse em contato com o Décio Lima (Deputado Federal) e eu acionei a Ana Paula (Deputado Estadual), sabe como é que é, a gente tem amizade e nessas horas... Mas eu não sabia que a PM conseguiu aprovar isso para eles...”.

Interrompi:

- “Sim, ninguém sabe, a gente é que está conversando com o pessoal...”. 

Em seguida chegou no gabinete o filho da Delegada Karla que ficou alguns instantes. Parecia iniciante, um pouco verde e tinha muito que aprender na profissão. Depois que seu filho nos deixou pedi para que Karla conversasse com o Delegado Regional Roberto e com os demais colegas para que tomassem conhecimento do nosso anteprojeto. Karla ainda lembrou que tinha consigo o outro projeto que tratava da criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”. Argumentei que aquela proposta de emenda constitucional era para o momento em que o Vice-Governador Pavan viesse assumir o governo do Estado, quando teríamos uma “chance de ouro” de conseguir aprovar um projeto de importância institucional. Karla deu a impressão que concordava com tudo que eu disse, inclusive, que já havia requerido sua aposentadoria. Em seguida, argumentei:

- “Bom, com esse projeto aí eu acho que agora tu vais segurar um pouco esse teu requerimento, não vais?”

Karla apenas deixou escapar um sorriso. Em seguida chegou o Delegado Izomar e eu e Karla repassamos as informações sobre a proposta do “Fundo de Garantia”, baseado na legislação que beneficiou a ‘PM’. Izomar se mostrou surpreso, dizendo que não sabia de nada. Depois de ler o anteprojeto e a justificativa acabou ficando num misto de entusiasmo e lamentação da letargia de nossas lideranças.  Em seguida, também, chegou o Delegado Luiz Carlos Gonçalves que se somou a nós e se inteirou da proposta do “fundo”. Luiz foi dizendo que não sabia de nada e não conseguia entender bem o que era o tal anteprojeto do “fundo”.  Logo que entendeu a proposta pedi que fizessem uma reflexão sobre o assunto, mas que não fizessem menção ao meu nome.

Recomendei que dissessem que tomaram conhecimento do anteprojeto por meio da internet e que o objetivo era pressionar a presidente da Adpesc e a direção da Polícia Civil a fazer a nossa proposta tramitar. Lembrei que o Secretário Ronaldo Benedet havia reclamado que os Delegados não apresentam projeto nenhum para ele, o que era um absurdo.  Também, quando Karla narrou o telefonema que recebeu da Delegada Sonéa, aproveitei para lançar uma crítica:

- “Não adianta o pessoal da Adpesc estar preocupado com o ‘Papa’, com Brasília, com ‘Pecs’ e aqui no Estado empurram tudo para debaixo do tapete. É um jogo de cena, não querem entrar em confronto com o governo e, enquanto isso, ficamos totalmente amordaçados. Lamentavelmente, o esposo da Sonéa, nossa presidente, é o Secretário Adjunto...”.

O Delegado Izomar acabou mostrando que tinha uma visão bastante crítica do que estava acontecendo e chegou a mencionar que na verdade quem comandava a “Adpesc” não era a Delegada Sonéa, mas, sim, o seu esposo... O Delegado Luiz Carlos Gonçalves também aproveitou para lembrar que os Delegados não tinham outro caminho a não ser cair fora da Segurança Pública, criar um novo órgão diretamente vinculado ao gabinete do Governador do Estado.  Depois disso o Delegado Izomar se despediu e Luiz e Karla fizeram um relato enaltecendo a Juíza de Direito de Rio do Sul que tinha se revelado uma grande amiga da Polícia Civil. Luiz e Karla chegaram a relatar que a disputa sobre a lavratura  de termos circunstanciados chegou até o Forum e que o Ministério Público quis dar guarida para a PM, mas a Juíza não aceitou e isso criou um problema sério. Luiz lembrou que Oficiais da PM de Rio do Sul, numa conduta ridícula,  buscavam aproximação com os Promotores de Justiça da comarca e passavam a ser subservientes, fazendo-se de úteis..., acabavam pegando Promotores Substitutos menos desavisados, inseguros... que ficavam reféns deles que passam a levar informações, fazer pedidos, bajulações...,  o que se constituía uma atitude ilegal que beirava afronta, hipocrisia... Aproveitei para fazer uma reflexão: 

- “Eu acho que a gente tem que buscar uma boa aproximação com os Promotores e com os próprios Oficiais da PM. Existe uma visão de que os Juízes têm uma maior afinidade com os Delegados, com a Polícia Civil e os Promotores com a PM, então fica uma situação bastante indigesta...”.  

Encerramos a conversa com o compromisso de que eles levassem o assunto ao conhecimento dos demais Delegados da região e a partir daí exercessem uma pressão sobre a Adpesc e na cúpula da instituição.

Horário: 16:00 horas:

Estava na “DRP” de Blumenau e fui direto para o gabinete do Delegado Rodrigo Marchetti que estava me aguardando.  Depois dos cumprimentos habituais, pedi para que o mesmo abrisse o meu “pendrive” no seu computador e imprimisse o anteprojeto do “fundo de garantia”. Pedi que Rodrigo desse uma olhada na proposta, dando a impressão que ficou surpreso e foi avisando que não sabia que a PM tinha conseguido aprovar um “fundo”.  Rodrigo chegou a me questionar:

- “Mas tu tens certeza que a PM já conseguiu aprovar isso?”

Pedi que ele abrisse o sítio da Alesc e fosse ver o item “legislação”... Rodrigo, demonstrando versatilidade com a máquina, foi direto até a Lei Complementar n. 378/07. Recomendei que ele mantivesse meu nome fora do assunto e dissesse para seus subordinados que conseguiu o material na Internet. Rodrigo de imediato me disse:

- “Vou espalhar isso para toda a rede”.

Interrompi:

- “Acho que tu não deves fazer isso. Olha bem, a PM aprovou isso em silêncio, sem chamar a atenção, então eu acho que nós devemos fazer o mesmo, devemos fazer um trabalho inteligente e silencioso...”.

Rodrigo ouviu atentamente e com raciocínio rápido deu a impressão que entendeu minha mensagem, comprometendo-se a levar o assunto adiante. Depois disso, chegou o Delegado Paulo Koerich de Gaspar e nos cumprimentamos. Paulo e Rodrigo falaram sobre uma matéria que saiu no jornal Santa Catarina daquele dia e que tratava de uma apreensão de várias máquinas caça-níqueis em Blumenau, cuja operação coube a PM. Rodrigo estava indignado porque parecia que houve críticas à omissão da Polícia Civil.  Antes de me dirigir para audiência  com a Delegada Rose Serafim fiquei meditando: “Esse Rodrigo Marchetti é uma pessoa que poderá ainda  incomodar muito. É político, esperto, rápido, habilidoso, centralizador... e passa por cima de quem se colocar na sua frente. Rodrigo pediu que eu desse uma olhada com carinho no embate entre a Delegada Rosi e o Delegado Rafael, em especial, quanto a este último que estava muito preocupado.

À noite, em Balneário Camboriú, fui consultar o meu “Gmail” e verifiquei que os e-mails que mandei para Marilisa não chegaram no seu endereço ([email protected]) e muito embora tivesse mandado um torpedo em seu celular dizendo que tinha mandado o material até aquele momento ela não deu um retorno demonstrando preocupação por não ter recebido o anteprojeto, o que demonstra que talvez não estivesse muito preocupada com o assunto, ou que tinha coisas mais importantes para se ocupar, ou que minhas preocupações, projetos, sonhos, ideais não tivessem a devida importância?. Mas isso tudo era Marilisa, quando presente dava a impressão de profundidade, profusão de sentimentos..., mas depois, tudo se dissipava e o que passou perdia densidade... Lembrei quando ela desdenhou os ricos, dizendo para mim que quem quiser ficar rico, ter patrimônio que viva as suas loucuras e que ela não estava nem aí...  Tudo bem, até concordava com aquela sua visão, mas a questão era que poderia se aplicar a muitas outras coisas, não só à riqueza...  Não sei se isso poderia ser definido como uma recaída minha, mas essa indiferença, distanciamento, frieza me deixava mal e poderia revelar uma Marilisa bem diferente, o que acabava por revelar como estávamos distantes, e como éramos diferentes. Sim, a exemplo de Karla, jamais conseguiríamos somar nossos esforços para causas tão relevantes.  Lembrei que na quinta-feira à noite estaria em Joinville e daria uma passada na sexta-feira por sua casa... Quanto ao Delegado Alves, bom, Alves era só “amor”, totalmente apaixonada por sua nova mulher, e meus amigos simplesmente não existiam, tampouco para combater “moinhos de vento”.