CASAMENTO NO SÉCULO XXI: Novos tempos, novos arranjos e novos significados

Produzido em junho de 2020 e postado-divulgado em junho de 2020 em Santa Maria do Uruará

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

 

Para muitas pessoas falar em casamento, nesta vida conjugal a dois, é tão natural como tomar água todos os dias, assim como faz parte da roda de conversa quase que diária de grupos específicos, como das “sonhadoras com o príncipe encantado” ou dos caçadores da velha e boa frase “felizes para sempre na saúde e na doença”, ou ainda aquela mais esdrúxula que convenhamos, não muito ética: “até que a morte os separe”.

Prometer “amor eterno” se tornou tão natural, levando em consideração apenas as palavras e não os sentimentos, se tornou tão natural nos dias atuais, que se deve desconfiar quais são realmente os objetivos encrustados nestas falas. Pois, sonhos, fantasias e utopias podem e devem existir, em maior ou menor magnitude, mas que não possa ultrapassar a estupidez para alcançar através do outro aquilo que pouco provável conseguiria numa “carreira solo”.

Hoje, casais dos anos 70, 80 e até 90, estão juntos, o que se leva a pensar várias razões e motivos para que esta “afinidade amorosa” continue em pé. Pois, sabe-se que o amor é “temporal”, a paixão pode ser contínua, e o costume pode ser para sempre. Neste último caso, pode ser ele, o fator principal de muitos casais estarem por décadas juntos, independente dos problemas, vicissitudes e imbróglios enfrentados nas fases e etapas de convivência; pois o “acostumar”, este familiarizar-se pelo contato habitual, é uma proposta mais ativa e eficiente de promover a interação entre duas pessoas, do que prometer mundos e fundos, inclusive no que concerne ao lado emocional afetivo.

Observando a sociedade em qual hoje estou inserido, durante mais de duas décadas, inclusive naqueles que cresceram e foram meus discentes, deu para perceber através da observação quais comportamentos e atitudes levam a esta aproximação, e quais interesses estão no bojo de um relacionamento que de uma hora promove esta ligação marital, e alguns casos, extremamente significativas para a construção das entidades sociais.

No entanto, conceituar casamento ou que seja “união estável, fica muito difícil, pois envolve inúmeros aspectos, fatores, ações e outras situações que levam há muitos caminhos de definição própria do que é o seu verdadeiro significado. Mas, no caso aqui específico, poderia significar “a união-ação de dois indivíduos humanos por aproximação emocional e temporal, na qual tem em tese vários significados e objetivos, entre eles os de convivência plena, harmoniosa e compreendida entre o viver a dois, se inter-relacionar com os demais, e caso for, produzir de acordo com as vontades e as circunstâncias da sociedade na qual estão inseridos”.

Assim, neste contexto de união e vivência tem os paradigmas que constituem-se de promessas, as quais não significam necessariamente serem verdadeiras, pois, de uma parte ou de outra, haverá restrições, onde ou um ou outro não poderá adentrar nesta particularidade tão “especial” para uns; como sabemos, mesmo os mais próximos de nós, existem aqueles que desenvolvem certas atitudes de restrição ao outro, ou ainda que pelas suas particularidades não deixam que sejam compartilhados certos elementos que compõem o “eu” único do ser... este ser inconsciente ou particular existente dentro de cada um de nós.

Não adianta querer se aproximar ou encontrar a pessoa dos “seus sonhos” com objetivo específico de conquistar meus objetivos, como a aquisição do carro, da casa sonhada, dos filhos esperados, da profissão almejada, da viagem maravilhosa, da melhoria da minha condição financeira, pois se deve entender que, casamento envolve muito mais que estas coisas ditas passageiras, pois até mesmo os filhos, com o passar do tempo se vão “como navios que precisam abastecer e partir para outros portos mais seguros”.

Muitas pessoas se aproximam umas das outras, às vezes com o intuito claro de se utilizar de algumas prerrogativas existentes, por exemplo, a condição financeira, a sua influência, o carisma na sociedade, o status, a profissão, o reconhecimento social, a origem familiar, e outros aspectos que ultrapassam o físico, o emotivo e o comportamental. E com isto, no intuito de se promover demasiadamente, deixando para o segundo plano aquilo que deveria vim em primeiro, que são os afetivos-emocionais.

Atualmente, casais não buscam mais 8 ou 10 filhos, como anteriormente, mas no máximo 2, sabendo que os tempos mudaram, as condições sociais se transformaram, as relações inter-pessoais se modificaram, um conjunto de coisas e situações ficaram muito flexíveis em comparação com as gerações anteriores. Em muitos casos, a aproximação pelos aspectos físicos, ficaram para trás. Em muitos casos o que importa é “um porto seguro”, o qual dê todas as possibilidades e perspectivas futuras “até que a morte os separe”!

Quando se fala na constituição de casal, pode-se observar, hoje, um processo muito dinâmico e claro, flexível no que diz respeito ao tempo de duração de convivência e relação a dois. Pois, os casais na sociedade atual, não estão assegurados significativamente em membros do sexo oposto, mas muitas vezes o contrário, o que vem ganhando espaço nas últimas décadas. E quanto ao tempo de duração de convívio, é notório salientar que, muitos casais afirmam seus compromissos por um período temporário, já desde o início, onde fazem “acordos matrimoniais” elencando prazo de vivência e direitos, assim como deveres diversos um para com o outro; renovando em muitos casos depois de expirar o prazo.

Casamentos tradicionais, de vida perpétua, só dos reis, mas daqueles em que dogmas, princípios morais e códigos de conduta tradicionais ainda são vigentes. Quanto ao restante do mundo, a palavra é flexibilidade de relação, onde muitas vezes trazem em seu contexto prejuízos enormes para algumas das partes, principalmente na sociedade dita ocidental, onde as relações são mais dinâmicas, seguindo alguns princípios não muito rigorosos. Até porque, os meios “influenciadores” da atual sociedade interfere diretamente no lado comportamental de seus constituintes.

Vale ressaltar que, fraqueza emocional, bebida, falta de amparo emotivo, e outros fatores intervenientes nem tanto convencionais são alguns de muitos motivos que aproximam alguns indivíduos, e consequentemente, promovem uma relação temporal-proximal e não uma emocional-afetiva, trazendo em seu bojo um conjunto de deficiências de interação e convivência, com grande possibilidade de ampliar as circunstâncias e consequências, implicando com isto um desmoronamento mais rápido.

Quando, anteriormente, falou-se em “costume” na relação, como um aspecto que pode em certas situações, permitir uma ação mais duradoura da relação conjugal; percebe-se que, ele não só se manifesta por uma das partes, mas sim pelas necessidades dos dois componentes da relação marital, onde as deficiências de um ou as necessidades do outro devem ser suprimidas com esta convivência diária e contínua, mesmo que nesta aproximação não haja amor, paixão, consideração. São situações, que variam muito, que vai desde o modo de se comportar dentro do lar, passando de como se comunica um com o outro, ou ainda do “feromônio” exalado por um dos integrantes. Ou ainda, como se veste, o tempero do alimento, a roupa lavada, o cuidar da residência; uma série de coisas que se desencadeiam, e que, em prática estão muito mais daquilo que conhecemos por sentimento “aproximador dos corações”: amor e paixão.

Em conclusão, independentemente da formação para a vivência a dois, se faz necessário que se precisa entender as diversas razões para a composição deste núcleo social, o que qual tem inúmeros papeis e interferências na sociedade a qual está alocada, como por exemplo, o crescimento populacional (filhos), construção do progresso (fomentação da economia), circulação de numerários (condições financeiras), desenvolvimento colaborativo com a sociedade local (inter-relações pessoais) e outras que promovem mais do que a vida a dois, mas sim, cooperando de forma coletiva, num somatório em função do progresso social.

Assim, assinalamos que convivência, inter-relação e interação marital está relacionado com os verbos escolher e aceitar. Pois, o primeiro remete a questão de aproximação casual, sem levar em conta alguns pormenores presentes na outra parte; já no segundo, relaciona-se com consentir se se adequa aos comportamentos, virtudes, atitudes e hábitos do outro ou se suprime ou soma de acordo com suas “qualidades” e características pessoais. Mas, que cada um faça do bom viver, a sua marca de integração das melhores situações e atos na condução para a somatória dos processos, aspectos e fatores intervenientes da cooperação mútua entre dois agentes ou pessoas.

 

[1] Professor efetivo da rede pública de ensino de Prainha- Pará.

Mestrando em Educação (Formação de Professores) UNINI – FUNIBER 2020.