O mercado formal de trabalho brasileiro registrou em maio saldo líquido (diferença entre admissões e dispensas) de 131.557 postos, o melhor desempenho mensal de 2009. Também foi o quarto mês consecutivo de crescimento do número de trabalhadores com carteira assinada. Pela primeira vez desde o agravamento da crise no fim do ano passado, o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi positivo em todos os setores da economia e em todas as regiões do país.

No entanto, foi o pior maio dos últimos dez anos. No mesmo mês do ano passado, o Caged havia registrado 202,9 mil novos empregos formais.

Houve aumento do emprego com carteira assinada em todas as regiões do país, com destaque para o Sudeste, que registrou resultado positivo de 100.020 postos. São Paulo liderou o ranking das contratações com 44.521. No Rio, foram 7.920.

O nível do emprego subiu nas regiões metropolitanas, que responderam por 34.202 contratações líquidas. Porém, as maiores oportunidades de trabalho foram no interior dessas regiões e no restante do país, onde o agronegócio é mais forte.

De janeiro a maio, o Caged acumula 180 mil novos postos formais, número que ainda está longe de repor as quase 800 mil vagas fechadas no País entre novembro de 2008 e janeiro deste ano. E bem abaixo do 1,051 milhão de empregos criados no mesmo período do ano passado.

Em maio, a geração de empregos formais voltou a aumentar, mas continuou muito inferior à que vinha sendo observada até setembro do ano passado, sobretudo devido à evolução do emprego industrial. Foi o quinto mês consecutivo de melhora do emprego formal, depois do resultado desastroso de dezembro de 2008 (quando foram fechados 655 mil postos de trabalho, o resultado mais negativo já registrado pelo Caged, cuja apuração começou em 1992).

Para avaliar de maneira mais precisa a situação do mercado de trabalho, é importante levar em conta que as contratações e as demissões costumam oscilar conforme a época do ano, em função das flutuações das vendas e da produção. Realizando o ajustamento sazonal dos dados do Caged, o retrato do que ocorreu nos últimos meses muda um pouco -e a importância do resultado de maio fica mais clara.

Devido a fatores sazonais, como o plantio da cana-de-açúcar e café no Centro-Sul do país, a agricultura foi o setor que mais puxou os empregos no mês passado, tendo sido responsável por 52.927 postos. Em segundo lugar, aparece o segmento de serviços, com 44.029, seguido pela construção civil (17.407) e o comércio (14.606).

O setor agropecuário foi o que teve melhor desempenho no mês passado, abrindo 52,9 mil novos postos, mas por motivos sazonais. É que continuou em maio o ciclo de várias culturas agrícolas iniciado em abril, como a do café e a da cana-de-açúcar. O setor de serviços também foi destaque, com a contratação de 44 mil empregados a mais que os demitidos. Puxado pelo Dia das Mães, a segunda melhor data de vendas, o comércio abriu 14,6 mil vagas.

Os dados ajustados revelam que entre janeiro e setembro de 2008 a geração líquida de empregos formais alcançava, em média, 180 mil por mês, o ritmo mais forte já observado. A partir de outubro, houve inflexão drástica, associada à queda súbita da confiança e ao travamento global do crédito, que levou em apenas três meses à débâcle de dezembro. A partir de janeiro, teve início uma recuperação, mas de março para abril a retomada das contratações sofreu uma preocupante interrupção. Em maio, por fim, a criação de empregos voltou a aumentar de maneira nítida, reforçando a perspectiva de que a recuperação do emprego formal terá continuidade.

A indústria foi o setor da economia que liderou a piora do mercado de trabalho no final de 2008 e é também aquele no qual as contratações têm se recuperado mais lentamente. Esse comportamento está ligado ao fato de que ela sofre mais do que os demais setores com a queda das exportações e os cortes de produção feitos visando permitir uma redução dos estoques. O ajustamento de estoques avançou bastante na maioria dos segmentos da indústria nos últimos meses, mas sobretudo no segmento de bens de capital ele parece ainda não ter se completado -o que poderá manter lenta, ainda por alguns meses, a recuperação do emprego industrial.
 
A análise por região
Pela primeira vez neste ano, todas as regiões do país tiveram criação de postos de trabalho com carteira assinada. São Paulo foi o Estado que registrou o maior número de contratações, somando 44,5 mil novos funcionários formalizados.

No acumulado do ano, surgiram 112 mil empregos formais em São Paulo, também o maior número de contratações entre os Estados do país.

No mês passado, o segundo Estado que mais contratou foi Minas Gerais, com 37,5 mil. O Paraná aparece em terceiro lugar, com 11.682 novos postos.

O setor de serviços foi o que mais puxou o emprego em São Paulo, com a geração de 17,8 mil postos. Em seguida, a atividade agropecuária no Estado contratou 16,9 mil empregados com carteira assinada.

Apesar de todas as regiões terem gerado empregos em maio, nove Estados tiveram mais demissões que contratações: Alagoas, Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os outros 17 Estados e o Distrito Federal geraram empregos com carteira assinada no mês passado.

Entre as regiões metropolitanas, só Belém teve fechamento de postos, com 324 demissões a mais do que contratações. Na região metropolitana de São Paulo, foram criados 13 mil empregos formais, em Belo Horizonte foram 4.897, e, no Rio de Janeiro, 4.623.

Em decorrência do comportamento da atividade agrícola, houve abertura de mais vagas nas cidades do interior do País do que nas regiões metropolitanas. No interior, foram 79,3 mil novos empregos formais contra 34,3 mil postos no conjunto das regiões metropolitanas. O melhor resultado foi em Minas Gerais (32,6 mil). O pior foi no interior do Rio Grande do Sul, com 5.623 cortes.
 
Recuperação da crise
Apesar da melhora, o país ainda não conseguiu recuperar todos os postos de trabalho formais eliminados pela turbulência internacional.

País só recuperou parte das vagas fechadas com a crise Do total de 797.515 empregos fechados entre novembro e janeiro, foram recuperadas nos quatro meses subsequentes 281.759 vagas. Em maio de 2008, haviam sido criados 202.984 postos de trabalho.

No acumulado deste ano, o saldo é positivo em 180 mil empregos, segundo o Caged.

A situação da indústria
Apesar do desempenho do emprego formal em maio, ainda não foi desta vez que a indústria de transformação inverteu o quadro de demissões provocado pela crise. O setor ficou praticamente estável no período, com saldo positivo de 700 contratações.
 
Dois ramos da indústria de transformação, o metalúrgico e a mecânico, causam maior preocupação ao governo em relação à sua capacidade de reação à crise financeira e de geração de empregos. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de maio, a indústria metalúrgica demitiu 5,5 mil mais do que contratou, enquanto a mecânica teve saldo negativo de 2,9 mil.

A equipe econômica do governo deverá discutir esta semana medidas de estímulo ao setor de bens de capital, onde se inclui a fabricação de máquinas e equipamentos. Indiretamente, essas ações podem ajudar a metalurgia e a mecânica, fornecedoras de aço e de peças para equipamentos em geral. No início do mês, após pressão das centrais sindicais, o governo já elevou as alíquotas de Imposto de Importação de sete tipos de aço como forma de proteger a produção siderúrgica nacional.

Setor automotivo corta 13 mil vagas
Mesmo beneficiado pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), medida que manteve as vendas aquecidas, o setor automobilístico não contribuiu, neste ano, com a criação de empregos formais. Ao contrário, montadoras e fabricantes de autopeças cortaram 13,9 mil postos de trabalho entre janeiro e maio. O levantamento foi feito com base nos dados fornecidos pelas empresas.

Só as montadoras eliminaram 6,4 mil vagas. As empresas aceitaram um acordo informal com o governo para manter empregos a partir de março, quando houve a prorrogação do benefício - lançado em dezembro e inicialmente previsto para três meses -, desde que pudessem abrir programas de demissão voluntária (PDV) e não renovar contratos temporários vencidos. O setor emprega hoje 120,4 mil funcionários.

As fabricantes alegam que estão cortando vagas nos setores da produção voltados para a exportação e nas linhas de caminhões. Neste ano, as exportações totais caíram 47,4% na comparação com o mesmo período de 2008, para 162,4 mil unidades de carros completos e desmontados (chamados de CKD). Já as vendas internas de caminhões tiveram queda de 19,2%, para 37.580 unidades.

A indústria de autopeças, que encerrou dezembro com 207,5 mil trabalhadores, mantinha, até abril, o quadro com cerca de 200 mil pessoas. Os dados de maio ainda não foram computados, mas as empresas admitem que os cortes continuam. Na semana passada, a Bosch, uma das principais empresas do setor, demitiu 900 trabalhadores da fábrica de Curitiba (PR) alegando queda nas exportações e no fornecimento de motores para veículos pesados.

Bibliografia
Jornal Folha de S. Paulo de 23 de junho de 2009
Jornal O Globo de 23 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 23 de junho de 2009