Jonas Alfredo da Silva Santos

Faculdades Metropolitanas Unidas

1.Introdução

De acordo com Lopes (1999, p.69) capoeira é uma infinidade de coisas: jogo, luta, arte, filosofia, religião, ética, dança, música e até história do Brasil. Para Freitas (2007), “A capoeira é história, filosofia de vida, sentimento de brasilidade, música, dança, jogo, ritmo, amor, poesia, educação, é a arte de brincar com nosso corpo no tempo e espaço”. Não só no ponto de vista da psicomotricidade, mas da contextualização da sua própria identidade histórica.

           A Capoeira vem resistindo ao longo dos anos e conquistando valorosos espaços na sociedade. Sendo que já foi considerada uma atividade marginalizada e reprimida pela sociedade. Porém ao perceberem que esta fazia parte de um valor histórico, educacional e cultural de um povo, novo olhar sobre a capoeira se adquiriu. O que nos chama a atenção é como a capoeira, uma atividade considerada marginal, ganha valor acadêmico em tão pouco tempo, conquistando a educação formal brasileira em todos os seus níveis, inclusive o superior (Campos, 2009). Essa manifestação afro-brasileira tem algumas características educacionais que podem oferecer colaboração para o processo de ensino-aprendizagem de seus praticantes. Ela pode ser trabalhada em relação com as disciplinas do currículo escolar, sobretudo, com a Educação Física (NETO, 2014).

           A capoeira no âmbito escolar pode-se dar como forma de educação integral dos indivíduos, pois trabalha desde o movimento corporal até a formação de cidadãos, compreendendo as diferentes culturas, sendo assim o indivíduo se desenvolve a partir da cultura e ao longo dos anos é inserido em grupos a partir de uma concepção cultural, que nela é dado suas funções e atividades a serem realizadas em seu dia-a-dia (PCN´s: Educação Física, 1997). Ainda com base nos PCN´s, podemos dizer que a capoeira esta como sugestão para ser aplicada na escola, no intuito de contribuir na formação de indivíduos que respeitem as diversidades, neguem qualquer espécie de violência, valorizem sua cultura, desfrutem da manifestação de cultura corporal e que saibam ser autônomos conhecendo, organizando e interferindo em suas ações.

Em função disso notamos que a capoeira como pratica pedagógica nas aulas de educação física poderá contribuir para os alunos que queremos formar, ou seja, alunos que conheçam a cultura e o desenvolvimento que a capoeira teve no meio social, e que em práticas realizadas na escola, os alunos possam adquirir valores, tais como o respeito, autonomia, criticidade e o convívio social (CAMPOS, 2009).

 Os aspectos culturais da capoeira trabalhados no ambiente escolar se fazem muito importantes atualmente, para que se possa conhecer diferentes culturas e povos, afinal a população brasileira é constituída por 54% de negros (BRASIL, 2016). Apresentar aos alunos na escola essa nova perspectiva sobre a capoeira é apresentar também uma nova visão, não apenas ensinar os movimentos, mas sim o porquê de tais movimentos, o porquê da capoeira, a importância dessa expressão, de onde ela veio e etc.

Ao refletirmos sobre o conteúdo pensamos porque é importante promover a luta na escola, mais especificamente a capoeira.

Os conteúdos da capoeira ajudam na formação de seres humanos capazes de conviver com as diferenças, reflexivos e que valorizem a cultura brasileira.  Além do que é uma maneira de nós apresentarmos aos alunos uma nova perspectiva cultural, enquanto a maioria das modalidades praticadas nas escolas é advinda das culturas européias e norte-americana, as quais se originaram como cultura de movimento da classe dominante, a capoeira é brasileira e nasceu das classes dominadas dos escravos (SOUZA e OLIVEIRA, 2001).

Sendo assim, nosso trabalho apresenta uma grande relevância social, pois além de apresentarmos uma nova visão sobre a capoeira em seu aspecto cultural, mostraremos sua contribuição no âmbito escolar, no qual se faz importante.

Nesse contexto o objetivo é apresentar uma perspectiva cultural da capoeira que possa por meio de sua prática histórica, desenvolver novas aprendizagens, pois segundo Campos (2009), a expressão cultural é muito completa e se insere nas aulas de educação física promovendo a formação integral dos indivíduos, sejam elas na construção de seu próprio material de percussão, por exemplo, e até na construção de cidadãos que conheçam e respeite os valores sociais e culturais, tornando-os críticos perante a sociedade em que vivem.

2. Metodologia

A composição do presente artigo resultou de pesquisas na base de dados SciELO, entre os anos de 1997 e 2016, a partir das seguintes palavras-chave: Capoeira, Educação Física escolar, afro-brasileira, Cultura afro-brasileira. Artigos de anos anteriores são citados, ou encontram-se nas referências, na medida de sua importância para o tema em questão. Todo o material coletado, que constou de vinte e um artigos na sua íntegra, dentre eles: resumos, documentários, artigos acadêmicos, monografias, capítulos de livro, livros e etc., ambos foram utilizados as seguintes palavras chaves: Capoeira, Capoeira na escola, cultura afro-brasileira, Educação Física escolar, e etc. 

  1. Revisão de literatura
    1. Significados e Origem da capoeira

Não se sabe ao certo sobre como e onde surgiu a capoeira, ainda hoje é um assunto muito discutido por historiadores, fundadores e mestres, por esse motivo é importante falarmos sobre as diferentes vertentes desse surgimento.

A princípio é necessário buscarmos o significado da palavra capoeira, que em algumas pesquisas podemos verificar que existem diversas teorias para o seu significado, porém Alencar (1865) propôs que a palavra capoeira se origina do tupi, traduzido por ilha de mato já cortado. Onde os negros buscavam refúgios e resistência aos perseguidores, as lutas aconteciam neste local e os negros usavam a capoeira para defender a sua liberdade.

Porém Rego (1968), cita em seu livro outros diferentes significados que a capoeira pode ter, alguns deles dizem que a capoeira seria uma espécie de cesto feito de varas, outro diz ser o local onde fica criação e outro significado diz ser mato que foi cortado. Portanto os significados para o seu nome se diferem de acordo com cada teoria.

          Ao refletir sobre capoeira, de início nos faz lembrar a escravidão, muito antiga, que vem desde os primórdios da humanidade, porém de acordo com diversos autores ela se popularizou no século XVI no Brasil, na mesma época que ocorria o tráfico humano, que se expandiu por vários países, e se transformou em um processo lucrativo. E no Brasil não foi diferente, com a chegada dos escravos no porto, era necessário pagar impostos, assim como qualquer outra mercadoria, nas vendas os escravos ficavam expostos, e as pessoas os escolhiam de acordo com o tipo de serviço que gostaria, através de forma física, idade, até mesmo de origem. Os negros naquela época eram usados em diversos tipos de serviços, portanto estavam presentes na sociedade brasileira, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais, com isso, suas culturas foram aos poucos sendo introduzidas no Brasil, como por exemplo: as suas crenças, suas culinárias e as danças (CAMPOS, 2009).

           Após essa introdução da cultura dos escravos africanos, que a capoeira foi desenvolvida, porém existem teorias que nos mostram diferentes vertentes sobre esse desenvolvimento.

Rego (1968), relata em seu livro ser impossível dizer quando foi realmente o surgimento da capoeira, porém Campos (2009) apresenta duas hipóteses sobre como a capoeira surgiu, sendo que existem afirmações de que os escravos trouxeram a capoeira para o Brasil, e outra de que a capoeira foi uma invenção dos escravos no Brasil. Seguindo essa linha de raciocínio, podemos então defender a ideia, a partir de alguns embasamentos teóricos de que a capoeira foi inventada no Brasil pelos descendentes Afro-Brasileiros.

Desde então a modalidade vem se desenvolvendo assim como tudo na sociedade. Mas para chegar a ser um patrimônio cultural, a arte passou por etapas difíceis, como perseguições por policiais, prisões e racismo. Considerada criminalizada por muito tempo, cujo seus praticantes eram considerados marginais. Até que alguns cientistas sociais iniciaram estudos sobre os negros e suas culturas no Brasil, a princípio o foco era nas manifestações culturais afro-descendentes presente em todo o país, ao buscarem os costumes e tradições dos afro-brasileiros, a capoeira então foi vista como uma prática cultural (OLIVEIRA e LEAL, 2009).

Ainda segundo Oliveira e Leal (2009), quando a capoeira se popularizou, sua prática não era mais somente dos antigos escravos ou dos negros, historiadores contam que já havia brancos, estrangeiros e até pessoas de classe alta praticando tal atividade. No entanto aumentou a demanda de sua prática, com isso a arte foi se adequando e modernizando ao decorrer dos anos. Criando-se então a capoeira Regional e Angola.

Contudo, ressalta Campos (2009), criou-se o nome Angola para se dar a um estilo de capoeira. A palavra Angola diz respeito aos primeiros negros que chegaram ao Brasil e estes eram naturais de Angola. Para definir este estilo podemos dizer que não existe só uma teoria para isso, assim como a origem da capoeira ainda se contradiz, a capoeira de angola também não é diferente, porém Campos defende a ideia de um Mestre com o apelido de Pastinha, no qual se refere a capoeira Angola a legítima capoeira, original dos africanos escravos no Brasil. A sua prática tem poucos golpes mas nem por isso deixa de ser eficiente. “A Capoeira Angola é uma manifestação primitiva que nasceu da necessidade de libertação de um povo escravizado, oprimido, sofrido e revoltado” Campos (2009, p. 53).

No desenvolvimento da arte, Mestre Bimba então criou a capoeira Regional, que mistura o batuque com a Angola e inclui mais golpes. A ideia da criação seria por insatisfação das práticas que estavam ocorrendo, no qual era voltada para o folclore, uma maneira mais cultural, deixando de lado a ideia de luta que era sua verdadeira essência. Bimba a princípio originou a luta na Bahia, e por isso deu o nome de Luta Regional Baiana, que ao se popularizar passou a ser Capoeira Regional. Esse estilo trata-se de uma prática completa, com uma sequência de ensino eficiente, a fim de promover para os indivíduos praticantes da modalidade o real valor da capoeira, seja ela como educação física ou como meio de ataque e defesa (CAMPOS, 2009).

A fim de se adequar as demandas sociais, a capoeira sofre outras modificações, com novas características, como movimentos acrobáticos, proposta de ação, sendo à maneira de esportivização e a desvinculação religiosa, com o objetivo de promover a participação de todos, agindo de maneira laica. Essa nova proposta se dá pelo nome de Capoeira Contemporânea (CRESSONI, 2013).                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

  1. Educação Física

           A princípio eram realizadas algumas atividades pelos indígenas, atividades de suas culturas primitivas, como por exemplo, a caça, pesca o nado e a locomoção. Para passar o tempo realizavam as danças e festas típicas. Logo depois na chegada dos negros no Brasil, surge a capoeira, criada nas senzalas, sendo praticada pelos escravos. Contudo, pode-se afirmar que os primeiros indícios as atividades físicas foram realizadas pelos indígenas e escravos (SOARES, 2012).

           A partir dessa reflexão Soares (2012) complementa o desenvolvimento deste fenômeno, dizendo que a educação física foi se desenvolvendo e passando por várias etapas no meio social, a princípio ela foi incluída nos currículos escolares como Ginástica. Era também utilizada para o treinamento de militares, e com isso passou a ser prática de rendimento. Foi se profissionalizando no decorrer dos anos, até que se inseriu na sociedade para a prática de todos, visando à promoção à saúde, no entanto se dividiu em três formas, sendo elas, o esporte educação, esporte participação e esporte performance.

           Preocupados com a educação escolar, a educação física então se inseriu no âmbito escolar para educar o corpo e a mente. A educação física atualmente pode vir a ser uma profissão, uma ciência e uma disciplina curricular. No contexto atual pode-se dizer que a disciplina pode promover para a educação de um indivíduo a capacidade de se tornar um cidadão crítico diante da cultura corporal do movimento. A disciplina envolve muito mais que promover desenvolvimentos técnicos de esportes, ou trabalhar a coordenação motora dos alunos, mesmo que isso seja importante, não é o suficiente, pois o profissional pode contribuir com que os alunos adquiram outros valores, tais como, o convívio, o respeito, inclusão de todos, cooperação, solidariedade e etc. (BETTI e ZULIANI, 2002).

           Vale ressaltar que diante de tais importâncias sociais e embora a educação física já ser reconhecida como uma área essencial, ainda no contexto atual é marginalizada, diante de outras disciplinas e até mesmo da gestão escolar (PCN´s, 1997).

Nesse sentido, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997):

“A Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 20 de dezembro de 1996 busca transformar o caráter que a Educação Física assumiu nos últimos anos ao explicitar no art. 26, § 3o, que “a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Dessa forma, a Educação Física deve ser exercida em toda a escolaridade de primeira a oitava séries, não somente de quinta a oitava séries, como era anteriormente” PCN’s (1997, p. 22).

 

           A partir dessa reflexão, levaremos mais adiante a educação física na escola, sendo que os PCN´s (1997) propõem diversas atividades no qual a disciplina pode promover no âmbito escolar, onde todas elas podem ocorrer a partir de um objetivo para com os alunos. Isso se chama blocos de conteúdo, onde são divididos em três partes, sendo elas: o primeiro bloco, que sugere os esportes, jogos, lutas e ginástica, o segundo bloco, atividades rítmicas e expressivas e o terceiro bloco sugere o conhecimento sobre o corpo, sendo que a luta é uma das propostas de trabalho para a educação física.

Podemos observar que as lutas são necessárias para a formação discente, podendo promover valores educacionais nos quais os alunos possam levar para sua vida fora da escola, assim como citado nos PCN´s (1997):

“As lutas são disputas em que o (s) oponente (s) deve (m) ser subjugado (s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê” PCN’s (1997, p.37).

           Sendo assim podemos dizer que nós professores de educação física, devemos promover muito mais que esportes coletivos em nossas aulas, mudando assim o contexto da maioria das aulas atuais.

 

  1. Capoeira na escola

 

De acordo com o documentário “Mestre Bimba a capoeira iluminada” (2007), podemos dizer que a capoeira nos dias atuais é praticada em mais de 150 países dos 5 continentes, por mulheres e homens de todas as faixas etárias, credos e filiações, em aulas lecionadas por milhares de mestres brasileiros de todas as classes sociais econômicas, somente no Brasil existem mais de 5 milhões de praticantes desta modalidade.

A capoeira também é a 14º expressão artística do país registrada como Patrimônio Imaterial pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e artístico nacional, seguindo a lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998, que institui a capoeira como registro de bens culturais de natureza imaterial do nosso país, reconhecendo assim sua importância (BRASIL, 2013).

Por este e outros motivos, a capoeira inserida na escola em seu aspecto cultural, possui uma grande relevância social, pois apresenta uma vertente tão importante quanto às outras que já são apresentadas, se fazendo assim nova e velha ao mesmo tempo, pois uma cultura tão antiga que já passou por diversas décadas, ainda se faz viva entre nosso meio atual.  Contudo, foi somente nos últimos anos que a capoeira tomou certo espaço e um devido reconhecimento na sociedade, devido a disseminação da pratica em academias e locais específicos para a realização desse jogo-luta, segundo Junior e et al (2000) a capoeira vem sendo utilizada grandiosamente em projetos sociais que atendem jovem , crianças e adultos carentes , e eles utilizam a pratica da capoeira como atividade educativa e lúdica , e isso sem dúvidas mostra claramente o seu valor pedagógico e a aceitação desta arte por parte de todos nos dias de hoje . Mas, além disso, a capoeira vem sendo muito utilizada no âmbito escolar, pois seu processo da ênfase a aquisição de alguns aspectos, tais como a autonomia, a construção de identidade e etc.

A pratica da capoeira é muito mais amplo que outras modalidades específicas, ela possui um significado de pratica social, ou seja, envolve valores e conceitos sociais, sejam eles de raça, cor, etnia, classe social, envolvendo assim diretamente seu praticante em uma reflexão crítica sobre a sua realidade e seu contexto. As escolas que utilizam a capoeira como tema, podem se sentirem em um processo pedagógico privilegiado, pois a capoeira é capaz de reunir elementos indispensáveis na formação de um indivíduo crítico e reflexivo. (CAMPOS, 2009)

A nova Lei de diretrizes e bases inclui novas metodologias das aulas de Educação Física, desta forma novos conteúdos foram inseridos nas propostas pedagógicas, dentre eles a capoeira, como conteúdo das aulas de Educação Física escolar nos ensinos fundamentais e médio. Atualmente a capoeira também está presente em diversas universidades, mas foi apenas após ser institucionalizada como modalidade esportiva em 1972 pelo CND (Conselho Nacional de Desportos), que ela se tornou mundialmente conhecida e considerada uma manifestação esportivo-cultural (SOUZA e OLIVEIRA, 2001).

A capoeira no aspecto escolar tem como enfoque muitas vertentes, tais como a de lazer, de luta, de esporte, folclore, educação, jogo, dança e dentre outros, além do que ela deve ser trabalhada de forma ampla, para que o aluno possa se identificar com o aspecto que melhor corresponde-lo.

A prática escolar desse jogo-luta possibilita conhecimentos fartos, que englobam conceituais, procedimentais e atitudinais, particularmente autonomia, cooperação, respeito às diversidades, exercício da cidadania no meio social onde vive já no aspecto motor, ou seja, procedimental, podemos citar que a capoeira é uma rica alternativa para desenvolver o equilíbrio, a lateralidade, a coordenação motora, a ritmicidade, a questão espaço-tempo, e etc. (SANTOS e PALHARES, 2010).

Souza e Oliveira (2001) irão dizer que a aprendizagem da capoeira no âmbito escolar, não deverá se fixar apenas nos enfoques técnicos para aprender determinada luta, o ensino dos movimentos deverá vir acompanhado da transmissão de elementos que envolvam sua cultura, sua história, a origem, evolução, ademais deverá ser estimulada a integração com outras disciplinas presentes no contexto escolar, afim de que o aluno tenha uma aprendizagem significativa sobre a capoeira.

Considerando que a capoeira expressa a voz da minora contra a maioria, ou seja do oprimido contra o opressor (SOARES et al., 1992), também se faz importante trabalharmos essa variante na escola para que possamos apresentar algo que nasceu das classes dominadas dos escravos , ao invés de continuarmos a repassar modalidades provenientes da cultura de classes dominantes , não que isso seja ruim, mas Soares et al. (1992), citam que a Educação Física precisa trazer a tona  a capoeira enquanto manifestação cultural , e não separá-la do movimento cultural e político que ela gerou  e ainda gera .

De acordo com os PCN´s (1997), já que a capoeira é composta por um imenso patrimônio cultural, que sem dúvidas deve ser reconhecido, trabalhado, e valorizado no espaço escolar, especialmente nas aulas de Educação física escolar, é possível contribuir para que os alunos adiram uma postura menos preconceituosa e discriminatória diante das diferentes manifestações e expressões de grupos étnicos e sociais que fazem parte do nosso meio.

Outro ponto importante sobre trabalhar a capoeira na escola é a de que a roda de capoeira pode transmitir aprendizados que serão levados para outros ambientes, dentro ou fora da escola, ou seja, para a vida cotidiana do aluno, por exemplo, como cita Soares e Oliveira (2001), na capoeira existe um golpe chamado “rasteira”, e o jogador que recebe esse golpe na roda de capoeira, descobre que “levar uma rasteira”, não está relacionado com o sentido de humilhação, e sim com o de aprendizado, além disso, o autor ainda relaciona a capoeira como conteúdo interdisciplinar, que pode ser trabalhado em diferentes disciplinas, geografia, história, não se prendendo apenas as aulas de Educação Física.

Campos (2009) irá dizer em seu livro que apenas o fato de querer ensinar uma modalidade pertencente ao universo cultural brasileiro exigia a coragem de alguém, isso há alguns anos atrás, pois naquele tempo, a capoeira ainda era considerada “coisa de malando” e as perspectivas de futuro para essa profissão praticamente não existiam,

Todavia, Santos (1990) irá dizer que a capoeira contribui de uma maneira toda peculiar, favorecendo o espírito crítico reflexivo da realidade, tão importante na formação dos cidadãos brasileiros, mostrando-nos assim que de “arte criminalizada”, a capoeira passou a participar das propostas pedagógicas de diferentes escolas, por ser uma modalidade completa, tanto no sentido motor quanto no reflexivo.

A presença da capoeira nas escolas já é uma realidade no século XXI, porém nem sempre com essa proposta de aspecto cultural, em alguns locais ela é desenvolvida apenas como pratica para um desenvolvimento motor, fazendo assim com que o aluno seja privado de conhecer a história, a relevância social desse jogo-luta, a importância da capoeira para nossa cultura afro-brasileira e como ela se fez importante para a nossa cultura, que é descendente de escravos, mesmo sabendo que a nossa sociedade é composta 54% de negros (Brasil, 2016), muitos docentes se fixam apenas em passar a parte técnica desta modalidade, não problematizando as aulas e se esquecendo que a capoeira se faz muito mais ampla que isso, como já citamos anteriormente. (SANTOS, 1990).

  1. Proposta Pedagógica

De acordo com os PCN´s (1997), um dos objetivos das aulas de Educação física é “conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais. ” Ao relacionarmos esse objetivo com nosso tema, percebemos que além de proporcionar aos alunos uma nova vertente da capoeira, além da vertente pratica, de movimentos, a vertente cultural e social, como já citamos anteriormente.

A nova lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 9.394\96, nos permite como professores, explorar novos conteúdos nas aulas realizadas, juntamente com as novas metodologias emergentes da Educação Física na escola, que possibilitam uma disciplina repleta de conteúdos significativos.

Ludicidade, agressividade, dança e batalha, musica e ritmo, brincadeira e alegria, tudo isso constitui o universo da capoeira, fazendo assim com que seja quase impossível defini-la em apenas um único conceito (JUNIOR, ABIB e SOBRINHO, 2000).

Ao desenvolvermos a capoeira nas aulas de Educação Física, possibilitamos além de tudo, uma oportunidade, quase única, dos alunos pertencerem a uma determinada cultura, tal cultura que é valorizada a partir de ressignificações dos elementos que caracterizam essa arte, fazendo com que o aluno se orgulhe das histórias e das lutas, quebrando assim um estereotipo criado há anos, de que a pratica da capoeira é coisa de “gente desocupada” ou “marginais”. (GOULART, 2007).

Silva (1993), afirma que além de ser possível ensinar a vertente cultural da capoeira, podemos através das práticas realizadas evidenciar diversas qualidades físicas, como por exemplo: agilidade, destreza, criatividade, coordenação, flexibilidade e etc. Por esse motivo, realizaremos atividades que ensinem o aluno por completo, integralmente, ou seja, apresentaremos a perspectiva cultural da capoeira e também realizaremos praticas que melhor situem os alunos nesse jogo-luta.

A capoeira quando integrada ao processo educativo, nos faz entender o seu papel na formação dos alunos, ou seja, contribui para o desenvolvimento de capacidades físicas, mentais e sociais, trabalhando na construção do indivíduo (Campos, 2009).  Além de tudo a capoeira entra como prática nas aulas de educação física, superando as dificuldades de falta de materiais e espaço físico. Pois para se ter um instrumento de percussão nas aulas de capoeira, os alunos podem utilizar de sua criatividade e espontaneidade, podendo confeccionar materiais pedagógicos.

Para Santos, “a capoeira como educação física faz parte da nossa história; contribui na formação de valores das crianças, jovens e adultos; favorece o espírito crítico reflexivo da nossa realidade”. (1990, p. 29). A expressão cultural é de extrema importância que deve ser transmitida aos alunos através dos movimentos e musicalidade e em diálogos democráticos.

 Com a ideia das práticas de capoeira na escola estaremos estimulando comportamentos necessários para a formação dos alunos, pois ao praticarem, estarão desenvolvendo involuntariamente valores, tais como solidariedade e respeito, pois segundo Skinner (1982) um comportamento pode ser estimulado, ou seja, reforçado através de um estimulo no qual o indivíduo se comporte de acordo com a consequência que acontecerá a partir deste, ou seja, se a consequência for positiva, então a pessoa possa vir a realizar as mesmas ações com frequência, pois diante disso ele irá se sentir bem. Portanto reforçando bons comportamentos que são praticados na capoeira, como o respeito ao outro, o convívio social, movimentos corporais e etc. O aluno através de suas ações possa receber um simples elogio do seu professor ou de seus pais, ou fazer novas amizades e melhorar o convívio entre seus colegas de classe, sendo assim, tais consequências já bastam para que o aluno continue se comportando de maneira que o faça se sentir bem.

Ao refletir na ideia de promoção de ensinos sobre a capoeira, a intenção de levar a arte para as aulas de educação física se dá pelo fato da contribuição que se pode ter, pensando na interação dos alunos com a identidade cultural de um povo e a vivência da expressão corporal. Podendo promover valores atitudinais como a criticidade diante da sociedade no qual o indivíduo está inserido, trabalhando o corpo e a mente do aluno. Vale ressaltar a melhoria da condição física geral, praticando sistemas aeróbicos, anaeróbicos e muscular. Contudo ao promover as práticas de capoeira podemos estimular vários aspectos importantes nos alunos, tais como, a coragem, autoconfiança, auto-estima, a cooperação, o respeito à diversidade e também contribuir na formação de sua personalidade, como cita (CAMPOS, 2009).

           No entanto percebemos que a capoeira é um instrumento bem completo para a educação integral dos jovens estudantes, como cita Campos (2009), desde o ensino infantil até o médio, isso se dá devido a sua riqueza pelas várias formas pedagógicas.

 

Referencias

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