Vamos reincidir numa temática recorrente. Temos ouvido e visto situações que nos levam a fazer o seguinte apelo. Um apelo que fica difícil de ser direcionado, pois a situação de insegurança e desvalorização em relação aos professores é tanta que já não se sabe para onde se dirigir ou a quem pedir socorro.

Ressaltamos que estamos partindo de preocupações manifestadas na rede pública. Mas sabemos que fatos semelhantes ocorrem em escolas particulares. Em todas elas ouvimos a voz de professores dizendo que desejam chamar a atenção de alguma autoridade para que olhe o descaso em que se encontra o ambiente escolar; os problemas que estão se avolumando nas escolas e, se não resolvidos, podem se agravar ainda mais, ampliando a espiral de violência.

Eis algumas situações que demandam atenção:

- Alunos se agredindo fisicamente sendo, algumas vezes, necessária a presença da força policial. Fenômenos que criam dificuldades para o exercício da docência;

- Alunos, de várias formas, agredindo verbal e fisicamente professores ou outros servidores das escolas e, por não serem registrados nas delegacias em virtude de uma equivocada visão de que tudo deve se resolver em favor do aluno, estão se tornando corriqueiros. Isso cria dificuldade para o exercício da docência;

- Alunos, ou país de alunos, fazendo denuncias contra servidores, por estes terem procurado fazer cumprir princípios mínimos de civilidade. Isso cria um clima de insegurança e também embaraça o exercício da docência.

- Alunos, muitas vezes violentos ou infratores, se sentem protegidos contra a impotência da escola diante de tantas apelações aos "direitos" das crianças e adolescentes, sem que a esses mesmos sejam apontado seus deveres e responsabilidades. Isso inibe o exercício da docência;

- Alunos e pais de alunos que, ao serem corrigidos em seus comportamentos impróprios (incivilizados, agressivos, irresponsáveis, desinteressados do estudo, em atitudes de perturbação aos colegas), agridem, verbalmente aos professores que nada podem fazer, pois lhes é contraposto uma super-proteção de uma legislação equivocada, que privilegia os direitos da criança e adolescente, mas que, não lhe aponta, na mesma medida, suas obrigações. Isso impede o exercício da docência.

E quando o docente procura fazer qualquer desses pequenos cidadãos, plenos de direitos, cumprirem com algum dever, são agredidos verbalmente ou escarnecidos. Mas contra isso não há lei, pois a super-proteção da lei impede que os que fazem cumprir a lei vejam as falhas da lei. E, em tudo isso, em vez de um ambiente educacional, estamos vivendo em um ambiente de medo e insegurança.

Ora, se somos professores e nosso trabalho é a ação em sala de aula, perguntamos: como desenvolver um trabalho eficaz com todos esses impedimentos ou dificuldades? Como solicitar ordem dentro das salas de aula se ao chamarmos a atenção dos alunos somos denunciados como agressores ou, o que é pior, ameaçados em relação à nossa segurança, de nossas famílias, ou de nossos bens (motos ou carros são atingidos com relativa freqüência por arranhões na lataria ou nos estofamentos)? Como desenvolver um eficiente trabalho de ensino se alguns elementos – que muitas vezes são impostos ao meio estudantil pela força de determinações da lei – perturbam tanto as aulas que somos obrigados a interromper nosso trabalho com o grande grupo para atender à desordem de um ou dois? Providencia que não ultrapassa a sala de aula, pois se mais buscamos, chega-nos a afirmação de que "a criança tem que permanecer em sala de aula" (mesmo quando essa criança está tirando o direito de outras crianças). Que lei é essa pela qual o direito de um se sobrepõe ao direito de muitos? Como, nesses casos, fazer o trabalho de ensino com vinte ou trinta alunos se somos absorvidos por um ou dois que desconcentram a nós e aos nossos alunos? Como agir eficazmente em sala de aula se o clima de ameaças é constante? – haja vista agressões físicas sofridas por professores, ou tentativas de homicídios efetuadas contra professores.

O que queremos é pouca coisa: que sejam tomadas providências a fim de podermos lecionar e ajudar no crescimento humano e intelectual dos nossos alunos. Queremos nosso direito de trabalhar em segurança, lecionando aos alunos que querem estudar. Queremos nosso direito à integridade física e moral, visto que somos agredidos moralmente e ameaçados fisicamente. Queremos nosso direito de lecionar, dando e recebendo informações em um ambiente civilizado e clima de cortesia recíproca. Queremos o direito de nossos alunos estudarem, sem serem incomodados por aqueles que não querem fazê-lo, gerando, ameaças e perigo. Queremos que nossos alunos possam estudar em segurança. Queremos que nosso tempo seja bem usado para darmos o melhor de nós em favor da docência e não para fazer tarefa policial ou nos preocupando em resguardar nossa segurança e integridade.

A sala de aula é um ambiente para o ensino-aprendizagem; o trabalho correcional deve ser feito por quem tem formação ou é para isso contratado pelo poder publico.

Nosso argumento é simples: se há lei protegendo o menor infrator deve haver uma lei que proteja as crianças e jovens que não são infratores, contra os infratores; se os direitos individuais devem ser preservados, os direitos dos grupos honestos e dedicados ao bem precisam também ser preservados e defendidos. Caso contrário estaremos nos acomodando na barbárie.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação

Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais:

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