CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO
Publicado em 09 de maio de 2014 por KARINE DE SOUSA BARBOSA
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
CURSO: LETRAS
DISCIPLINA: LITERATURA LUSO - BRASILEIRA
ACADÊMICA: KARINE DE SOUSA BARBOSA
SÍNTESE TEÓRICA SOBRE AS CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO
ANÁLISE DE CANTIGAS
As cantigas de amor e as de amigo fazem parte do grupo das cantigas líricas da poesia trovadoresca.
Sobre as cantigas de amor:
Contém a confissão amorosa do trovador, que padece por requestar uma dama inacessível em consequência de sua condição social superior ou de ele desdenhar a sua posse, impedido que está pelo sentimento espiritualizante de que está possuído (MOISÉS; 1989, p.16).
Nelas, o eu lírico é masculino, onde o cavalheiro exprime seus sentimentos e o seu amor cortês, de forma respeitosa e sublime, à sua senhor. Esta é uma dama inacessível e idealizada, que não corresponde às investidas de seu admirador, assim nessas cantigas, o amor não se concretiza de fato, ele é impossível e distante, e o trovador vivencia o sofrimento do amor não correspondido, a chamada coita amorosa.
Em relação às cantigas de amigo:
Contém a confissão amorosa da mulher, geralmente do povo(pastora, camponesa, etc.) Sua coita nasce de entreter amores com um trovador que a abandonou, demora para chegar, ou está no serviço militar(ou seja, fossado) ( MOISÉS; 1989, p.21).
Assim, nas cantigas de amigo, o eu lírico é feminino, ao contrário do que ocorre nas de amor, é a mulher que exprime seus sentimentos de sofrimento amoroso, causado pela partida do amigo(namorado) para a guerra(contexto histórico da época) ou pelo fato de ter sido trocada por outra. A mulher fazia parte das classes populares mais humildes, geralmente eram camponesas e pastoras, eram também tidas como moças ingênuas. Elas expressavam suas paixões e lamentos para suas mães, suas amigas ou para a natureza. Essas cantigas podem ser classificadas, conforme as situações em que ocorrem ou pelo espaço geográfico, em serranilha, pastorela, barcarola, bailada, romaria, alba ou alvorada.
CANTIGAS
AMOR – Bernal de Bonaval
A dona que eu am’e tenho por senhor
amostráde-mi-a Deus, se vos en prazer for,
se non, dáde-mi a morte.
A que tenh’eu por lume destes olhos meus
e por que choran sempr’, amostráde-mi-a, Deus,
se non, dáde-mi a morte.
Essa que vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ai Deus!, fazéde-mi-a veer,
se non, dáde-mi a morte.
Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar,
mostráde-mi-a upossa con ela falar,
se non, dáde-mi a morte.
Basicamente, esta cantiga:
l Possui quatro cobras singulares, cada uma com três palavras(versos).
l É uma cantiga de refrão
l Estribilho(refrão): “se non dade-me a morte”
l Há uma atafinda(encadeamento) na terceira cobra, do sétimo para o oitavo verso.
l Não apresenta Leixa-pren
l Trata-se também de uma cantiga paralelística, pois apresenta paralelismo( amostrade-me-a; amostrade-me-a; fazede-me-a veer; mostrade-me-a)
AMIGO – Aires Nunes
Oí' oj' eu uma pastor cantar,
du cavalgava per uma ribeira,
e a pastor estava i senlheira,
e ascondi-me pola ascuitar,
e dizia mui bem este cantar:
"Sô lo ramo verde frolido
vodas fazem a meu amigo;
choran olhos d'amor."
E a pastor parecia mui ben,
e chorava e estava cantando,
e eu mui passo fui-mi achegando
pola oir e sol non falei rem;
e dizia este cantar mui bem:
" Ai estorninho do avelanedo,
cantades vós e moiro eu e peno,
e d'amores hei mal."
E eu oí-a suspirar enton,
e queixava-se estando con amores,
e fazia ua guirlanda de flores;
des i chorava mui de coraçon,
e dizia este cantar enton:
"Que coita hei tan grande de sofrer:
amar amigo e non ousar veer!
E pousarei sô lo avelanal."
Pois que a guirlanda fez a pastor
foi-se cantando, indo-se en manselinho,
e tornei-me eu logo a meu caminho,
ca de a nojar nou houve sabor.
E dizia este cantar ben a pastor:
" Pela ribeira do rio cantando
ia la virgo d'amor: quem amores
a como dormirá, ai bela frol !"
Basicamente, esta cantiga:
l Possui quatro cobras singulares, cada uma com oito palavras(versos).
l É uma cantiga de maestria.
l Possui atafinda(encadeamento) na segunda cobra, do décimo primeiro ao décimo segundo verso.
l Não apresenta Leixa-pren.
BIBLIOGRAFIA
MOISÉS, Maussad. A literatura portuguesa através dos textos.18.ed. São Paulo: Cultrix, 1989.