Canta, canta minha gente...
Publicado em 09 de janeiro de 2010 por Carlos Eduardo Kadu
“Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada...”, mas “quem foi que disse que existe ordem e progresso?”. “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são, muitas vezes, gestos naturais”
Apesar de se tratar de trechos de músicas e autores diferentes, os parênteses são dispensáveis quando constatamos que a sinfonia das idéias retrata o mesmo anseio. A liberdade que levou Tiradentes a “perder a cabeça” continua latente nas músicas que as grandes rádios não tocam com a frequência comemorada pelos artistas do pop, da música sertaneja e tantos outros estilos, que acentuam o relacionamento a dois.
Não que a função da música seja o protesto! Mas se o mercado musical precisa alcançar os interesses humanos, quanto sucesso faria Gabriel O Pensador se sua música fosse tão tocada quanto às apelações amorosas? Acontece que neste país, reduzir o universo do humano a ele e mais um (a) é interessante para alguém muito importante.
Pois se isso não partisse de gente “grande”, não seria uma realidade nacional. São inúmeros os textos e imagens na internet, em que se reclama a liberdade anunciada por Dom Pedro sob pena de morte. “Independência ou Morte”, disse ele prenunciando sucessivas revoltas populares, nas quais brasileiros morreram aos milhares em busca da liberdade. Então veio a romântica República dos coronéis e o não menos individualista período populista.
Em seguida, o Brasil cantou contra a ditadura e o termo “liberdade” foi trocado pela promessa da democracia. Mais como um reconhecimento de que livres não seríamos mesmo, do que pela efetiva divisão do poder. A ditadura já tinha ensinado “brasileiros e brasileiras” a serem moles. Só faltava a democracia televisiva nos tornar burros demais. E “nunca na História desse país” isso foi tão “real”.
Hoje eles brincam com a gente de “Vamos ver quem bate mais fraco?” e nós sempre ganhamos nessa brincadeira. Sempre batemos mais fraco que eles. Eles nos olham e dizem: "parabéns, você ganhou! Isso é democracia!". Afinal, sem a poupança dos pobres, o marajá viveria do que? Enquanto para os pobres têm o “Fome Zero”. Mas só se não quiserem estudar, pois aqui temos o programa “Universidade Para Todos” os que passarem no vestibular.
Nós temos o poder de escolher as músicas. O que não podemos é ter rádios comunitárias. Somos nós que dizemos qual deles será o representante do povo. O que não podemos é dizer quem não merece ser candidato. Quem disse que não há segurança? Os políticos deitam seguros de que acordarão tão prefeitos, deputados, senadores e afins quanto dormiram. Bom, na verdade eles não dormem. Quem dorme “eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”, somos nós!