CANIBAIS CONTEMPORÂNEOS
O mundo outrora perplexo com a carnificina humana, aos poucos vai reagindo indiferente as barbáries de forma proporcional a banalidade das mortes.
Corpos jogados ao chão, que aos poucos serão amontoados nos caveirões ou rabecões.
A realidade narrada assusta mais que a realidade cotidiana.
As crianças brincam em meio aos defuntos, enquanto a perícia trabalha.
As pessoas passam indiferentes sem sequer ter aquela curiosidade mórbida do ser humano, de quando a violência extrema era uma novidade, um fato isolado.
Enquanto o secretariado do diabo mutila corpos, os tementes a Deus rezam por proteção.
O poder paralelo do crime organizado se organizou melhor que o poder público e dominou o país.
Se não restar ao homem a esperança em Deus, o que será dele afinal?
Enquanto os canibais contemporâneos engolem carnes humanas e vomitam suas iras, o cidadão comum vira expectador do genocídio escalonado, onde se matam multidões, um em lugar diferente do outro.
A evolução trouxe aos canibais primitivos outras formas de alimentação, mas a bestialidade dos canibais modernos, alimentados pelo ódio, cria uma dependência psicológica e quase química da violência que sustentam seus corpos.