CAMINHOS E DESAFIOS DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO
Por Everson Augusto Marques | 25/09/2024 | EducaçãoELAINE CRISTINA CAVICCHIOLI
GABRIELA ARAUJO GRACIANO
SILMARA APARECIDA VIGATTI
CAMINHOS E DESAFIOS DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO
SÃO CARLOS
2024
RESUMO
A inclusão na educação é um tema de extrema importância na atualidade, buscando garantir que todos os estudantes tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente de suas características ou necessidades especiais. Este artigo científico tem como objetivo analisar os caminhos e desafios encontrados no processo de inclusão na educação escolar, bem como apresentar algumas estratégias e práticas que podem ser adotadas para promover uma inclusão efetiva e significativa.
Palavras – chave: inclusão, educação, adaptação.
INTRODUÇÃO
A inclusão educacional é um conceito que tem ganhado cada vez mais destaque e repercussão na sociedade.
A inclusão escolar tem o objetivo de proporcionar uma educação de qualidade para todos os estudantes com deficiência, este processo visa garantir que estes alunos sejam incluídos em salas de aula regulares, recebendo apoio e recursos necessários para que possam participar plenamente da vida acadêmica, tornando cidadãos participativos na vida em sociedade.
No entanto, a implementação dessa prática enfrenta alguns desafios que precisam ser considerados e superados.
BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E MARCOS LEGAIS.
A deficiência era vista como motivo para exclusão em várias esferas sociais, prevalecendo a ideia de que as crianças com necessidades especiais eram incapazes para serem inseridas no ambiente escolar. No entanto, a promulgação da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e a implementação de outras políticas públicas favoreceram a emergência de uma nova perspectiva baseada na igualdade de oportunidades e na educação para todos, democratizando assim o acesso educacional para estudantes com diversas necessidades.
A educação inclusiva começou a ser implementada legalmente como Política Nacional de Educação Especial no final da década de 1980. Esse modelo foi desenvolvido com o objetivo de democratizar a educação e ampliar o acesso para alunos com necessidades especiais, assegurando o ensino público de qualidade e o exercício da cidadania como um direito universal. A Lei Nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, foi um marco importante nesse processo, estabelecendo diretrizes para a integração social e educacional desses alunos.
Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiênciao pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que decorrentes da Constituição e das leis, propiciem o seu bem-estar pessoal, social e econômico (Brasil, 1989, Art., 2º)
Segundo Mittler (2003) as formas através das quais as escolas promovem a inclusão e previnem a exclusão constituem a base da qualidade de viver e aprender experimentado por todas as crianças.
A inclusão de indivíduos com necessidades educacionais especiais envolve muito mais do que apenas sua matrícula e permanência no ensino regular ou sua presença física em espaços escolares. Requer uma reorganização profunda do sistema educacional, que inclui a revisão de conceitos e paradigmas educacionais antigos. Esta reestruturação é essencial para permitir o desenvolvimento integral desses estudantes, respeitando suas individualidades e atendendo às suas necessidades específicas. O objetivo final é assegurar um ensino de qualidade e democrático, onde os conhecimentos de cada aluno sejam valorizados.
DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES
Simplesmente estar em sala de aula não é suficiente para o professor; é fundamental que ele receba uma formação que contemple a organização do conteúdo e dos métodos de ensino, garantindo um aprendizado de qualidade para todos os alunos. Segundo Martins (2006), a formação em educação inclusiva deve priorizar a valorização da diversidade. O professor deve então ser capaz de usar essa diversidade a seu favor, adotando estratégias de ensino variadas e ajustes curriculares que efetivamente permitam que todos os alunos desenvolvam suas competências, incluindo aqueles com necessidades educacionais especiais.
No artigo 18 da Resolução nº CNE/CEB 02/2001, página 05, é estipulado que os professores que não apresentem o perfil mencionado devem ser providos pelo Estado das condições fundamentais para realizar iniciativas que complementem suas qualificações, sobretudo no que diz respeito ao atendimento especializado de alunos, conforme especificado no quarto inciso desta resolução.
4º Aos professores que já estão exercendo o magistério devem ser oferecidas oportunidades de formação continuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias educacionais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. (Brasil, 2001)
A inclusão exige que os educadores estejam preparados para lidar com a diversidade de alunos em suas salas de aula, adaptando seus métodos de ensino, materiais e recursos de acordo com as necessidades individuais de cada aluno. Portanto, se faz necessário investir em programas de formação continuada e especializada para que os professores possam se capacitar de maneira plena e adequada, inclusive adaptando as grades dos cursos de formação inicial, como os cursos de Pedagogia, para que eles não sejam ofertados somente na modalidade a distância e façam com que os alunos, que serão os futuros professores, estejam mais inseridos dentro das escolas através dos estágios, observando professores experientes trabalhando para que assim possam construir sua prática e já terem uma visão de como é o ambiente escolar.
Mittler (2003) revela em seu estudo que muitos professores se sentem despreparados para a inclusão, indicando uma lacuna na formação inicial que não abordou práticas educacionais cruciais para promover a inclusão, necessitando assim de apoio especializado para uma formação continuada mais eficaz.
A formação continuada capacita o professor a desenvolver práticas educacionais que atendam a todos os estudantes, assegurando que cada um possa expressar seu conhecimento e integrar-se ao ambiente educacional promovido pelo professor. Martins (2006) destaca que as políticas públicas de educação inclusiva representam um avanço significativo, especialmente para aqueles previamente marginalizados por suas diferenças. Eles sublinham a importância de uma formação docente que responda aos desafios de um paradigma educacional voltado para todos.
Historicamente, presumia-se que a formação inicial de um professor era suficiente para toda a sua carreira, entretanto, Freire (2001) salienta que a realidade é diversa e desafiadora para todos no ambiente escolar, especialmente para os professores, que devem reconhecer que sua formação é um processo contínuo e integrante do seu dia a dia.
Outro desafio é a resistência de alguns educadores, pais e alunos em relação à inclusão. A mudança de mentalidade e a superação de preconceitos são essenciais para que a inclusão aconteça de maneira efetiva. É preciso promover a conscientização sobre a importância e os benefícios da inclusão, construindo uma cultura inclusiva em toda a comunidade escolar. Muitos pais não aceitam o fato de ter um filho com deficiência e apresentam grande resistência quando a escola aborda esse tema.
Essa resistência por parte da família e a busca de ajuda médica especializada para que seja realizada uma avaliação, atrasa muito o desenvolvimento da criança, pois quando sabemos qual é a deficiência do aluno podemos trabalhar dando enfoque as suas necessidades para que a criança consiga se desenvolver de maneira plena e satisfatória, e também essa criança poderá contar com uma equipe multidisciplinar que ajudará muito em seu desenvolvimento motor e cognitivo.
Além disso, a falta de acessibilidade física nas escolas é um importante obstáculo para a inclusão. É fundamental que as instituições de ensino sejam adaptadas para receber todos os alunos, garantindo a disponibilidade de rampas, corrimãos, pisos táteis, banheiros acessíveis, entre outros recursos.
Recursos matérias e humanos também são de suma importância para que o acesso à educação aconteça de maneira plena para a pessoa com deficiência, pois faltam profissionais da educação especial nas escolas, as salas de recurso estão sucateadas, falta material e professores colaborativos para trabalhar com o público elegível dentro da sala regular, e o número excessivo de alunos em sala também resultam em um obstáculo para que os professores consigam adaptar as suas aulas e atingir de maneira mais efetiva esses alunos.
DIFICULDADES ENFRENTADAS PARA GARANTIR UMA INCLUSÃO PLENA
A pessoa com deficiência passa por muitos obstáculos e desafios para que seja inserida de maneira plena e satisfatória dentro de qualquer esfera da sociedade.
Não basta ter o aluno com deficiência dentro da escola se não garantir a ele o acesso, a permanência e a qualidade no ensino ofertado.
Para que isso aconteça primeiramente precisamos de edificações com acessibilidade como rampas, corrimões, banheiros adaptados, marcadores no chão e sonoros entre outras estruturas que possibilitem a locomoção de pessoas com deficiência dentro dos prédios escolares.
Muitas escolas estão funcionando em prédios antigos que não possuem nenhuma acessibilidade. Por essa razão os órgãos públicos devem reestruturar esses estabelecimentos, reformando-os para que se tornem acessíveis.
Todavia somente a acessibilidade não garante que a inclusão aconteça plenamente, pois além de estar dentro da escola o aluno com deficiência precisa de suporte, apoio e materiais pedagógicos adequados e adaptados as necessidades específicas de cada um.
Por essa razão cada aluno deve ter o seu plano educacional individual que garante que ele tenha acesso a um currículo adaptado que abranja todas as necessidades e faça com que ele avance no seu processo de aprendizagem.
Esse plano deve ser construído em colaboração com o professor da sala regular e com o professor da educação especial, outro ponto que deve ser levado em consideração, pois muitos estabelecimentos de ensino não contam com esse profissional especializado, ou possui um número reduzido para atender a demanda da escola.
Outro profissional de extrema importância é o professor colaborativo, que trabalha dentro da sala de aula junto com o professor regular, adaptando todas as atividades as necessidades dos alunos com deficiência, mas muitos sistemas de ensino não contratam esses profissionais e as crianças acabam ficando sozinhas em sala.
O planejamento na educação inclusiva deve ser constante e colaborativo, priorizando os interesses e necessidades de cada aluno. Isso envolve criar aulas que sejam desafiadoras para todos, diversificando as abordagens dos conteúdos curriculares e mantendo a equidade no processo educacional.
Portanto para que a inclusão aconteça de verdade, precisamos apostar em políticas públicas voltadas para a contratação de mais profissionais da educação especial para que nossas crianças não sejam apenas mais um número dentro das escolas, mas sim que ela esteja inserida com respeito e dignidade, se desenvolvendo e aprendendo cada vez mais.
ESTRATÉGIAS
Diante dos desafios, algumas estratégias e práticas podem ser adotadas para promover uma inclusão efetiva. A colaboração entre os profissionais da educação, incluindo professores, psicólogos, terapeutas e especialistas, é essencial para identificar as necessidades individuais de cada aluno e criar planos de apoio e intervenção personalizados.
Além disso, o envolvimento dos pais e responsáveis no processo de inclusão é fundamental. É preciso estabelecer uma comunicação aberta e transparente entre escola e família, buscando o alinhamento de expectativas e o compartilhamento de informações sobre o progresso e as dificuldades dos alunos.
Para a efetivação da perspectiva inclusiva, propõe-se um ponto concreto de articulação entre o professor da sala comum e o professor especializado - o Plano de Ensino Individualizado (PEI), um registro a ser elaborado conjuntamente pelos professores, propondo uma mesma linha de ação pedagógica, tanto no ensino regular como no AEE. De acordo com Neves (2017), o PEI pode ser pensado como um estudo de caso, uma vez que se configura como um instrumento que permite um olhar individualizado sobre o estudante, seu percurso, suas demandas e possibilidades no processo de aprendizagem, levando-se em conta suas necessidades específicas.
O AEE não tem como função substituir o ensino regular, mas sim complementar a formação dos alunos com necessidades especiais, visando autonomia desses discentes dentro e fora da escola. Conhecida também como sala de recursos multifuncional, atende preferencialmente alunos matriculados na rede regular de ensino dentro do espaço físico da escola, sendo assim parte integrante do projeto político pedagógico da escola.
São atendidos, na sala multifuncional ou AEE alunos público-alvo da educação especial, de acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008.
· Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU, 2006).
· Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP, 2008).
· Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (MEC/SEESP, 2008).
Atividades adaptadas ao nível de aprendizagem de cada pessoa, levando em consideração os aspectos cognitivos, mas também a interação e integração desse individuo nas práticas cotidianas.
O trabalho na sala de recurso é muito importante pois garante ao aluno com deficiência abordar temas que são de extrema importância para que eles se tornem adultos independentes, pois visam aprimorar práticas de higiene e ações do dia – a – dia, como se alimentar com talheres, escovar os dentes, pentear os cabelos entre outras ações.
CONCLUSÃO
Há uma discrepância notável entre os princípios da Educação Inclusiva e a realidade nas escolas, que frequentemente carecem de infraestrutura adequada e de profissionais qualificados. Muitas vezes, observa-se um descompasso entre os conteúdos ensinados aos alunos do ensino regular e as atividades destinadas aos alunos com necessidades especiais, o que requer revisão para garantir um ensino mais inclusivo.
Além disso, a falta de envolvimento ativo das famílias resulta em uma menor pressão por um ensino que beneficie todos os envolvidos no processo de inclusão, frequentemente transferindo a responsabilidade para outrem sem adotar medidas práticas necessárias.
A inclusão na educação é um desafio complexo, mas extremamente importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Superar os obstáculos e promover uma inclusão efetiva requer a colaboração e o engajamento de todos os envolvidos no processo educacional.
A formação dos professores, a superação de preconceitos, a adaptação das escolas, a criação de práticas inclusivas, o investimento em acessibilidade e a contratação de mais profissionais da educação especial são caminhos necessários para que possamos garantir que todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades na educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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