Caminho longo e muito espinhoso que passei até aqui, 50 anos e cinco dias de vida e, doutorado: meta alcançada em idade prevista. MOTIVO DE ORGULHO E FELICIDADE! Comecei a apreender sofrer na 4ª classe, no centro internato da Missão de Tapatero em Murrupula, quando comia xima ou caracata mal cozidas e muitas das vezes sem caril, ou com água salgada ou com gafanhotos, grilos e pequenos roedores caçados das redondeças e cozidos em latas vazias e antigas de sardinha. Foi muito tempo em 1978 nesta vida, comendo só frutos de jambalao que hoje conheço como biólogo que me consideram por Syzygium cumini. Muito tempo de fome sem tomar banho mas a acordar quando o sino tocasse, subir na árvore, comer muitos jambalaos e assim com os lábios pintados descer, pegar no plástico sujo com caderno e ir as aulas. As motivações de resistir nesta vida eram remotas. Eu tinha só 11 anos. Ah sim, eu percorri 60 km a pé ida e volta para ir fazer exame da 4ª classe na Zona de Influencia Pedagógica (ZIP) de Mulio 1º em Cazuso, Murrupula-Nampula. Na Escola Secundária de Marrere, Cidade de Nampula, no Centro internato aprendi e consolidei a resistência às condições adversas de falta de comida, aprendi a carregar AKM durante as corridas matinais da preparação politico-militar aos 12 anos de idade. Nas escolas moçambicanas, “en las Escuelas Basicas del Campo (ESBEC) em Cuba, na Ilha da Juventude “En la Isla de la Juventud” ja estava melhor treinado e por isso me sentia melhor as vezes para lutar na bicha por conseguir o bolo doce “la gaceñica” da merenda oferecida depois do trabalho de campo “la chapea”. Apreendi a respeitar sem argumentos e pior contrários, a não pisar a linha vermelha. Apreendi com gosto a viver e respeitar as directivas políticas do Marxismo- leninismo, do Socialismo então aplicadas nas ESBECs pelo Governo Socialista Cubano em coordenaçao com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO): disciplina, pontualidade, trabalho, unidade, vigilância. Aprendi a lutar incontestavelmente por uma causa através dos ditados “Viva Cuba”, “VIVA Fidel Castro”, “Viva a FRELIMO”, “Independência ou Morte, VENCEREMOS”. Aprendi a cumprir a ORDEM e a sua obrigatoriedade. Ir a cama, dormir, acordar e levantar-se, lavar-se, uniformizar-se, ir ao pequeno-almoço, formar às aulas ou ao campo, cantar os hinos, ir as tarefas, voltar, tomar banho, almoçar, estudar, jantar, ir a cama e o ciclo fechar. Tudo orientado por sinetas com disciplina de ferro, politico-militar. Aprendi a brincar e a jogar sob comandos de ORDEM. Foi assim que terminei da 6ª a 9ª classe em Cuba. Na Escola Pré-universitária 1º de Maio em Nampula, no internato estava muito melhor e resiti o ambiente de ir ao jantar, receber a xima amarela que ja conhecia deste Marrere e encontrar na panela de caril de quase 50 a 100ml de volume só um olho e uma barbatana de peixe carapau a flutuar, receber ou tirar a porção de água salgada com cheiro a peixe e sem questionar onde foi o dono do olho ou da barbatana, molhar a xima, ir comer, ir estudar, dormir e no dia seguinte ir as aulas. Fiz a 10ª a 11ª classe, sem questões numa escola famosa em reprovações na altura.