Ponho-me a caminhar,

Pé na estrada!

Percebo logo que

Quanto mais caminho,

Mais curvas se me apresentam.

E tanto mais apresse o passo,

Não chego!

 

Aonde vai dar?

Onde estou me levando?

Sempre tem uma curva

Que, sinuosamente,

Não me deixa ver a seguir,

Tenho que ir até lá e, qual surpresa,

Novamente outra curva,

Parece não ter fim!

 

Penso em desistir!

Ando cansado, acho, às vezes -

A mesma coisa a se repetir.

Outras vezes me vejo disposto e sigo.

Novamente outra curva

Que não me deixa ver o destino.

 

Entretanto, qual destino há nesse mundão,

Senão aquele que eu mesmo faça?

Caminho que tem fim não satisfaz,

Não sacia, não ressarci.

Carecemos sempre do inesperado

Para que o corpo resista,

Para que a mente se fortaleça.

Se assim não for tudo vira atonia,

Melancolia, marasmo ou estagnação.

 

Não obstante

Tanto mais caminhe,

Não veja o fim -

Outra curva,

Outro encanto,

Outro desencanto!

Às vezes uma reta

Que se confunde com o horizonte

 E engana aos olhos

Longe...! -

Todavia, sou eu, mais e mais,

Senhor da caminhada, da descoberta –

Um desbravador

Da tortuosidade em toda a sua beleza!

 

Isso anima, e ainda que o cansaço se faça,

O descanso revigora.

Apoio-me, então, na razão,

Pois que a emoção engana, cega e corrompe.

Mentindo a realidade, desvia o curso,

Anuvia o alvo, causando por vezes, asfixia.

 

Parei um pouco, achei uma sombra.

Acho até que cochilei,

Achei um assombro: não posso parar,

Hei que continuar

Até que encontre o termo!

Talvez esteja ali, acolá,

Ou aqui!

Certo é que não quero esperar,

Prefiro eu mesmo achar o onde.

 

Sabendo, pois, que a vida

É sempre ida, não tem volta,

Continuei!

Recompus-me!

 

Aonde danado chegarei?

Imaginando que soubesse,

Qual seria a graça?

Qual o desafio?

Qual a surpresa?

Qual o deslumbramento?

 

Por que me seria dado

Conhecer o fim,

Se mal consigo desfrutar sequer

Da paisagem que se me é apresentada

Ao longo?

 

Mas, ainda que me fosse concedido

Conhecimento do fim,

Creio, não quereria

Ter exercitado meus músculos,

Minha marcha, meus desejos e anseios,

Minha curiosidade.

 

Morreria ali mesmo em mim,

Não teria apreendido valores,

Imagens.

Não teria sabido,

Não de ouvir falar,

Mas por experiência própria,

A contextura do pó da estrada,

Do piso pisado,

Das flores, do estalo das folhas,

Dos espinhos das rosas.

A tessitura dos sons naturais,

Dos seres, dos ventos,

Das curvas que parecem querer cantar

A canção ondulante.

Dos pingos da chuva que se multiplicam,

E sonantes, cortam o ar,

Molham o rosto,

Dessalgam a pele

E encharcam o chão – poças.

 

Destarte,

Sabendo que faço o caminho que é meu

Também o fim me pertence,

O desenho é meu.

 

Assim lá vou eu como bom caminheiro

Fazendo marcas

E me gastando pelo caminho.

Cada curva sua surpresa,

 

Ainda tenho tempo!