Cama de Aluguer
Publicado em 13 de julho de 2011 por Helena Pinto Marques
Desnudas, as duas mulheres repousam no fofo colchão de uma enorme cama redonda de aluguer, lá para os lados de Belém.
Pastéis de nata e bebidas, o que haviam trazido da pastelaria.
Os raios do Sol, intensos àquela hora, atravessavam as translúcidas cortinas cor de pérola, marcando os seus corpos de sombras e de luz.
Lucília bebeu um último gole do seu duplo whisky puro, como gostava, e poisou o copo no chão do lustroso soalho, que já antes acolhera as nossas roupas, a caminho da casa de banho, onde nos revigorámos com um breve duche.
A seguir, ajoelhou-se na cama e disse:
- Mostra-me a tua ratinha!
Num súbito estremecimento, entrego-lhe o meu copo, que ela deposita gentilmente junto ao outro, apago o cigarro no cinzeiro que repousa sobre os lençóis, que ela recolhe igualmente, e recosto-me para trás.
A minha amante pega nas duas almofadas e coloca-as sob as minhas coxas. Depois, poisando ambas as mãos nos meus joelhos, afasta-me as pernas, expondo-me toda ao seu olhar.
Ela aproxima o seu rosto do meu sexo de mulher e eu, expectante e ansiosa, estremeço outra vez.
- Mas que linda ratinha? ? diz a atrevida - Olha?, um cabelinho branco? Que giro. Queres que to tire?
?
Não? Também acho, fica-te bem.
Perante tal descoberta, não sei se me hei-de sentir velha ou, simplesmente, madura.
- Oh, impudicícia!
- Ah! Cá estão duas bochechinhas cobertas de pelinhos? Vamos separá-las a ver o que acontece?
Deliciada pelo toque das suas mãos, e pela conversa, sinto-me a derreter.
Explorando, ela descobre.
- Ah, ah! Com que então, é aqui que se escondem duas belas preguinhas de carne rosada?
Desconhecendo até ao momento a grave sensação de estar a ser cirurgicamente observada por um outro ser, continuo a desfazer-me.
Olha, o que eu descobri! Um capuchinho. Vou tocar-lhe levemente, só para ver como reage?
Resultado: um milagre da natureza feminina.
- Tchiii? Como ficaram grandes, os teus pequenos lábios, Sarita? E que vermelhos estão! ? Exclama a observadora de sexos.
Fascinada pelo pormenor da descrição, rogo-lhe que continue a falar, e ela, exultante, prossegue.
- Vês? O capuchinho guardava uma secreta gema.
- Oh, sim? Conta-me tudo, quero saber? - respondo, a ensandecer.
Fazendo-me a vontade, ela diz:
- Observemos mais de perto?
Lucília sopra dentro de mim e uma brisa me invade toda.
- Olha, uma caverna? É minha! - Diz-me a torturadora a revolutear os dedos.
- Oh, não! ? Grito.
Ponderando, ela interrompe-se.
- Não pares! ? Torno a gritar - Conta-me como sou. Diz-me de que matéria sou feita. ? Suplico.
Continuando na pesquisa, quase científica, da minha anatomia mais íntima, Lucília vai dizendo:
- Mas que toca tão húmida e rosadinha! Entremos um nadinha, a ver como se comporta?
Em transe, oiço-me a rogar.
- Pára! Não! Não pares!
E a louca responde:
- Este meu dedo espião apalpa e sente toda a tua terra, minha amiga?
- Humm?
- Ena pá, tantas bolinhas? e como é quente, a tua ratinha?
- Oh, deus! ? Exclamo em brasa.
- Que bem que deslizo dentro de ti?
Agora, que ela brinca com o meu corpo, já não sei quem sou.
- Está-se a abrir, a ganhar vida? esta florzinha atrevida.
Como uma primitiva que fosse ao lago beber e um macho a atacasse, agitada, contorço-me, tentando escapar, mas é impossível. Enlaçando-me com as suas fortes pernas, a mulher domina-me e trava os meus movimentos.
- Sondemos mais fundo? - afirma a conquistadora.
Elástica, sinto que a minha vagina se distende e alonga para a receber.
- Uau! Tá-me a apertar, a dar beijinhos. ? diz ela, satisfeita.
Num ápice, pega em mim e coloca-me de joelhos, as pernas abertas, a cabeça no seu peito, a boca nos seios, na posição mais humilhante que conheço, e já só oiço a minha outra boca a falar, a gemer, a cantar? Um estranho cântico que não posso interromper, porque já não me pertenço. E, das paredes do meu útero, escorre uma interminável seiva que lhe encharca todo o braço.
Febril, enfio a cara na curvatura das suas mamas, fartas e macias, desdobrando-me em ondas de volúpia e de paixão.
De repente, ela retira-se de mim.
- Uf! Estou a respirar?
Mas eis que investe de novo.
- Não! Está a invadir-me com a mão toda; sinto-o na minha carne ultrajada.
Impossível conter um grito de dor. Mas, a dado momento, eis que a minha vagina se distende e contrai, num vaivém de perder o juízo, e o útero se eleva para a receber.
Já não choro. Antes sinto um difuso e estranho deleite.
Banhadas em águas subterrâneas que não param de escorrer das profundezas do meu ser, vejo-nos a copular, como duas cabras, à beira de um penhasco.
Num incontido impulso de lhe dar todo o prazer parto, então, em busca do seu segredo.
Sob a leve pressão dos meus dedos, a sua clitóride endurece.
Ansiosa de que, também eu, me entranhe nela, Lucília empurra a minha mão.
Prontamente, deslizo para um vaso repleto de sais minerais, que quase me engole viva.
De súbito, a um longo gemido de satisfação só posso responder de uma forma: penetrar mais fundo dentro dela.
Sem que o pudesse pressentir, esse foi o sinal para me acossar.
Ordenhando-me vigorosamente, a cabra ri e canta, triunfante.
Enquanto isso, todo o meu corpo se retesa e estremece, violentamente sacudido por águas diluvianas.
Orgulhosa, ela faz-me doer, mas a minha boca, enlouquecida, continua a dilatar-se.
Exausta, incapaz de fugir, imobilizo-me por completo.
Ela mexe, remexe? passeia-se por um bosque às primeiras horas da manhã, em busca de impensáveis espaços. E eu, para seu deleite, quase me deixo matar.
Não suportando mais tais assaltos sem me dissolver nas suas mãos, imploro-lhe que se venha.
- Dá-me o teu leitinho, querida. Aquele que sara as minhas feridas.
Mas ela diz-me que fique quietinha dentro dela, para aproveitar ao máximo o prazer que lhe dou.
Passa uma eternidade em que desespero. Mas eis que os meus martirizados dedinhos, dormentes, vêem emergir da sua carne uma multiplicidade de bolinhas.
É Nephentes, a terrível planta carnívora das húmidas florestas tropicais, que se contrai e me desfaz as falanges? Afrouxa e torna a contrair-se?
Finalmente, libertando um único e demorado grito de êxtase, a mulher pega na minha mão e retira-a de dentro de si.
No instante seguinte, tomada por um frenesi de fazer inveja ao diabo, ela vira-me e coloca-me novamente de joelhos, o rabo espetado no ar, extraindo da sua flor um favo de mel, daquele que só as mulheres têm, com o qual sara as minhas feridas.
Em vagas de rítmicos espasmos, todos os músculos se me retesam e assombrosas explosões de energia me cruzam o corpo em todos os sentidos.
Com os dentes, apanha-me uma orelha e diz-me ao ouvido que quase lhe esmago os dedos.
Em lava ardente, rebento nos confins do além mundo. E, sob a pele em chamas, descompassado, o meu coração bate com dificuldades.
Sei que estive à beira da morte.
Decorre um espaço incomensurável em que nos mantemos quedas, entrelaçadas, para descermos á terra, tempos depois, com pele de galinha. Cobrimo-nos, então, com o edredão, e dispomo-nos a dormir, mas o animal continua à espreita, pronto para começar a uivar?.
Lá fora, brilha o sol de Inverno.
Pastéis de nata e bebidas, o que haviam trazido da pastelaria.
Os raios do Sol, intensos àquela hora, atravessavam as translúcidas cortinas cor de pérola, marcando os seus corpos de sombras e de luz.
Lucília bebeu um último gole do seu duplo whisky puro, como gostava, e poisou o copo no chão do lustroso soalho, que já antes acolhera as nossas roupas, a caminho da casa de banho, onde nos revigorámos com um breve duche.
A seguir, ajoelhou-se na cama e disse:
- Mostra-me a tua ratinha!
Num súbito estremecimento, entrego-lhe o meu copo, que ela deposita gentilmente junto ao outro, apago o cigarro no cinzeiro que repousa sobre os lençóis, que ela recolhe igualmente, e recosto-me para trás.
A minha amante pega nas duas almofadas e coloca-as sob as minhas coxas. Depois, poisando ambas as mãos nos meus joelhos, afasta-me as pernas, expondo-me toda ao seu olhar.
Ela aproxima o seu rosto do meu sexo de mulher e eu, expectante e ansiosa, estremeço outra vez.
- Mas que linda ratinha? ? diz a atrevida - Olha?, um cabelinho branco? Que giro. Queres que to tire?
?
Não? Também acho, fica-te bem.
Perante tal descoberta, não sei se me hei-de sentir velha ou, simplesmente, madura.
- Oh, impudicícia!
- Ah! Cá estão duas bochechinhas cobertas de pelinhos? Vamos separá-las a ver o que acontece?
Deliciada pelo toque das suas mãos, e pela conversa, sinto-me a derreter.
Explorando, ela descobre.
- Ah, ah! Com que então, é aqui que se escondem duas belas preguinhas de carne rosada?
Desconhecendo até ao momento a grave sensação de estar a ser cirurgicamente observada por um outro ser, continuo a desfazer-me.
Olha, o que eu descobri! Um capuchinho. Vou tocar-lhe levemente, só para ver como reage?
Resultado: um milagre da natureza feminina.
- Tchiii? Como ficaram grandes, os teus pequenos lábios, Sarita? E que vermelhos estão! ? Exclama a observadora de sexos.
Fascinada pelo pormenor da descrição, rogo-lhe que continue a falar, e ela, exultante, prossegue.
- Vês? O capuchinho guardava uma secreta gema.
- Oh, sim? Conta-me tudo, quero saber? - respondo, a ensandecer.
Fazendo-me a vontade, ela diz:
- Observemos mais de perto?
Lucília sopra dentro de mim e uma brisa me invade toda.
- Olha, uma caverna? É minha! - Diz-me a torturadora a revolutear os dedos.
- Oh, não! ? Grito.
Ponderando, ela interrompe-se.
- Não pares! ? Torno a gritar - Conta-me como sou. Diz-me de que matéria sou feita. ? Suplico.
Continuando na pesquisa, quase científica, da minha anatomia mais íntima, Lucília vai dizendo:
- Mas que toca tão húmida e rosadinha! Entremos um nadinha, a ver como se comporta?
Em transe, oiço-me a rogar.
- Pára! Não! Não pares!
E a louca responde:
- Este meu dedo espião apalpa e sente toda a tua terra, minha amiga?
- Humm?
- Ena pá, tantas bolinhas? e como é quente, a tua ratinha?
- Oh, deus! ? Exclamo em brasa.
- Que bem que deslizo dentro de ti?
Agora, que ela brinca com o meu corpo, já não sei quem sou.
- Está-se a abrir, a ganhar vida? esta florzinha atrevida.
Como uma primitiva que fosse ao lago beber e um macho a atacasse, agitada, contorço-me, tentando escapar, mas é impossível. Enlaçando-me com as suas fortes pernas, a mulher domina-me e trava os meus movimentos.
- Sondemos mais fundo? - afirma a conquistadora.
Elástica, sinto que a minha vagina se distende e alonga para a receber.
- Uau! Tá-me a apertar, a dar beijinhos. ? diz ela, satisfeita.
Num ápice, pega em mim e coloca-me de joelhos, as pernas abertas, a cabeça no seu peito, a boca nos seios, na posição mais humilhante que conheço, e já só oiço a minha outra boca a falar, a gemer, a cantar? Um estranho cântico que não posso interromper, porque já não me pertenço. E, das paredes do meu útero, escorre uma interminável seiva que lhe encharca todo o braço.
Febril, enfio a cara na curvatura das suas mamas, fartas e macias, desdobrando-me em ondas de volúpia e de paixão.
De repente, ela retira-se de mim.
- Uf! Estou a respirar?
Mas eis que investe de novo.
- Não! Está a invadir-me com a mão toda; sinto-o na minha carne ultrajada.
Impossível conter um grito de dor. Mas, a dado momento, eis que a minha vagina se distende e contrai, num vaivém de perder o juízo, e o útero se eleva para a receber.
Já não choro. Antes sinto um difuso e estranho deleite.
Banhadas em águas subterrâneas que não param de escorrer das profundezas do meu ser, vejo-nos a copular, como duas cabras, à beira de um penhasco.
Num incontido impulso de lhe dar todo o prazer parto, então, em busca do seu segredo.
Sob a leve pressão dos meus dedos, a sua clitóride endurece.
Ansiosa de que, também eu, me entranhe nela, Lucília empurra a minha mão.
Prontamente, deslizo para um vaso repleto de sais minerais, que quase me engole viva.
De súbito, a um longo gemido de satisfação só posso responder de uma forma: penetrar mais fundo dentro dela.
Sem que o pudesse pressentir, esse foi o sinal para me acossar.
Ordenhando-me vigorosamente, a cabra ri e canta, triunfante.
Enquanto isso, todo o meu corpo se retesa e estremece, violentamente sacudido por águas diluvianas.
Orgulhosa, ela faz-me doer, mas a minha boca, enlouquecida, continua a dilatar-se.
Exausta, incapaz de fugir, imobilizo-me por completo.
Ela mexe, remexe? passeia-se por um bosque às primeiras horas da manhã, em busca de impensáveis espaços. E eu, para seu deleite, quase me deixo matar.
Não suportando mais tais assaltos sem me dissolver nas suas mãos, imploro-lhe que se venha.
- Dá-me o teu leitinho, querida. Aquele que sara as minhas feridas.
Mas ela diz-me que fique quietinha dentro dela, para aproveitar ao máximo o prazer que lhe dou.
Passa uma eternidade em que desespero. Mas eis que os meus martirizados dedinhos, dormentes, vêem emergir da sua carne uma multiplicidade de bolinhas.
É Nephentes, a terrível planta carnívora das húmidas florestas tropicais, que se contrai e me desfaz as falanges? Afrouxa e torna a contrair-se?
Finalmente, libertando um único e demorado grito de êxtase, a mulher pega na minha mão e retira-a de dentro de si.
No instante seguinte, tomada por um frenesi de fazer inveja ao diabo, ela vira-me e coloca-me novamente de joelhos, o rabo espetado no ar, extraindo da sua flor um favo de mel, daquele que só as mulheres têm, com o qual sara as minhas feridas.
Em vagas de rítmicos espasmos, todos os músculos se me retesam e assombrosas explosões de energia me cruzam o corpo em todos os sentidos.
Com os dentes, apanha-me uma orelha e diz-me ao ouvido que quase lhe esmago os dedos.
Em lava ardente, rebento nos confins do além mundo. E, sob a pele em chamas, descompassado, o meu coração bate com dificuldades.
Sei que estive à beira da morte.
Decorre um espaço incomensurável em que nos mantemos quedas, entrelaçadas, para descermos á terra, tempos depois, com pele de galinha. Cobrimo-nos, então, com o edredão, e dispomo-nos a dormir, mas o animal continua à espreita, pronto para começar a uivar?.
Lá fora, brilha o sol de Inverno.