Já montei minha caixa de alegria. Leve, suave, equilibrada, brilhante, macia, incandescente. Ela traz lembranças do passado, certezas do presente e intenções para o futuro. Mágica. Foi feita meticulosa e minuciosamente. Segundo a segundo de minha tranquila, por vezes intranquila existência.

                Tem paredes revestidas de material resistente, toda feita de material que otimiza energias, dá fôlego e amparo. É só abri-la, percebê-la para me sentir revigorada, alimentada para novos momentos, novas ações.

Tem abraço de mãe, afago de filhos, ternuras de pai, carinho de irmãos, respeito de muitos... de mim, inclusive. Pitadas do outro, sabores e cores. Não foi feita abruptamente. Tem em si, fibras rompidas, laceradas; esgares de dor, suspiros de prazer, laços tênues e sólidos, amores fracos e tórridos, suspiros adolescentes, pensamentos maduros, acordos vitalícios.   

 Músicas dos mais diversos tons, acordes, ritmos – coloridas, quentes, frias, melancólicas, choronas e chorosas, esvoaçantes, pálidas, refratárias... Muitas músicas, sem elas não sou, não fui, penso que tampouco serei.

                Minha caixa traduz a minha vida, quem sou, como atuo e me movimento. Ela é feita de fibra como eu, material de qualidade notória, sofisticada e elaborada.  Vários elementos a compõem, fusão de gente que passou, passa, perpassa, repassa fluida e continuamente em mim. Não a fiz sozinha, essa gente toda – incontável – me ajudou sorrindo, chorando, cantando, falando, rimando meus versos. Sou eu a minha caixa. Minha caixa de alegria. Sou e somos todos.