Assistir "Sempre ao seu lado" é lembrar de quanta beleza e quanta verdade há na relação do cão com o homem. Esse é um filme que ultrapassa os limites do saudável, fazendo sofrer impiedosamente aqueles que amam esses animais. Mas não é só tristeza. É reflexão. O filme demonstra com clareza o que, infelizmente, muitos não sabem ou um dia vão saber[1]: a natureza do relacionamento do cachorro com o ser humano por ele escolhido como dono.

A relação do cão com o dono deve – e digo 'deve' por pura humildade e desconhecimento técnico da informação – ser o mais nobre e mais bonito conviver nesse universo de sensações a que chamamos 'vida'. É pura beleza. É companheirismo, generosidade e abundância de carinho a toda prova. É a definição perfeita – e sem utilizar palavras, versos ou um pedaço de papel – da palavra amizade. Talvez só não se possa dizer completamente desinteressada[2], porque há duas coisas nos humanos que aos cãezinhos interessam: amor e abrigo. Tão pouco perto do que nós, humanos, queremos, esperamos e às vezes até exigimos.

O cão relaciona-se com o homem com total ausência de rancor. O cão transborda meiguice mesmo depois de gritos ou "afagos" não tão carinhosos assim – e faz questão de demonstrar com o seu rabinho. Não há ressentimento – dos cães, frise-se. Não podemos negar que, nesse aspecto relacional, eles dão um "banho" na gente. E que bonito é perceber e, principalmente, poder viver isso. Devíamos aprender mais com os cães.

O cão nos dicionariza também a palavra lealdade – o que, de certa forma, está contido no conceito de amizade – e o faz, mais uma vez, com atitudes e não com retórica, promessas ou sussurros ao pé do ouvido. O cachorro, como dito, quer pouco e mesmo quando não lhe é dado, impossível abandonar o seu dono. Ele é fiel mesmo quando ao homem falta fidelidade. E é o maior companheiro do ser humano – por que não ser também o seu maior companheiro?

Não percamos a sensibilidade para continuar aprendendo com suas lições. Não ignoremos a importância desses animais para os seres humanos – além de toda a parte afetiva, o que seria de cegos, solitários, idosos, crianças abandonadas? Estejamos sempre atentos e sejamos sempre cuidadosos com eles. E, principalmente, nunca esqueçamos do que aqueles rabinhos, olhinhos e latidos querem nos dizer e ensinar.

Yuri Jinkings



[1] A minha referência é ao bloqueio que algumas pessoas criam para si em relação aos cães. Pode referir-se também apenas à impossibilidade de "viver" um cão, por qualquer circunstância.

[2] Ah, todas as relações acabam sendo interessadas – para não chamar de interesseiras. O nosso desejo pode - e deve - até não ser revestido de sentimentos ruins, mas queremos, sim, alguma coisa boa de volta – se for o amor, se for carinho, amizade, bem-querer: maravilha!