Formado por três átomos de oxigênio ligados, o ozônio (O3) é um gás altamente reativo e oxidante. Podemos encontra-lo em grande quantidade na estratosfera, entre 15 e 40 km de altitude, onde é produzido a partir da reação entre as moléculas de gás oxigênio (O2) e a radiação ultravioleta proveniente do sol.

Esta radiação é classificada em UVA, UVB e UVC dependendo de seu comprimento de onda, que quanto menor, mais energético e perigoso aos seres vivos se torna, devido ao seu potencial de danificar as moléculas de DNA das células e os dispositivos fotossintéticos das plantas. A radiação UVC, de menor comprimento de onda, é a mais perigosa e a que tem maior potencial de reagir com o O2 para gerar ozônio. Dessa forma, o UVC é amplamente absorvido na estratosfera, mal atingindo a superfície do planeta. A radiação UVB também é absorvida de forma significativa enquanto a UVA, com maior comprimento de onda e menor quantidade de energia permeia mais facilmente o ozônio, chegando até nós.

Como se pode perceber, as moléculas de ozônio presentes na estratosfera atuam como um “filtro” absorvendo os raios ultravioletas que o Sol nos envia todos os dias. Assim, os seres vivos que povoam os mais variados ecossistemas da Terra podem viver na superfície sem grandes preocupações com a luz solar. No entanto, se esse mecanismo natural falhasse, os raios UVB e UVC seriam transmitidos livremente até o solo, o que poderia causar um impacto de larga escala sobre a vida no planeta.

Em 1974, os químicos Frank Sherwood Rowland e Mário Molina perceberam que o ozônio estratosférico estava sendo destruído devido à presença dos clorofluorcarbonos (CFCs). Seu trabalho fora recebido inicialmente com relutância e ceticismo por parte da comunidade científica, mas logo causou forte repercussão na mídia e na população americana, uma vez que os CFCs estavam sendo amplamente usados em sprays, aerossóis, refrigeradores e condicionadores de ar.

De acordo com os químicos – que posteriormente foram laureados com o prêmio Nobel por sua contribuição à ciência ambiental – as massas de ar carregam os CFCs até a estratosfera, onde estes são decompostos pela ação dos raios UV. Quando isso acontece, o elemento cloro presente no CFCé liberado e acaba reagindo diretamente com o ozônio circundante, destruindo-o.

A preocupação geral aumentou quando em 1985 os meios de comunicação anunciaram a existência de um buraco na camada de ozônio com 1 milhão de quilômetros quadrados sobre a Antártida. Este buraco nada mais é do que uma área na atmosfera onde a concentração de ozônio está 50% abaixo do nível normal. Dali em diante, pesquisadores de todo o mundo começaram a monitorar atentamente a região e testemunharam um aumento vertiginoso e assustador. Tanto que no ano 2000, a área do buraco já apresentava quase o tamanho da América do Norte, o que já poderia estar comprometendo a produtividade do fitoplâncton (as comunidades de organismos fotossintetizantes aquáticos), o estopim para um desequilíbrio ecológico grave.

No intuito de buscar uma solução para a crise, vários países assinaram em setembro de 1987 o Protocolo de Montreal. O documento apresentava um plano de redução das emissões de CFC e, inclusive, tinha como proposta a eliminação da produção desse composto até 1999. Houve comprometimento por parte dos países envolvidos e, por volta de 1995, os EUA, maior produtor mundial de CFC, e outros países desenvolvidos já haviam cessado sua produção. Hidrofluorocarbonetos (HFCs) e hidroclorofluorocarbonetos (HCFCs), substitutos seguros dos CFCs, já estavam sendo usados e muitos produtos apresentavam em suas embalagens avisos como “não prejudicial à camada de ozônio”.

Como resultado, o aumento das concentrações de CFC na atmosfera, que chegaram a ter acréscimos de 5% ao ano entre 1978 e 1995, começou a diminuir para 0,5% ao ano em 1998. No entanto, por mais que parássemos totalmente a emissão de CFC agora, os seus efeitos ainda permaneceriam, pois a vida útil desse gás é de mais de 100 anos na atmosfera. Além disso, muito CFC continua aprisionado em refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado, aguardando o momento para vazarem para o ar e iniciarem seu longo trajeto até a estratosfera. Estima-se que em 2200, 15% do CFC lançado nos últimos anos ainda esteja lá. Teremos, portanto, que conviver com esse fantasma ainda por um bom tempo.

Fabrício Proença

Biólogo, Professor e Redator-Chefe da Revista Vita Naturalis



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