RESUMO

O presente artigo trata-se de uma leitura de conteúdos com o intuito de analisar dez artigos científicos de autores brasileiros que discutem sobre o bullying nas escolas. Destes textos foram levantados alguns itens de análise: (a) a forma como foram feitas as publicações sobre o bullying escolar; (b) se eles contribuem para uma melhor compreensão das motivações que levam uma pessoa a cometer o bullying na escola; (c) se os autores sugerem formas de prevenção e/ou intervenção do bullying. Nesta leitura verificou-se que essas produções brasileiras ainda se pautam predominantemente em autores estrangeiros, que há preocupações no sentido de uma compreensão mais abrangente quanto às definições de bullying e de possíveis influências socioculturais, bem como, de como tem sido divulgadas as publicações, sem dar voz aqueles que são vítimas do bullying escolar, o que também possibilitaria maior compreensão dos fenômenos que ocorrem na escola. Dessa forma, também inferiu-se que essas publicações não contribuíram para que haja maior compreensão acerca daquele que pratica o bullying e que essas práticas de prevenção e intervenção são pouco aplicadas em contexto real, além de não estarem integradas multidisciplinarmente como os autores sugerem. O artigo sugere a emergência de ações que podem ser veiculadas pelo profissional da Psicologia Escolar no tocante a esta temática.

Palavras-chave: Bullying Escolar; Leitura de Conteúdo; Psicologia Escolar

1. INTRODUÇÃO

O bullying para Antunes e Zuin (2008), é uma denominaçãoinglesa surgida na década de 1970, na Noruega para identificar um tipo de atitude violenta, intencional e repetitiva. Atualmente, o termo tem sido adotado por vários países e não tem tradução para a língua brasileira. Em nossa cultura, o significado de bullying está intrinsecamente relacionado à violência nos espaços intraescolares, embora o fenômeno possa ser encontrado em outros contextos, como no trabalho, no lar, nas forças armadas, nas prisões, nos condomínios residenciais, nos clubes, nos asilos, entre outros.
O bullying representa, como mencionado acima, um conjunto de ações violentas, repetitivas e intencionais, cometidas pelos “bullies”, no singular "bully", que seria conforme Silva (2010), o “indivíduo valentão”, que é caracterizado por intimidar outras pessoas. O “bully” sempre impõe uma relação de poder que pode ser exemplificado, ainda que de forma simplificada, como: uma pessoa fisicamente maior que se impõe perante a fragilidade do menor e, o primeiro acredita e se coloca, por isso mesmo, superior ao outro, considerado menos forte ou importante, por razões diversas, intrínsecas ao primeiro sujeito, por sua história social e afetiva. Dessa forma, é aparente um desequilíbrio de poder físico, psicológico e/ou social entre os envolvidos na situação de bullying.
Entende-se, de acordo com a literatura disponível que, o bullying pode servir como um mecanismo da afirmação de poder interpessoal por meio da agressão. Os autores do bullying costumam agir com dois objetivos, primeiro para demonstrar poder, e segundo, para conseguir uma afiliação junto a outros colegas (Antunes & Zuin,2008; Pinheiro & Williams, 2009). Os bullies praticam violência física, verbal, bem como, outros tipos de assédio, e as ações só podem ser caracterizadas como bullying se forem intencionais e recorrentes, intimidando não apenas sua vítima, mas também os demais expectadores, para que estes não delatem seus atos. Sendo assim, a vitimização do bullying ocorre quando uma pessoa é feita de receptor do comportamento agressivo de outra, considerada dotada de algum “poder” e com isso, tem a necessidade de subjugar aquele considerado mais frágil. Tanto o bullying como sua vitimização tem consequências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores (Silva, 2010; Neto, 2005).
Silva (2010) discorre sobre as vítimas do bullying, ela apresenta principalmente relatos de clientes atendidos por ela, em suas observações clínicas, e pode perceber que não existe apenas um tipo de vítima do bullying. A vítima típica é aquela que geralmente apresenta pouca habilidade de socialização, é tímida e retraída e não consegue se defender dos comportamentos agressivos dirigidos à ela. Normalmente, são mais frágeis fisicamente e apresentam alguma característica destoante do restante do grupo. A insegurança e a passividade tornam esse sujeito um ‘alvo fácil’ para os ‘bullies’, que possivelmente foram vítimas ou presenciaram atos de violência, em algum momento. A autora afirma que ainda existe a vítima provocadora. Esta, que pode também insultar e provocar reações agressivas contra si, no entanto, não consegue se defender quando atacada. Vítimas provocadoras, geralmente, discutem oubrigam durante o ataque, mas ainda assim são subjugadas.
Ballone e Moura (2008) afirmam que muitas crianças, vítimas de bullying no ambiente escolar, desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente, evitam retornar à escola. Este medo, tem como causa algum tipo de violência. Outras crianças vítimas do bullying, podem não superar totalmente os traumas sofridos na escola. Elas poderão crescer com sentimentos negativos e com baixa autoestima, apresentando sérios problemas de relacionamento no futuro e, em casos extremos, poderão tentar ou cometer suicídio. Portanto, não se pode admitir que a ocorrência de danos físicos ou psicológicos se tornem fatos subjugados e fadados à banalidade nos espaços internos da escola.
Dessa forma, Neto (2005) menciona que há uma relação direta entre o desempenho acadêmico e os relacionamentos interpessoais positivos. Os estudantes que estabelecem boas relações sociais terão maiores possibilidades de alcançar um melhor nível de aprendizado. Ele enfatiza que a aceitação pelos companheiros se constitui elemento fundamental para o aprimoramento das habilidades sociais, das capacidade de reação frente às situações de tensão, bem como, do desenvolvimento saudável da saúde de crianças e adolescentes.
Para Antunes e Zuin (2008), embora as discussões sobre o tema tenham sido amplamente divulgadas estando vinculadas à violência escolar, nota-se a dificuldade em encontrar estudos que se prontifiquem a estudar o fenômeno de forma mais ampla e crítica, levando em conta não apenas as atitudes e a culpabilização do ‘bully’, mas asrelações que poderiam levar o sujeito a agir de maneira violenta ou intimidadora.
Nesse sentido, entende-se a necessidade de fazer um estudo dessa literatura com o objetivo de levantar informações pertinentes, a saber: (a) a forma como foram feitas as publicações sobre o bullying escolar; (b) se a literatura estudada pode contribuir para uma melhor compreensão das motivações que levam uma pessoa a cometer o bullying na escola; (c) se os autores sugerem formas de prevenção e/ou intervenção do bullying, no contexto das escolas.

1.1.OBJETIVO GERAL

Investigar por meio de dez artigos científicos nacionais, datados entre 2005 e 2010, aspectos referentes ao tema bullying na escola. O intuito é compreender como foram feitas as publicações na perspectiva de diferentes autores sobre o tema, bem como, verificar se esses textos lançam luzes sobre as possíveis motivações intrínsecas àqueles que praticam o bullying escolar e se trazem sugestões preventivas e/ou interventivas a serem realizadas em âmbito escolar.

1.3.JUSTIFICATIVA

Discorrer sobre esse tema pode abrir possibilidades para o meu entendimento sobre o bullying escolar, suas definições e possibilidades de enfrentamento. Enfrentar o bullying vem sendo um desafio nas escolas brasileiras, portanto, este estudo pode colaborar nas reflexões acerca dessa realidade e até mesmo, possibilitar ações que possam ser viáveis nas práticas e que possam cuidar para que não ocorra o bullying.

2. MÉTODO


Foi realizada a leitura de dez artigos científicos nacionais, publicados entre 2005 e 2010 que tratam sobre o tema “Bullying Escolar”, concentrandoa atenção em aspectos pertinentes da literatura para melhor compreensão acerca do que foi difundido pelos autores em publicações datadas neste período. Desta forma, o material pesquisado seguiu como critério produções que pudessem se diferenciar entre si ou que propusessem idéias e práticas emergentes sobre o assunto, Assim foi lido e considerado relevante no desenvolvimento do trabalho. A saber[1]:


(1) ANTUNES, D. C. ZUIN, A. A. S. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia e Sociedade, v.20 n.1 p. 16-32, São Carlos, 2008.

(2) BANDEIRA, C. M. HUTZ,C. S. As implicações do bullying na auto-estima de adolescente. Psicologia Escolar e Educacional, Campinas vol.14, no.1, jan./jun. 2010.

(3) FERREIRA, V. et al. Percepção do professor sobre o fenômeno bullying no ambiente escolar. Unoesc & Ciência, v.1, n.1, p. 57-64, jan./jun. Joaçaba, 2010.

(4) FRANCISCO, M. V. e LIBÓRIO, R. M. C. Um estudo sobre bullying entre escolares do
ensino fundamental. Psicologia: Reflexão e Crítica, vol.22, no.2, Porto Alegre, 2009.

(5) LISBOA, C. et al. O fenômeno bullying ou a vitimização entre pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção. Contextos Clínicos, v.2, n.1, p.59-71, janeiro-junho, São Leopoldo, 2009.

(6) MALTA D.C. et al. Bullying nas escolas brasileiras: resultados da pesquisa nacional de saúde do escolar (PeNSE) 2009. Ciência & Saúde Coletiva, vol.15, supl. 2, p. 3065-3076, 2010.

(7) MASCARENHAS, S. Gestão do bullying e da indisciplina e qualidade do bem-estar psicossocial de docentes e discentes do Brasil(Rondônia). Psicologia, Saúde & Doenças, 2006, vol.7, no.1, p.95-107, Rondônia, 2006.

(8) NETO, A. A. L. Bullying - comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, vol.81, n.5, p. 164-172, Rio de Janeiro, 2005.


(9) PALACIOS, M. REGO, S. Bullying: mais uma epidemia invisível? Revista Brasileira de Educação Médica, v.30, n.1, jan/abr, Rio de Janeiro, 2006.

(10) PINHEIRO, F. M. F. WILLIAMS, L. C. A. Violência intrafamiliar e intimidação entre colegas no ensino fundamental. Cadernos de Pesquisa, vol.39, no.138, São Paulo set./dez. 2009.



3. RESULTADOS


Primeiramente foram lidos e dez artigos científicos publicados entre 2005 e 2010, e destes foram selecionadas algumas categorias consideradas importantes em relação ao item (a), ou seja, sobre a forma como foram feitas as publicações sobre o bullying escolar.
Foram apreendidas três categorias dos artigos científicos estudados e estas foram nomeadas como: concepção de bullying escolar; aspectos socioculturais e relatos de ou sobre vítimas.


3.1 CONCEPÇÃO DE BULLYING ESCOLAR:

Os autores, de modo geral, buscaram esboçar um conceito de bullying em suas publicações. Dessa forma, autores como Malta (2010), Neto (2005), Lisboa (2009), Antunes & Zuin (2008), Ferreira (2010), Bandeira & Hutz (2010), Pinheiro & Williams (2009) Francisco & Libório (2009) e Mascarenhas (2006) apontaram que o bullying consiste em atos de violência, diretos (como bater e/ou roubar) e indiretos (como exclusão social e isolamento), que podem ser verbais e/ou não verbais. A violência, para os autores supracitados é intencional e repetitiva,sem motivação aparente, causando dor, angústia, discriminação, exclusão e humilhação na vítima. Para estes, o bullying é uma relação de poder assimétrica entre agressor e vítima. Palacios E Rego (2006, p1) nomearam e conceituaram o bullying escolar como uma “prática perversa de humilhações sistemáticas de crianças e adolescentes, no ambiente escolar”.

3.2 ASPECTOS SOCIOCULTURAIS


Os aspectos socioculturais relativos ao tema também se fizeram importantes na compreensão deste estudo. Foi observado que a literatura nacional selecionada se utiliza basicamente de autores estrangeiros para a compreensão do tema. Os autores preocuparam-se também, em traçar um paralelo entre o Brasil e outros países onde o bullying vem sendo pesquisado, no entanto afirmaram que traçar um paralelo das diferenças regionais no Brasil ainda não foi possível, pois, a amostra pesquisada é relativamente pequena e se limita a faixas etárias bastante específicas. Lisboa (2009) demonstrou diferenças socioculturais de outros países e afirmou que deve-se ter um maior cuidado para verificar se as questões levantadas por autores estrangeiros tem aplicabilidade no Brasil. Malta (2010), no entanto, focou seus estudos sobre o bullying em questões relacionadas a sexo, idade e escolarização da mãe dos alunos pesquisados. Um dado relevante dessa pesquisa é sobre a variação do “sofrer bullying” de acordo com a região do país pesquisada, sendo que a capital com maior ocorrência identificada foi Belo Horizonte MG, e a de menor ocorrência, Palmas TO. Entretanto, o autor coloca que não foi possível identificar os fatores que levaram amaior ou menor incidência do fenômeno e sugeriu novos estudos qualitativos. Ainda sobre os apontamentos de Malta (2010), a incidência de “sofrer bullying” é maior no sexo masculino do que no feminino, entre os sujeitos pesquisados, entretanto, não explica porque isso ocorre. Também mostra que não houve diferenças significativas quanto à questão cor/raça, ou a escolaridade da mãe, em relação ao “sofrer bullying”.
Francisco & Libório (2009) sugerem pesquisas que busquem investigar se a interação social dos alunos fora do ambiente escolar poderia influenciar positiva ou negativamente na incidência de bullying dentro da escola, além de refletirem sobre como os aspectos socioculturais poderiam interferir neste fenômeno. Neto (2005) e Palacios& Rego (2006) não demonstraram preocupações diretas com os aspectos socioculturais nos estudos referentes ao tema.

3.3 RELATOS DE/OU SOBRE VÍTIMAS


Foi possível observar nas publicações estudadas que os autores brasileiros trouxeram poucos relatos de vítimas de bullying escolar, como forma de ilustrar a maneira como estas pessoas são agredidas ou que pudesse explicar possíveis motivos subjacentes às agressões. É importante ressaltar que o bullying nem sempre ocorre em forma de violência física e a descrição de maneiras mais sutis de vitimização podem colaborar para o enfrentamento do problema. Dessa forma, Francisco & Libório (2009), Palacios& Rego (2006) e Ferreira (2010), trouxeram relatos breves de alunos e professores que sofreram bullying em escolas, enquanto que teóricos como: Malta (2010); Neto (2005); Lisboa (2009); Antunes & Zuin (2008)Bandeira & Hultz (2010), Mascarenhas (2006) e Pinheiro & Williams (2009) não mencionaram relatos referentes a vítimas de bullying em suas publicações.


3.4 OUTROS ASPECTOS RELEVANTES


No que tange a compreensão do que se propôs no item (b), se a literatura estudada pode contribuir para uma melhor compreensão das motivações que levam uma pessoa a cometer o bullying, Bandeira e Hultz (2010) descreveram que os agressores geralmente escolhem vítimas que não podem se defender eficazmente, e isso faz com que o agressor consolide sua posição na hierarquia do grupo ao qual pertence, e também aumenta sua popularidade entre os colegas. Mas não foi possível perceber investigações pormenorizadas que apontassem possíveis motivações que podem levar uma pessoa a cometer o bullying na escola.
Por meio da leitura desses artigos também foi possível observar (c) sugestões de formas de prevenção e intervenção diante do bullying no contexto das escolas. Malta (2010) e Neto (2005) destacam a importância de ações conjuntas envolvendo a escola, pais, órgãos governamentais entre outras instituições para o combate e a prevenção do bullying escolar. Lisboa (2009) sugeriu que é preciso que os professores abram espaço nas suas aulas para a expressão do afeto, a educação do sentimento e a valorização das relações de amizade, além da escola poder proporcionar programas de mediação entre pares e suscitar o protagonismo juvenil. Palacios& Rego (2006) advertiram que se deve ter um olhar diferenciado para a relação aluno-professor, a qual pode estar sendo negligenciada e que, o próprio professor pode estar vitimizandooaluno. Mascarenhas (2006), no entanto, afirma que as ações de prevenção ao bullying devem ser iniciadas com a construção de contextos pedagógicos nos quais estudantes e professores possam experimentar situações de respeito mútuo, solidariedade, cidadania e valores morais. Para a autora, as sanções adotadas no combate ao bullying devem ser primeiramente de ordem educativa, com participação de todos os envolvidos na elaboração das mesmas. Neto (2005) contribui na medida em que delega à prevenção, o ato de evitar a exposição das crianças e jovens a eventos violentos em casa, na escola, no ambiente comunitário e até mesmo, por meio de divulgações midiáticas. O autor ressalta a importância da conscientização das crianças e adolescentes quanto ao bullying como uma atitude intolerável, alegando que as vítimas pudem se sentir mais seguras ao falarem sobre os abusos, criando assim, uma maior possibilidade de enfrentamento do bullying escolar. O autor também menciona que grupos de apoio às vítimas e o uso de técnicas de dramatização podem colaborar para tal enfrentamento.
Em nove dos dez textos estudados, os autores sugerem práticas para lidar com o bullying no contexto das escolas. Apenas o artigo de Malta (2010) menciona práticas específicas que foram realizadas na instituição educacional como forma de prevenir ou intervir com relação a essa temática.


4. DISCUSSÕES


A partir do estudo realizado identificou-se que os artigos mais antigos se basearam em autores internacionais, enquanto que os artigos recentemente publicados são embasados nestes autores brasileiros que pautaram seusestudos em autores estrangeiros. Diante deste fato, a conceituação do que seria o fenômeno bullying aparece de forma semelhante em quase todos os artigos. De certo modo, esta concordância ajuda na compreensão, mas não possibilita uma discussão mais alargada sobre tais definições.
É possível observar que, as produções científicas brasileiras acerca do bullying escolar são escassas no sentido de levantar estudos que expliquem motivos de uma determinada região ter mais incidência de bullying que outra. Os autores que se propuseram a demonstrar essas diferenças por meio de pesquisas de campo afirmam não ter sido possível determinar os fatores que influíram em tais resultados. Sposito (2001) já afirmava há dez anos antes que os pesquisadores demoram a embutir em seus interesses, temas que relacionem violência e escola. Esta afirmação é evidenciada no presente estudo por meio das dificuldades de se encontrar publicações que possam ajudar na compreensão das múltiplas facetas do bullying escolar e de quem os pratica.
Outra consequência da falta de produções brasileiras para o melhor entendimento do bullying nas escolas é a quase inexistência de registros que relatem experiências das vítimas, ou sobre as vítimas do bullying. Estes relatos poderiam colaborar para uma melhor compreensão do fenômeno e nesse sentido, a falta de discussões de fatos concretos ocorridos nas escolas pode dificultar a compreensão do bullying pelos pais, professores, equipe dirigente, e até mesmo pelas vítimas e agressores, que por não-conhecimento, comportamentos tidos como violentos podem passar despercebidos pelos diferentesatores sociais.
Para Bandeira & Hultz (2010), Pinheiro & Williams (2009) e Neto (2005), o agressor deve ser analisado de forma mais ampla, pois, relações intra e extrafamiliares agressivas, contato com violência na mídia, ambientes permissivos e falta de percepção do problema podem influenciar nos comportamentos agressivos e no desenvolvimento da personalidade individual. Os autores evidenciam nesta colocação a falta de produção teórica que possibilite a compreensão de modo amplo, do tema aqui proposto.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


No presente trabalho pode-se inferir que há a necessidade de estudos que se proponham a investigar em campo, as implicações do bullying escolar e as possíveis formas de prevenção e intervenção, pois a pesquisa brasileira sobre o tema parece apresentar poucos resultados objetivos para o enfrentamento do problema.
O bullying escolar, de acordo com a literatura estudada, passa ainda despercebido na grande maioria das escolas, mas é de consenso dos autores que a escola é o melhor lugar para a prevenção de todos os tipos de violência. O enfrentamento e a prevenção do bullying devem ser feitos de forma multidisciplinar, envolvendo família, sociedade e setores públicos. As dificuldades inerentes ao enfrentamento do bullying leva a crer que é necessário se desfocar de atitudes culpabilizadoras e compreender a complexidade que engendra tais práticas, intervindo para que as relações que estes atores sociais estabelecem com o meio em que vivem sejam saudáveis.
Para Neto (2005), o maior obstáculo sobre o que se conhece desse tipo de violência é quegeralmente, as vítimas não comunicam aos adultos as agressões sofridas, e este desconhecimento acaba deixando os responsáveis alheios a estas questões. Para Francisco e Libório, (2009), a maior parte dos alunos que busca auxílio comunica aos pais ou aos professores, entretanto, estes adultos podem não identificar o abuso que ocorre de forma camuflada, ou prefere não tomar parte diante da situação por se sentirem despreparados para isso. Este despreparo deve ser enfrentado com pesquisas e intervenções diante da temática. Seria interessante que algumas pesquisas se voltassem para as formas mais subjetivas de bullying como, por exemplo, na compreensão da forma como meninas agem para vitimizar. Segundo Malta (2010), os meninos sempre foram considerados os maiores agressores por demonstrarem formas mais explícitas de violência, entretanto, em sua pesquisa, as meninas aparecem na mesma proporção como agressoras, mas diferem na forma de praticá-lo.
Outra questão interessante seria pesquisar como as políticas públicas vem agindo no enfrentamento do bullying nas escolas, e qual a efetividade das ações nos diferentes contextos brasileiros.
Pensou-se, inicialmente, que a realização deste estudo poderia angariar práticas realizadas por psicólogos escolares mas, como pontua Andaló (1984), a psicologia escolar é considerada como uma área secundária da psicologia, ela é pouco valorizada dentro da escola e isso pode explicar a inexistência de artigos publicados por estes profissionais para compreensão da temática. De acordo com a autora, o psicólogo escolar poderia trabalhar “como agente de mudanças dentro dainstituição-escola, onde funcionaria como um elemento catalizador de reflexões, um conscientizador dos papéis representados pelos vários grupos que compõem a instituição”.(p46)
O psicólogo escolar pode contribuir para que as práticas educativas aconteçam de forma sólida e eficaz, conforme aponta Martinez (2009). Neste sentido se torna importante que o psicólogo escolar reflita, pesquise e faça intervenções focais no enfrentamento do bullying escolar, na parceria com os diversos atores sociais da escola, com o objetivo de melhor compreender e atuar no apaziguamento das relações inseridas no contexto e melhor desenvolvimento daquilo que os atores da escola precisa propor: o ato educativo.

6. REFERÊNCIAS



ANDALÓ, C. S. A. O papel do psicólogo escolar. Psicologia, ciência e profissão [online]. 1984, vol.4, n.1, pp. 43-46.

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http://marcuspessoa.com.br/6-casos-de-cyberbullying-que-tiveram-final-tragico/
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[1] Os textos estudados compreendem tanto revisões bibliográficas quanto estudos de campo dos autores.