Brizola, O último Dos Maragatos
Por Félix Maier | 08/11/2006 | Política
O que será do PDT e do trabalhismo defendido por Brizola, de inspiração getulista? Há ainda nomes de expressão no partido, como o do senador Jefferson Perez. Só não se sabe por quanto tempo Perez se manterá fiel ao partido do último maragato, se já não está "costeando o alambrado" antes de "pular a cerca", no linguajar gauchesco de Brizola, como fizeram tantos políticos, a exemplo de Saturnino Braga, Jamil Haddad, Marcello Alencar, César Maia e Miro Teixeira. Porém, longe vai o tempo em que o PDT era um partido de expressão nacional, fazendo governadores como Jaime Lerner, no Paraná, e Antony Garotinho, no Rio de Janeiro. Mais longe ainda ficou o tempo em que o centro do Rio de Janeiro era tomado diariamente por brizolistas, que vendiam camisas, flâmulas e chaveirinhos, cuja área se chamava "Brizolândia", famosa calçada da Cinelândia, cercada pelo Cine Odeon, Teatro Municipal, Câmara Municipal e pela choperia O Amarelinho. "O herdeiro, de fato, do trabalhismo, ainda que não se defina como tal, é o PT. Esse fato se evidencia até no caráter nacional e popular do governo Lula, que alia a classe trabalhadora ao empresariado nacionalista e ao estamento militar" (Moniz Bandeira, cientista político, in "PT herda o trabalhismo", Correio Braziliense, 27/06/2004, seção "Política", pg. 8).
Há três anos, José Vicente Brizola, filho do último maragato, havia rompido relações com o pai e se bandeado de guaiaca, cuia, poncho e bombacha para o PT. Deve ter-se arrependido muito, pois logo depois denunciou à imprensa as falcatruas existentes dentro do Partido de Lula. Ao jornalista Plínio Fraga, da Folha de S. Paulo, durante o sepultamento do pai em São Borja, ocorrido no dia 24 de junho de 2004, José Vicente disse que havia se reconciliado com o pai, apenas não havia comunicado ainda o fato à imprensa. Leonel Brizola foi enterrado no mausoléu que já continha os restos mortais de Getúlio Vargas, João Goulart e de sua mulher Neusa Brizola.
"A última vontade do meu avô era te capar" ? disse Leonel Neto, neto de Leonel Brizola, ao deputado Pompeo de Matos, acusado de assediar Juliana, neta de Brizola, quando Pompeu pediu para "esquecer tudo isso" (Cfr. Revista Veja nº 1861, pg. 40). Pelo visto, não sobrou tempo para o maragato dos pampas puxar sua "prateada" da guaiaca e cumprir a ameaça.
Hoje, ao ouvirmos os imponentes acordes iniciais da "Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro" nas propagandas televisivas do PDT, logo nos vem à mente a figura do ultranacionalista Leonel de Moura Brizola, o último dos maragatos. Ironicamente, a bela música da "Fantasia" foi escrita por um inspirado yankee (Louis Moreau Gottschalk), povo declarado por Brizola como sendo o inimigo número um da humanidade.
Bibliografia:
1. ALVES, Márcio Moreira. "O Despertar da Revolução Brasileira". Seara Nova, Lisboa, 1974.
2. AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. "A Grande Mentira". Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001.
3. GRAEL, Dickson Melges. "Aventura, Corrupção e Terrorismo ? à sombra da impunidade". Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2ª edição, 1985.
4. MAIER, Félix. "Nacionalismo e esquerdismo nas Forças Armadas". Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), 2003.
5. MEIRA PENNA, José Osvaldo de. "Decência Já". Instituo Liberal e Nórdica, Rio de Janeiro, 1992.
6. PONTES, Ipojuca. "Politicamente Corretíssimos". Topbooks, Rio de Janeiro, 2003.
7. REVEL, Jean-François. "A Obsessão Antiamericana ? causas e inconseqüencias". UniverCidade, Rio de Janeiro, 2003.
8. TAVARES, Aurélio de Lyra. "O Brasil de Minha Geração ? Mais dois decênios de lutas ? 1956/1976". Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1977.
Anexo: Pequeno glossário retirado de "Arquivos I ? uma história da intolerância", de Félix Maier ? www.usinadeletras.com.br:
CAMDE - A CAMDE foi criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. "Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ?vício do legalismo?, que só mudaria se ?legitimado? por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis" (P. Schmitter, in "Interest, Conflict and Political Change in Brazil", Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", no dia 19 de março de 1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31 Mar 1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: "Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil".
As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, "já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam" (O Estado de S. Paulo, 12/04/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE, foram: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de "O Estado de S. Paulo"; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.
Foquismo - Teoria revolucionária, em que a revolução seria iniciada em pequenos núcleos (focos), para começar a guerrilha rural, com objetivo de dominar a nação. O foquismo foi sistematizado pelo revolucionário comunista francês Jules Debray, e defendida por Fidel Castro e Che Guevara. O PC do B tentou colocar em prática essa teoria na região do Araguaia. "O treinamento a brasileiros em Cuba continua até os dias atuais, embora somente no terreno político-ideológico, na Escola Superior Nico Lopez, do PC cubano, Escola Sindical Lázaro Peña, Escola de Periodismo José Martí, Escola da Federação de Mulheres Cubanas, Escola da Federação Democrática Internacional de Mulheres e Escola Nacional Julio Antonio Mella, da União da Juventude Comunista. Por essas escolas já passaram mais de 100 brasileiros. Todavia, o mais importante em tudo isso, é que a ida de qualquer brasileiro para fazer cursos em Cuba depende do aval do Partido Comunista Cubano, após entendimentos anteriores, de partido para partido. Atualmente, existem diversos brasileiros, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra vêm recebendo, em Havana, treinamento em técnicas agrícolas, e outros matriculados na Faculdade Latino-Americana de Ciências Médicas. O site do Partido dos Trabalhadores oferece vagas e publica as condições definidas por Cuba para matrícula nessa Faculdade" (Huascar Terra do Valle, in "Histórias quase esquecidas", site Mídia Sem Máscara, 10/2/2003). Veja OLAS.
IPES - O IPES passou a existir oficialmente no dia 29 de novembro de 1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa e contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centos menores.
O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES, assim como do IBAD e do Conselho Superior das Classes Produtoras (CONCLAP) haviam sido lançadas no final do Governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças.
O IPES produziu em torno de 8 filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Um escritor de peso do IPES foi José Rubem Fonseca, autor de "Feliz Ano Novo"; segundo Fonseca, o "IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos" (Cfr. AUGUSTO 2001). O IPES chegou a promover, mais tarde, Estudos de Problemas Brasileiros para os Governos Militares pós-1964.
O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em Ago 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do "Complexo IPES/IBAD": 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos ? CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas ? IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales ? CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social ? CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales ? CERES; 5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales ? IPIES; 6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos ? SEI; Fundação Aliança para o Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres. "Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos" (Sebastião Nery, in "Os filhos de 64", Jornal Popular, Belém, PA, 6 Out 1995).
Ligas Camponesas - As origens da organização dos camponeses datam da década de 1940, no trabalho do PCB, que estabeleceu as Ligas Camponesas. Essa atividade ressurgiu na década de 1950, em Galiléia, com a criação da Sociedade Agricultural de Plantadores e Criadores de Gado de Pernambuco, assistida por um ex-membro do PCB, José dos Prazeres, e depois com a formação de sociedades de direito civis e legais, que rapidamente se espalharam por todo o Nordeste, passando a uma rede de Ligas Camponesas ? como eram chamadas pelos proprietários de terras, devido à sua origem da década de 1940. Francisco Julião foi o principal líder das Ligas, com atuação, especialmente, em Pernambuco, do então Governador Miguel Arraes, onde as Ligas colocavam fogo em canaviais e depredavam fazendas. No dia 27 Nov 1962, na queda de um Boeing 707 da Varig, quando se preparava para pousar em Lima, Peru, estava entre os passageiros o Presidente do Banco Central de Cuba, em cujo poder foram encontrados relatórios de Carlos Franklin Paixão de Araújo, filho do advogado comunista Afrânio Araújo, o responsável pela compra de armas para as Ligas Camponesas. Os relatórios detalhavam os atrasos dos preparativos para a luta no campo, acusava Francisco Julião e Clodomir Morais de corrupção e malversação de recursos recebidos. Esses documentos chegaram às mãos do Governador Carlos Lacerda, da Guanabara, que fez vigorosa campanha na imprensa, denunciando a interferência cubana em nosso País. No Brasil, antes de 1964, Cuba financiou ainda as Ligas Camponesas para comprar fazendas que serviram de campos de treinamento de guerrilha. A revista Veja, de 24 Jan 2001, sob o título "Qué pasa compañero?", faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião. (...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como campos de treinamento". Após a Contra-revolução de 1964, as Ligas Camponesas, de inspiração comunista, foram dissolvidas, e Julião obteve asilo no México.
OLAS - Organización Latinoamericana de Solidaridad: no dia 16 Jan 1966, 1 dia após o término da Tricontinental, em Havana, Cuba, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, proposta por Salvador Allende. O terrorista brasileiro Carlos Marighella foi convidado oficial para a Conferência da OLAS em 1967. Ola, em espanhol, significa "onda", seriam, pois, ondas, vagalhões de focos guerrilheiros espalhados por toda a América Latina, como disse o próprio Fidel Castro: "Faremos um Vietnã em cada país da América Latina". Após a Conferência, começam a surgir movimentos guerrilheiros em vários países da América Latina, principalmente no Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. A OLAS, substituída pela JCR, tem sua continuidade no Foro de São Paulo (FSP) e no Fórum Social Mundial (FSM).
Pinar del Río - Província de Cuba, onde havia cursos para terroristas brasileiros nas décadas de 1960 e 1970. O "currículo" incluía: 1) Tática guerrilheira ? o observador, o mensageiro, a coluna guerrilheira, o acampamento, a marcha, sobrevivência na selva (montanhas de Escambray), o ataque, a emboscada; 2) Tiro ? limpeza e conservação do armamento, fuzis: AD, FAL, AK, Garand; metralhadoras: MG52, Uzi; bazuca, morteiro e canhão 152 mm; 3) Comunicações; 4) Topografia ? leitura de mapas, uso de bússola e do binóculo, orientação; 5) Organização do terreno ? construção de abrigos individuais e coletivos, espaldões para metralhadoras e morteiros; 6) Higiene e primeiros socorros ? fraturas, hemorragias, imobilizações, transporte de feridos; 7) Política ? o comissário político, semanalmente, fazia uma palestra. No regresso, o terrorista brasileiro recebia de volta os documentos verdadeiros, nova documentação com nome falso, cerca de 1.500 dólares, itinerário até o Chile de Salvador Allende, antes de chegar ao Brasil. Quando preso, o terrorista era instruído para utilizar algumas artimanhas, para ser levado ao hospital e, assim, prejudicar o interrogatório: 1) colocar fumo na água e bebê-la, provocando crise de vômitos; 2) usar uma dose mínima de estriquinina para provocar convulsões; 3) "tentar" o suicídio; 4) simular grande descontrole nervoso; 6) bater com a cabeça nas paredes.
Hoje, Pinar del Río se destaca pela produção de tabaco, matéria-prima dos charutos cubanos de prestígio internacional, como o Cohiba esplendido (R$ 180,00 a unidade) que Lula da Silva gosta de saborear em 18 cm do mais puro prazer.
Tricontinental - Criada durante a OSPAAAL, que se realizou em Havana, Cuba, de 3 a 15 Jan 1966 ? juntamente com o XXIII Congresso do PCUS. (Em 1965, em Gana, ficou decidido que a OSPAA realizaria seu próximo encontro em Cuba, no ano seguinte, para integrar também a América Latina ? daí OSPAAAL). "Consiste no princípio de que a coexistência pacífica não se pode estender às chamadas ?guerras de libertação nacional?, isto é, às guerras ?entre oprimidos e opressores, entre os povos coloniais explorados e seus exploradores colonialistas e imperialistas? " (Meira Penna, in "Política Externa", pg. 133). À Tricontinental compareceram representantes de 82 países, dos quais 27 latino-americanos. A delegação brasileira foi composta por Aluísio Palhano e Excelso Rideau Barcelos (indicados por Brizola), Ivan Ribeiro e José Bastos (do PCB), Vinícius Caldeira Brandt (da AP) e Félix Ataíde da Silva, ex-assessor de Miguel Arraes, na época residindo em Cuba. A tônica do encontro foi a defesa da luta armada. No encerramento, Fidel Castro afirmou que a "luta revolucionária deve estender-se a todos os países latino-americanos". A Tricontinental foi a estratégia que desencadeou a Guerra do Vietnã e guerras civis como em Angola e Moçambique, e os grupos terroristas que surgiram na América Latina a partir de 1967/68, especialmente no Brasil, Argentina e Chile. No campo cultural, a Declaração da Tricontinental recomendava a "publicação de obras clássicas e modernas, a fim de romper o monopólio cultural da chamada civilização ocidental cristã, cuja derrocada deve ser o objetivo de todas as organizações envolvidas nessa verdadeira guerra". Nesse encontro, o Senador Salvador Allende (futuro Presidente do Chile) faria uma proposta aprovada por unanimidade pelas 27 delegações: a criação da OLAS. Assim, no dia 16 Jan 1966, um dia após o término da Tricontinental, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, que passou a ser dirigida pelo Comitê de Organização, constituído de representantes de Cuba, Brasil, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela, Guatemala, Guiana e México. A Secretaria-geral foi entregue à cubana Haydee Santamaria, e o representante brasileiro era Aluísio Palhano.
ULTAB - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil: fundada em 1957 pelo PCB, teve suas principais bases em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porém, obteve seu maior sucesso em Goiás, onde o movimento tomou as cidades de Trombas e Formoso, e só foi desmobilizado em 1964 pelos militares.
(*) O autor é ensaísta e militar da reserva. Articulista de Mídia Sem Máscara, publicou "Egito ? uma viagem ao berço de nossa civilização", Thesaurus, Brasília, 1995.
Há três anos, José Vicente Brizola, filho do último maragato, havia rompido relações com o pai e se bandeado de guaiaca, cuia, poncho e bombacha para o PT. Deve ter-se arrependido muito, pois logo depois denunciou à imprensa as falcatruas existentes dentro do Partido de Lula. Ao jornalista Plínio Fraga, da Folha de S. Paulo, durante o sepultamento do pai em São Borja, ocorrido no dia 24 de junho de 2004, José Vicente disse que havia se reconciliado com o pai, apenas não havia comunicado ainda o fato à imprensa. Leonel Brizola foi enterrado no mausoléu que já continha os restos mortais de Getúlio Vargas, João Goulart e de sua mulher Neusa Brizola.
"A última vontade do meu avô era te capar" ? disse Leonel Neto, neto de Leonel Brizola, ao deputado Pompeo de Matos, acusado de assediar Juliana, neta de Brizola, quando Pompeu pediu para "esquecer tudo isso" (Cfr. Revista Veja nº 1861, pg. 40). Pelo visto, não sobrou tempo para o maragato dos pampas puxar sua "prateada" da guaiaca e cumprir a ameaça.
Hoje, ao ouvirmos os imponentes acordes iniciais da "Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro" nas propagandas televisivas do PDT, logo nos vem à mente a figura do ultranacionalista Leonel de Moura Brizola, o último dos maragatos. Ironicamente, a bela música da "Fantasia" foi escrita por um inspirado yankee (Louis Moreau Gottschalk), povo declarado por Brizola como sendo o inimigo número um da humanidade.
Bibliografia:
1. ALVES, Márcio Moreira. "O Despertar da Revolução Brasileira". Seara Nova, Lisboa, 1974.
2. AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. "A Grande Mentira". Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001.
3. GRAEL, Dickson Melges. "Aventura, Corrupção e Terrorismo ? à sombra da impunidade". Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2ª edição, 1985.
4. MAIER, Félix. "Nacionalismo e esquerdismo nas Forças Armadas". Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), 2003.
5. MEIRA PENNA, José Osvaldo de. "Decência Já". Instituo Liberal e Nórdica, Rio de Janeiro, 1992.
6. PONTES, Ipojuca. "Politicamente Corretíssimos". Topbooks, Rio de Janeiro, 2003.
7. REVEL, Jean-François. "A Obsessão Antiamericana ? causas e inconseqüencias". UniverCidade, Rio de Janeiro, 2003.
8. TAVARES, Aurélio de Lyra. "O Brasil de Minha Geração ? Mais dois decênios de lutas ? 1956/1976". Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1977.
Anexo: Pequeno glossário retirado de "Arquivos I ? uma história da intolerância", de Félix Maier ? www.usinadeletras.com.br:
CAMDE - A CAMDE foi criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. "Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ?vício do legalismo?, que só mudaria se ?legitimado? por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis" (P. Schmitter, in "Interest, Conflict and Political Change in Brazil", Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", no dia 19 de março de 1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31 Mar 1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: "Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil".
As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, "já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam" (O Estado de S. Paulo, 12/04/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE, foram: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de "O Estado de S. Paulo"; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.
Foquismo - Teoria revolucionária, em que a revolução seria iniciada em pequenos núcleos (focos), para começar a guerrilha rural, com objetivo de dominar a nação. O foquismo foi sistematizado pelo revolucionário comunista francês Jules Debray, e defendida por Fidel Castro e Che Guevara. O PC do B tentou colocar em prática essa teoria na região do Araguaia. "O treinamento a brasileiros em Cuba continua até os dias atuais, embora somente no terreno político-ideológico, na Escola Superior Nico Lopez, do PC cubano, Escola Sindical Lázaro Peña, Escola de Periodismo José Martí, Escola da Federação de Mulheres Cubanas, Escola da Federação Democrática Internacional de Mulheres e Escola Nacional Julio Antonio Mella, da União da Juventude Comunista. Por essas escolas já passaram mais de 100 brasileiros. Todavia, o mais importante em tudo isso, é que a ida de qualquer brasileiro para fazer cursos em Cuba depende do aval do Partido Comunista Cubano, após entendimentos anteriores, de partido para partido. Atualmente, existem diversos brasileiros, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra vêm recebendo, em Havana, treinamento em técnicas agrícolas, e outros matriculados na Faculdade Latino-Americana de Ciências Médicas. O site do Partido dos Trabalhadores oferece vagas e publica as condições definidas por Cuba para matrícula nessa Faculdade" (Huascar Terra do Valle, in "Histórias quase esquecidas", site Mídia Sem Máscara, 10/2/2003). Veja OLAS.
IPES - O IPES passou a existir oficialmente no dia 29 de novembro de 1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa e contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centos menores.
O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES, assim como do IBAD e do Conselho Superior das Classes Produtoras (CONCLAP) haviam sido lançadas no final do Governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças.
O IPES produziu em torno de 8 filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Um escritor de peso do IPES foi José Rubem Fonseca, autor de "Feliz Ano Novo"; segundo Fonseca, o "IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos" (Cfr. AUGUSTO 2001). O IPES chegou a promover, mais tarde, Estudos de Problemas Brasileiros para os Governos Militares pós-1964.
O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em Ago 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do "Complexo IPES/IBAD": 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos ? CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas ? IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales ? CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social ? CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales ? CERES; 5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales ? IPIES; 6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos ? SEI; Fundação Aliança para o Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres. "Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos" (Sebastião Nery, in "Os filhos de 64", Jornal Popular, Belém, PA, 6 Out 1995).
Ligas Camponesas - As origens da organização dos camponeses datam da década de 1940, no trabalho do PCB, que estabeleceu as Ligas Camponesas. Essa atividade ressurgiu na década de 1950, em Galiléia, com a criação da Sociedade Agricultural de Plantadores e Criadores de Gado de Pernambuco, assistida por um ex-membro do PCB, José dos Prazeres, e depois com a formação de sociedades de direito civis e legais, que rapidamente se espalharam por todo o Nordeste, passando a uma rede de Ligas Camponesas ? como eram chamadas pelos proprietários de terras, devido à sua origem da década de 1940. Francisco Julião foi o principal líder das Ligas, com atuação, especialmente, em Pernambuco, do então Governador Miguel Arraes, onde as Ligas colocavam fogo em canaviais e depredavam fazendas. No dia 27 Nov 1962, na queda de um Boeing 707 da Varig, quando se preparava para pousar em Lima, Peru, estava entre os passageiros o Presidente do Banco Central de Cuba, em cujo poder foram encontrados relatórios de Carlos Franklin Paixão de Araújo, filho do advogado comunista Afrânio Araújo, o responsável pela compra de armas para as Ligas Camponesas. Os relatórios detalhavam os atrasos dos preparativos para a luta no campo, acusava Francisco Julião e Clodomir Morais de corrupção e malversação de recursos recebidos. Esses documentos chegaram às mãos do Governador Carlos Lacerda, da Guanabara, que fez vigorosa campanha na imprensa, denunciando a interferência cubana em nosso País. No Brasil, antes de 1964, Cuba financiou ainda as Ligas Camponesas para comprar fazendas que serviram de campos de treinamento de guerrilha. A revista Veja, de 24 Jan 2001, sob o título "Qué pasa compañero?", faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião. (...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como campos de treinamento". Após a Contra-revolução de 1964, as Ligas Camponesas, de inspiração comunista, foram dissolvidas, e Julião obteve asilo no México.
OLAS - Organización Latinoamericana de Solidaridad: no dia 16 Jan 1966, 1 dia após o término da Tricontinental, em Havana, Cuba, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, proposta por Salvador Allende. O terrorista brasileiro Carlos Marighella foi convidado oficial para a Conferência da OLAS em 1967. Ola, em espanhol, significa "onda", seriam, pois, ondas, vagalhões de focos guerrilheiros espalhados por toda a América Latina, como disse o próprio Fidel Castro: "Faremos um Vietnã em cada país da América Latina". Após a Conferência, começam a surgir movimentos guerrilheiros em vários países da América Latina, principalmente no Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. A OLAS, substituída pela JCR, tem sua continuidade no Foro de São Paulo (FSP) e no Fórum Social Mundial (FSM).
Pinar del Río - Província de Cuba, onde havia cursos para terroristas brasileiros nas décadas de 1960 e 1970. O "currículo" incluía: 1) Tática guerrilheira ? o observador, o mensageiro, a coluna guerrilheira, o acampamento, a marcha, sobrevivência na selva (montanhas de Escambray), o ataque, a emboscada; 2) Tiro ? limpeza e conservação do armamento, fuzis: AD, FAL, AK, Garand; metralhadoras: MG52, Uzi; bazuca, morteiro e canhão 152 mm; 3) Comunicações; 4) Topografia ? leitura de mapas, uso de bússola e do binóculo, orientação; 5) Organização do terreno ? construção de abrigos individuais e coletivos, espaldões para metralhadoras e morteiros; 6) Higiene e primeiros socorros ? fraturas, hemorragias, imobilizações, transporte de feridos; 7) Política ? o comissário político, semanalmente, fazia uma palestra. No regresso, o terrorista brasileiro recebia de volta os documentos verdadeiros, nova documentação com nome falso, cerca de 1.500 dólares, itinerário até o Chile de Salvador Allende, antes de chegar ao Brasil. Quando preso, o terrorista era instruído para utilizar algumas artimanhas, para ser levado ao hospital e, assim, prejudicar o interrogatório: 1) colocar fumo na água e bebê-la, provocando crise de vômitos; 2) usar uma dose mínima de estriquinina para provocar convulsões; 3) "tentar" o suicídio; 4) simular grande descontrole nervoso; 6) bater com a cabeça nas paredes.
Hoje, Pinar del Río se destaca pela produção de tabaco, matéria-prima dos charutos cubanos de prestígio internacional, como o Cohiba esplendido (R$ 180,00 a unidade) que Lula da Silva gosta de saborear em 18 cm do mais puro prazer.
Tricontinental - Criada durante a OSPAAAL, que se realizou em Havana, Cuba, de 3 a 15 Jan 1966 ? juntamente com o XXIII Congresso do PCUS. (Em 1965, em Gana, ficou decidido que a OSPAA realizaria seu próximo encontro em Cuba, no ano seguinte, para integrar também a América Latina ? daí OSPAAAL). "Consiste no princípio de que a coexistência pacífica não se pode estender às chamadas ?guerras de libertação nacional?, isto é, às guerras ?entre oprimidos e opressores, entre os povos coloniais explorados e seus exploradores colonialistas e imperialistas? " (Meira Penna, in "Política Externa", pg. 133). À Tricontinental compareceram representantes de 82 países, dos quais 27 latino-americanos. A delegação brasileira foi composta por Aluísio Palhano e Excelso Rideau Barcelos (indicados por Brizola), Ivan Ribeiro e José Bastos (do PCB), Vinícius Caldeira Brandt (da AP) e Félix Ataíde da Silva, ex-assessor de Miguel Arraes, na época residindo em Cuba. A tônica do encontro foi a defesa da luta armada. No encerramento, Fidel Castro afirmou que a "luta revolucionária deve estender-se a todos os países latino-americanos". A Tricontinental foi a estratégia que desencadeou a Guerra do Vietnã e guerras civis como em Angola e Moçambique, e os grupos terroristas que surgiram na América Latina a partir de 1967/68, especialmente no Brasil, Argentina e Chile. No campo cultural, a Declaração da Tricontinental recomendava a "publicação de obras clássicas e modernas, a fim de romper o monopólio cultural da chamada civilização ocidental cristã, cuja derrocada deve ser o objetivo de todas as organizações envolvidas nessa verdadeira guerra". Nesse encontro, o Senador Salvador Allende (futuro Presidente do Chile) faria uma proposta aprovada por unanimidade pelas 27 delegações: a criação da OLAS. Assim, no dia 16 Jan 1966, um dia após o término da Tricontinental, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, que passou a ser dirigida pelo Comitê de Organização, constituído de representantes de Cuba, Brasil, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela, Guatemala, Guiana e México. A Secretaria-geral foi entregue à cubana Haydee Santamaria, e o representante brasileiro era Aluísio Palhano.
ULTAB - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil: fundada em 1957 pelo PCB, teve suas principais bases em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porém, obteve seu maior sucesso em Goiás, onde o movimento tomou as cidades de Trombas e Formoso, e só foi desmobilizado em 1964 pelos militares.
(*) O autor é ensaísta e militar da reserva. Articulista de Mídia Sem Máscara, publicou "Egito ? uma viagem ao berço de nossa civilização", Thesaurus, Brasília, 1995.