Breves considerações sobre os estudos em crescimento, desenvolvimento e aprendizagem motora na Educação Física Escolar.

Autor: Dr. Elionai Dias Soares

Professor de OMF / Anatomia Humana – Cesmac / AL

Curso: Licenciatura em Educação Física – Claretiano / SP

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Introdução

Podemos definir desenvolvimento motor como o processo de mudança no comportamento, relacionado às diversas fases da vida, envolvendo alterações complexas e interligadas entre si. Assim, uma pessoa se desenvolve nos elementos cognitivo, motor e psicossocial, mas não necessariamente nessa ordem. Nesse processo, há diversas teorias que tentam explicar a interrelação dos conceitos. O desenvolvimento motor vai desde o nascimento até o final da vida. Claro que ele começa numa condição crescente, chega ao seu ápice e vai declinando no final da vida. Assim, a cada momento da vida, o ser humano está em constante crescimento, desenvolvimento, maturação e aprendizagem. Dessa forma, existe relação entre crescimento, desenvolvimento e aprendizagem motora. É bem verdade que boa parte dos estudos são concentrados no desenvolvimento da criança, no entanto, a relação de continuidade da aprendizagem motora não cessa em nenhuma idade particular. Assim, vale salientar que o desenvolvimento motor se inicia na fase uterina e continua até a morte. constatando- se que as mudanças oriundas do desenvolvimento são mais intensas as fases iniciais da vida, e não terminando na idade adulta e senilidade.

 

Revisão da literatura e discussão

Pesquisadores têm estudado o controle motor, por meio de diversos esforços sistemáticos, estabelecendo várias teorias. Schumway-Cook e Woollacott (2003) alegaram que o movimento é um aspecto essencial da vida, sendo a essência do sobreviver. Os autores definiram as seguintes teorias: do reflexo; hierárquica; da programação motora; dos sistemas; da ação dinâmica e ecológica. Na teoria do reflexo há a interação de um componente efetor, um receptor e um trajeto nervoso condutor, constituído de pelo menos duas células nervosas que ligam as duas estruturas mencionadas. Na teoria hierárquica, o controle orgânico obedece a uma classificação organizacional de cima para baixo, assim, cada nível imediatamente acima, influenciará no controle sobre o nível mais abaixo (por exemplo a ação do córtex pré-frontal – razão – sobre os reflexos de posicionamento corporal do cerebelo – instintivo). Por outro lado, na teoria da programação motora há o entendimento de que o sistema nervoso central extrapola os aspectos de reação e alcança níveis mais complexos da fisiologia das ações - nível executivo (tomada de decisão) e que define os detalhes essenciais de uma ação habilidosa. Assim, correlaciona-se as teorias com as atividades do professor de Educação Física. A compreensão dos aspectos envolvidos torna-se importante pois devemos nos preocupar em como organizar nosso tempo de atividades (aprendizagem ou treinamento) de modo a gerar uma maximização do processo de aprendizagem dos discentes envolvidos. Portanto, a preocupação se dá com o tempo de prática, assim como com a qualidade dessa prática, na busca da melhor aprendizagem e eficiência.

A divisão em fases facilita o entendimento do processo de desenvolvimento. Movimentos involuntários caracterizam os primeiros movimentos do bebê, durante o período fetal até aproximadamente o quarto mês de vida. Nesse estágio, os centros das informações e o centro cerebrais básicos estão mais desenvolvidos que o córtex motor. Na sequência, depois do quarto mês, os centros superiores do cérebro se desenvolvem, ocorrendo uma transição do comportamento sensório-motor para o comportamento percepto-motor, com desenvolvimento do córtex. Aproximadamente com um ano de idade há um rápido desenvolvimento dos processos cognitivos superiores e motores, constatando um período no qual as crianças já estão envolvidas na experimentação das potencialidades de movimento do seu corpo. Na sequência, por volta dos 7 ou 8 anos, verifica-se a combinação de habilidades fundamentais progressivamente desenvolvidas em uma crescente complexidade.

Assim, conhecer e entender os conceitos abordados embasará o profissional de educação física numa atitude mais ética, construída ao longo de seu processo de formação, na busca da reflexão e questionamento do complexo processo de desenvolvimento humano. Dessa forma, uma prática eficaz deverá estar pautada em relatos teóricos e científicos. Como exemplo, pode-se citar a necessidade de justificar uma estruturação de aulas de maneira não convencional, portanto diferenciada de acordo com uma população específica a ser considerada, em conformidade com as diversas faixas etárias (infância, adolescência, fase adulta e indivíduos na terceira idade). O texto base cita Gallahue e

Ozmun (2005) e Weineck (2005) ao destacar que é essencial, por parte do professor, a diferenciação do desenvolvimento motor e aprendizagem, medida em que há o reconhecimento das capacidades individuais pautadas em termos sociais, físicos, emocionais e cognitivos de seus aprendizes. Dessa forma, haverá um maior cuidado no planejamento de suas aulas.

Nesse ínterim, chama a atenção sobre a “observação no espelho”, conforme abordado por BARRETO, em 2014, que busca alertar sobre uma reflexão sobre o passado, em detrimento do presente. O autor destaca sobre a preocupação do tema, citando filósofos, biólogos, psicólogos e profissionais da Educação Física, que se perguntam sobre início e a evolução do processo de desenvolvimento e envelhecimento. Logo no início, verifica-se a abordagem genética (condição em que há a herança cromossomial de seus antecedentes) mas também a influência de fatores externos (meio ambiente). Dessa forma, temos representantes da teoria inatista (Arnold Gesell; Jennings) assim como da empirista (Gesell; John Locke; Watson). No entanto, chama a atenção nesse item introdutório que atualmente tendemos para um entendimento “intermediário”, com explicação interacionista nas explicações do desenvolvimento humano, tendo como um importante defensor, Jean Piaget (1896-1980).

 

Conclusões

Por tudo exposto, a relação do conteúdo com a prática profissional ocorre na medida em que a criança, durante o processo educativo / aprendizagem, utiliza suas capacidades sensoriais, motoras e reflexas para interagir com o mundo que o cerca. Por meio das experiências vivenciadas, o professor poderá adequar com novos estímulos, mediante constatação do que está sendo aprendido e desenvolvido. Mas vale salientar que numa análise mais filosófica, o mundo será sempre o da criança, na percepção dela, conforme suas experiências vivenciadas. Obviamente cabe ao profissional tentar entender, adequar e estimular, de maneira positiva. No entanto, o tema será sempre um grande desafio, seara de muitas reflexões no campo pedagógico ou filosófico, pois afinal, o mundo que se observa é grande parte inatingível no prisma do outro, portanto único, e somente percebido por ele próprio, por ser o mundo de cada qual.

 

Referências

BARRETO, S. M. G. Crescimento e Desenvolvimento. Batatais: Claretiano, 2014. BARRETO, S. M. G. Aprendizagem e Controle Motor. Batatais: Claretiano, 2013.