Breve analogia entre as estruturas da Língua Portuguesa e da Língua Brasileira de Sinais.

Autor: Dr. Elionai Dias Soares 

Professor de OMF / Anatomia Humana – Cesmac / AL 

Formado em Educação Física 

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@soaresbikefit

Co-autora: Camila Conceição Luz Soares 

Acadêmica do Curso de Nutrição – Cesmac / AL 

@camilaIIsoares

 

Considerações Iniciais

A intenção deste trabalho é apresentar uma breve analogia entre as estruturas da Língua Portuguesa e da Lígua Brasileira de Sinais (Libras), demonstrando suas principais diferenças. A maioria dos ouvintes apresenta dificuldade para aprender a Libras, sobretudo, no que tange a estrutura gramatical desta língua. Assim, para o ouvinte, ao aprender Libras, estamos diante de dois aspectos: os sinais manuais e os sinais não manuais, como por exemplo, a interrogação e a negação. De igual forma, na aquisição de uma língua e no desenvolvimento da linguagem, abordaremos a importância da Língua de Sinais para o desenvolvimento linguístico, cognitivo e afetivo da criança surda e de como é importante que os ouvintes também aprendam esta língua.

 

Analogia com as principais diferenças entre a estrutura da Língua Portuguesa e da Libras

Língua Portuguesa

- Língua antiga;
- língua escrita-oral-auditiva;
- a informação linguística é recebida pela audição e produzida pela fala;
- na língua oral, os elementos mínimos (fonemas) são produzidos de maneira linear (horizontalmente e no tempo);
- articuladores primários são decorrentes da audição/fala;
- os movimentos do corpo e da face desempenham funções secundárias;

- possui marcação de gênero, ao ponto de ser redundante;
- as palavras complexas são, muitas vezes, formadas pela adição de um prefixo ou sufixo a uma raiz.

 

Libras

- Língua razoavelmente nova;
- é visual-espacial (ou espaço-visual);
- a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos;
- os elementos mínimos constituintes são processados simultaneamente;
- os articuladores primários são decorrentes das mãos;
- os movimentos do corpo e da face desempenham funções primordiais;
- não tem marcação de gênero;
- essas formas resultam, frequentemente, de incorporação, com processos não concatenativos, em que uma raiz é enriquecida com vários movimentos e contornos no espaço de sinalização.

 

Discussão

Para o ouvinte, considero que existam dificuldades naturais para o aprendizado dos sinais manuais. No entanto, segundo Pedroso e Rocha (2013) a maior dificuldade encontra-se para as expressões não-manuais, que incluem interpretações dos significados, em forma de expressões corporais. A justificativa se dá, pois, a Língua de Sinais utiliza as expressões faciais e corporais para estabelecer tipos de frases, como as entonações na Língua Portuguesa. Portanto, para frases em Libras na forma afirmativa ou interrogativa, por exemplo, as expressões faciais e corporais farão parte de uma interpretação, que são feitas ao mesmo tempo, com os sinais manuais. Nas frases afirmativas as características das expressões faciais correspondentes aos tipos de frase se expressam por meio de expressão facial neutra ou ligeiro movimento com a cabeça para cima e para baixo. Por outro lado, nas interrogativas as sobrancelhas estão franzidas, com ligeiro movimento da cabeça para cima.

Assim, no desenvolvimento da criança surda, sob os aspectos linguísticos, afetivos e cognitivos, é de fundamental importância a garantia de primeira aquisição a Libras. Desta forma, o surdo será sujeito da linguagem, até mesmo para o aprendizado mais adiante (normalmente a partir dos 5 anos) da Língua Portuguesa, como segunda língua (abordagem bilíngue). Lamentavelmente, a Língua Portuguesa vem sendo ministrada inadequadamente para surdos, de maneira comum, sob um entendimento de que o Português, como “língua materna”, e desconsiderando o processo de adequação às especificidades da língua oral-auditiva x língua visual-espacial. Obviamente, um alto índice de fracasso é observado, com consequências sociais graves, sobretudo, de exclusão. Também há de se destacar a formação deficiente dos docentes, com relação às metodologias e pedagogias específicas, no ensino de Libras e Português, como segunda língua. Portanto, deve-se reconhecer que existam duas realidades distintas no aprendizado de surdos e ouvintes.

 

Considerações Finais

Muito embora os surdos decodifiquem a Língua Portuguesa, verifica-se a dificuldade de interpretação mais aprimorada, pois as práticas de letramento a que os surdos foram submetidos não privilegiam a leitura, mas o oralismo. Por fim, vale destacar que há urgente demanda para que os ouvintes também aprendam a Língua de sinais, para que ocorra uma abordagem inclusiva, onde a surdez da criança não é mais vista como patologia, e nem a criança surda como um doente, mas um ser humano em formação, com identidade própria, cultura e em desenvolvimento social.

 

Referências:

LIRA, G. A.; SOUZA, T. A. F. Dicionário da Língua Brasileira de Sinais. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Dicionárioi virtual. Disponível em: Acesso em 11 set. 2020.

PEDROSO, C. C. A.; ROCHA, J. C. M. Língua Brasileira de Sinais. Batatais: Claretiano, 2013.

YOUTUBE. A importância de ter intérprete na sala de aula. Vídeo. Disponível em: Acesso em 11 set. 2020.