O momento presente nem sempre nos mostra tudo que a perspectiva histórica pode nos revelar. E isso é uma verdade ainda mais evidente quando estudamos a história do Brasil, neste caso, a implantação da república.

Naqueles tempos do século XIX a monarquia não estava satisfazendo aos interesses do desenvolvimento do país. Havia muito trabalho a ser feito, mas a mão de obra escrava andava escassa. Os acordos do império brasileiro com o império britânico impedia a importação de mais escravos africanos. Não por razões humanitárias, mas por interesses do comércio inglês. Menos escravos, para eles, era igual a mais consumidores. Pelo menos em potencial.

Entre outros esse foi um dos motivos pelos quais se optou pela importação de imigrantes: mão de obra barata, pois os imigrantes queriam terra e trabalho. Eram pessoas livres para trabalhar com perspectivas de melhorar de vida e ter dinheiro, ao menos esse era o sonho. Eram potenciais consumidores para o comércio e trabalhadores sem despesas de manutenção, para os fazendeiros do café. O escravo tinha que ser mantido; o imigrante mantinha-se, mesmo que fosse a duras penas.

E assim vieram os imigrantes. Mas a economia não deslanchou. Aboliu-se a escravidão, mas a economia não decolou. E quem havia apostado na monarquia, percebeu-se traído, pois o imperador não podia fazer o milagre de satisfazer a tantos interesses divergentes e até contraditórios: O povo não tinha acesso à participação na política. Os fazendeiros não mais podiam contar com seus escravos. Os militares viam-se alijados dos benefícios da realeza e aproximavam-se dos ideais republicanos.

A solução encontrada foi a dos militares: eles tinham o poder organizado das armas que nem o imperador nem os fazendeiros possuíam, nem mesmo o partido republicano. E assim se fez a república em nosso pais. Ela nasceu de uma aliança entre os militares e o partido republicano. Ambos os grupos escolheram alguém que melhor os representasse: um velho e adoentado marechal. Deodoro da Fonseca foi chamado para conduzir as tropas e destituir d. Pedro II do governo. Estava proclamada a república. Era uma manhã do dia 15 de novembro. Poucos mais de um ano após a lei que decretou o fim da escravidão, em 13 de maio de 1888.

A proposta política era o fim de um regime (a monarquia) para a instalação de outro (a república). De fato e para o povo trabalhador, entretanto, nada mudou. Era como mudar de roupa sem trocar de pele, como disse um personagem de Machado de Assis, no romance Memorial de Aires.

A monarquia esvaiu-se, com a deportação da família real. Em seu lugar permaneceram mandando, sem nada mudar no e para o país e seu povo: os militares com suas espadas e os fazendeiros com seus cafezais. O poder, de fato, alojou-se nas mãos dos militares. Por isso os primeiros anos de nossa república recebeu o apelido de “República da Espada”.

Nos primeiros anos (1889-1891) o governo esteve nas mãos e Deodoro da Fonseca. Organizou a primeira constituição, estabelecendo as bases da república: organização do Estado em modelo federalista (organizado em unidades federativas, na época denominados de províncias, hoje são os estados); sistema de governo presidencialista (governo exercido por um presidente eleito) e três poderes (executivo, exercido pelo presidente; legislativo, exercido pelo congresso nacional e judiciário, com juízes nomeados pelo presidente).

Essa república criança, definiu-se como laica ( nenhuma confissão religiosa seria adotada pelo poder público, como no império que era assumidamente católico). Mas não se deu direito político às mulheres, pois somente os homens podiam votar.

O clima de insatisfação não diminuiu. Os marinheiros de rebelaram na primeira revolta da armada. E o governo caiu nas mãos de outro militar: Floriano Peixoto que governou até 1894. A insatisfação política permanecia, mas a república estava instalada. A fase seguinte seria uma nova comédia, com antigos atores: a politica do café com leite.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO