A história política do Brasil não é só uma comédia. É, também, uma tragédia.

A comédia se deve ao fato dos integrantes da peça encenada tentarem se fazer de bons meninos, quando defendem apenas os próprios interesses. A tragédia se deve ao fato daqueles que ocupam o poder político serem os que sugam o sangue e o suor da nação e do povo que a constitui.

Essa situação atual, vem de longa data. Começou com o começo da República. Mas só o atual, porque o período anterior também foi trágico.

O começo da tragédia: 1889! Nesse ano os fazendeiros, os militares e mais alguns integrantes da classe dominante implantaram a República no Brasil. Instalou-se a República da Espada, mas cinco anos depois ela foi sucedida por uma outra modalidade. Foi um modelo baseado na troca de favores dentro das oligarquias nacionais.

Em que consistiu isso? De um lado o presidente que precisava de apoio para governar. Fazia aliança com os governadores dos estados. Em troca do apoio os governadores cobravam do presidente que também os apoiasse para se manterem no poder. Esse toma lá dá cá recebeu o nome de Política dos Governadores. Sua base política: o coronelismo

Quem eram os coronéis?

Não eram militares! Eram fazendeiros, principalmente produtores de café, no sudeste; os produtores de açúcar, no nordeste e os caudilhos do sul. Eram os personagens mais poderosos de cada região. Eles cabresteavam os eleitores (voto de cabresto) a fim de eleger o governador que os apoiasse e que, por sua vez, receberia apoio do presidente. Uma perfeita canalização de troca de influências e poderes e favores.

E o Povo? Os antigos escravos: estavam perdidos por ai, tentando sobreviver nas fazendas ou virando favelado nas cidades. Os imigrantes: salvo raras exceções, também ficavam enredados nas fazendas, aprisionados pelas dívidas da passagem que os trouxera da Europa. As mulheres: continuavam cumprindo seu papel de donas de casa e procriando as crianças que nasciam para manter as estruturas: os filhos dos pobres nasciam para trabalhar nas propriedades dos filhos dos ricos que nasciam para mandar.

Dessa forma, enquanto as oligarquias trocavam favores, favorecendo-se mutuamente, os pobres eram explorados e faziam apenas figuração na encenação tragicômica dos primeiros tempos republicanos.

Aconteceu que essas oligarquias foram se aprimorando no exercício do poder. O aprimoramento foi tanto que os nordestinos e sulistas passaram a ser coadjuvantes na encenação feita por paulistas e mineiros: era a política do café com leite, pela qual as oligarquias desses dois estados se alternavam na cadeira da presidência, assistidos pelos sulistas e nordestinos que, podiam até esbravejar, mas ainda não haviam se articulado suficientemente, ao ponto de assumir o poder. Isso só aconteceria alguns anos depois, em 1930, quando Vargas assume o poder.

Tudo andava muito bem mas, como sempre, os descontentes se rebelam. Em nossa história não foi diferente. E ocorreram vários conflitos: duas guerras Canudos no nordeste e Contestados no sul. E inúmeras revoltas, como a da chibata, da vacina, o cangaço … mas isso ainda era só o começo da República …

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura – RO

 

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