BOLINHAS DE MERCÚRIO
Por REGILBERTO GIRÃO | 12/11/2009 | ContosO que é felicidade? Algo intangível, inatingível ou efêmero? Em que se traduz, afinal das contas?
Para muitos, é relativa ao que se pode ter. Para outros, se relaciona
ao que se pode sentir. Para alguns poucos, ela se desmembra em
fragmentos, tal quando brincava, ainda criança, com o mercúrio que
vazava de termômetros que se quebravam. Ao chão, se espalhavam
incontáveis bolinhas prateadas, as quais tentava reunir para,
novamente, fazer uma única. Até cansar, desfazia a unidade e a
reintegrava.
A vida nos mostra que por mais que tentemos reunir todas estas
"bolinhas" - estes fragmentos de felicidade -, sempre haverá uma ou
outra tão diminuta que mal será vista e acabará por passar
despercebida. Outras, se entranharão pelas frestas dos tacos de madeira
e não mais as alcançaremos, o que acabará por nos frustrar pela perda.
A gente esquecia delas, com o tempo, até que outro daqueles se
quebrasse, às vezes propositalmente, e repetíssemos a "brincadeira".
Tentamos, continuamente, nos remeter à felicidade por meio de músicas,
poemas, lembranças, flores, lugares, momentos, pessoas......
representadas pelas tais "bolinhas de mercúrio" que nos insurgem ao
interminável desejo de vê-las reunidas e completas, em uma só unidade.
Insatisfeitos, queremos que a unidade seja grande e única, reunindo
todos os anseios de felicidade. Mas, as diminutas e aquelas por entre
os tacos continuarão lá, perdidas e despercebidas. Sempre faltará algo
na unidade.
As "bolinhas de mercúrio" e a felicidade têm uma relação tão estreita
que chega ao ponto de podermos facilmente correlacioná-las. Você perde
a unidade, que antes presa em um invólucro seguro e hermeticamente
fechado, que ao se quebrar, se espalha em centenas, milhares de
minúsculas "bolinhas" - fragmentos de felicidade -, que impelem que as
juntemos novamente.
O frasco se quebrou. Não há como reconstituí-lo. Mas, há como tentar
reunir as "bolinhas" e refazer a unidade. Umas se perderão, outras
serão perdidas, mas a maior parte pode ser resgatada e unificada.
Isto feito, a unidade "completada", o objetivo nos parece ter sido
cumprido. Mas, não, aquilo passou. Já não é mais nosso desejo.
Queríamos, mesmo, era reunir tudo, recolocar no frasco e fechá-lo
hermeticamente, novamente.
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Cada um de nós está em seu universo. Cada qual com suas constelações.
Em suas infindáveis transformações, o universo promove eventos que a
totalidade da humanidade desconhece. Dentre eles o BIG BANG, uma fuga
cósmica que, teoricamente, promove a expansão do universo.
Pois bem, seu universo se expandiu em um tão intenso brilho que pareceu
um piscar de olhos em direção ao meu, que, tomado por seu calor,
sucumbiu.
Meu universo é seu. Poderemos perder umas ou outras, mas podemos ser UM só universo. Únicos, tal qual as "bolinhas de mercúrio".
REGILBERTO GIRÃO © 2008