As embalagens desempenham uma função incisiva no armazenamento de alimentos, pois atuam na acomodação e na conservação alimentícia. Nesse sentido, Bernardo (2015) afirma que, à medida que os alimentos embalados passaram a ter uma maior importância na dieta de grande parte das populações, a ênfase dada aos problemas toxicológicos advindos da interação da embalagem com o alimento foi aumentada.

A substância denominada como Bisfenol A (BPA) é um xenoestrogênio sintético (SOHRAB et al.,2016), que passou a ser empregada na produção de plásticos em geral.  Dessa maneira, encontrou-se um composto transparente, leve, forte e, ao mesmo tempo, duradouro, o que deu maior resistência aos produtos (BESERRA et al., 2012) e devido a esse caráter, é utilizado   em larga escala mundial, sendo utilizado para produzir polímeros sintéticos, resinas epóxi, envernizamento interno e externo de latas alimentícias, em garrafas de água e pode ser utilizado também  na produção de policloreto de vinila, conhecido também como PVC, papéis térmicos, redutores de chamas, resinas de restauração dentária, selantes e, em maior parte, utensílios alimentícios e mamadeiras. Sendo assim, o BPA é amplamente aplicado em materiais utilizados na conservação de alimentos, expondo este ao contato diário com o ser humano.

Mas, apesar de sua propriedade utilitária, em 1993, um estudo revelou um possível efeito danoso à saúde humana e de outros seres-vivos, já que em sua manipulação ocorre a liberação de uma substância que atua como um desregulador endócrino, afetando o equilíbrio hormonal. Essa substância então foi nomeada como Bisfenol A, uma substância de fácil absorção quando administrada de forma oral, sendo rapidamente metabolizado quando a reutilização desse material é continua. A característica de desregulador endócrino do BPA dá-se devido a suas moléculas mimetizarem hormônios esteroides competindo por receptores específicos presentes nas membranas celulares.

       No entanto, em alguns casos, o BPA aumenta a influência sobre o comportamento da tireoide, alterando a secreção de hormônios. Dentre seus efeitos podemos destacar tanto a influência sobre a reprodução animal (pode bloquear a secreção da testosterona de modo a aumentar a incidência de neoplasias prostáticas), quanto a desmasculinização animal (bloqueia a ação da testosterona, atuando na diminuição dos caracteres secundários masculinos e reduzindo a produção espermática). Essas atividades, causadas pela intoxicação de BPA, provocam a redução populacional de espécies silvestres, em decorrência do alto número de descarte irregular e grande acúmulo de derivados desses polímeros no meio ambiente.

       Essa atividade é observada em alguns peixes onde compostos semelhantes, por exemplo, mostraram que animais, como peixes, tiveram mudança no sexo devido a alteração hormonal relativa aos micropoluentes segundo Leandro Goulart de Araújo engenheiro químico da USP, que afirma também que o bisfenol não desaparece, ele é quebrado e forma intermediários.       Dependendo do que acontece na reação, forma compostos que geram desregulação endócrina maior ou são mais tóxicos que o próprio bisfenol. Recentemente, os resultados de estudos epidemiológicos mostraram que a exposição da população em geral, ao BPA pode aumentar o risco de doença cardíaca coronária e distúrbios metabólicos incluindo diabetes e obesidade; no entanto, novas investigações devem ser realizadas para confirmar os resultados. (BERNARDO,2015).  Já os efeitos no sistema nervoso, tal como alterações relativas a efeitos neurotoxicos e teratogênicos do BPA são inconsistentes, portanto, não há forte evidência de que o BPA apresente ação em seres humanos, como afirma Michalowicz J.  2014.

 Embora estudos apontam tais danos, pesquisadores admitem que não é possível avaliar os efeitos provocados pelo Bisfenol, devido ao fato da sua digestão estar em um nível tolerado segundo o índice TDI (Tolerable Daily Intak), definido pela European Food Safety Authority – EFSA em 2006. Ressaltando que não existe uma recomendação feita pela Organização Mundial de Saúde, a respeito da proibição dessa substância. Segundo informações do site bisfenol-a .org , o BPA  tem sido estudado e testado por mais de 50 anos ,sendo avaliado por diversas autoridade sanitárias  de todo mundo ,como por exemplo o ECB ( escritório europeu de Substancias Químicas), EFSA( Autoridade Europeia de Segurança Alimentar), Agencia de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos(FDA)  e Ministério Japonês de Saúde, Trabalho e Bem Estar Social. Essas agencias confirmam a segurança na utilização do BPA, afirmando que qualquer medida restritiva ao uso do produto é baseada em princípio de precaução e não em evidências cientificas que comprovam que há risco na manipulação de tal. Apesar de toda essa controvérsia na utilização de Bisfenol, diversos países vem tomando medidas para reduzir sua utilização, como no Brasil a partir de 2012 , por meio da Resolução RDC n. 41/2011, restringiu o uso dessa substancia na fabricação de alguns produtos, como  mamadeiras em policarbonato .

         Para as demais aplicações, o BPA ainda é permitido, mas a legislação estabelece limite máximo de migração específica desta substância para o alimento que foi definido com base nos resultados de estudos toxicológicos.

         Em 2010, a SBEM-SP( Sociedade Brasileira de Endocrinologia) lançou a  campanha “Diga não ao bisfenol A, a vida não tem plano B”, com o objetivo que a substância fosse banida de produtos infantis e de embalagens de alimentos, até que haja evidências de que o composto é prejudicial à saúde humana, e estabeleceu recomendações para reduzir o uso de materiais que contenham BPA, como as seguintes:

  1.  Use mamadeiras e utensílios de vidro ou BPA free para os bebês.
  2. Jamais esquente no microondas bebidas e alimentos acondicionados no plástico. O bisfenol A é liberado em maiores quantidades quando o plástico é aquecido.
  3.  Evite levar ao freezer alimentos e bebidas acondicionadas no plástico. A liberação do composto também é mais intensa quando há um resfriamento do plástico.
  4. Evite o consumo de alimentos e bebidas enlatadas, pois o bisfenol é utilizado como resina epóxi no revestimento interno das latas.
  5. Evite pratos, copos e outros utensílios de plástico. Opte pelo vidro, porcelana e aço inoxidável na hora de armazenar bebidas e alimentos.
  6.  Descarte utensílios de plástico lascados ou arranhados. Evite lavá-los com detergentes fortes ou colocá-los na máquina de lavar louças.
  7. Caso utilize embalagens plásticas para acondicionar alimentos ou bebidas, evite aquelas que tenham os símbolos de reciclagem com os números 3 e 7 no seu interior e na parte posterior das embalagens. Eles indicam que a embalagem contém ou pode conter o BPA na sua composição."

       A partir dessa revisão bibliográfica podemos concluir que a principal atuação do BPA é o sistema endócrino, mas existem controversas sobre sua atuação no organismo, portanto entende-se que é necessário estudos mais conclusivos a respeito.

Referência bibliográfica

ANVISA. Bisfenol A. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2015.

Bernardo PEM, Navas SA, Murata LTF, Alcântara MRS. Bisfenol A: o uso em embalagens para alimentos, exposição e toxicidade – Uma Revisão. Rev Inst Adolfo Lutz. São Paulo, 2015;74(1):1-11.

BESERRA, Marli Rocha; SCHIAVINI, Joyce de Araújo; RODRIGUES, William Costa; PEREIRA, Cristiane de Souza Siqueira. O Bisfenol A: Sua Utilização e a Atual Polêmica em Relação aos Possíveis Danos à Saúde Humana. Revista Eletrônica TECCEN, v. 5, n. 1, jan./abr., 2012, p. 37-46.

ECYCLE. Você sabe o que é BPA? Conheça e previna-se. Disponível em: . Acesso em: 04 out. 2015.

Endocrino.BisfenolA.,2011.Disponívelem:<https://www.endocrino.org.br/bisfenol/> Acessado em: 30 de Out de 2019

Marcel,Giovanni. Degradação diminui impacto de composto tóxico na natureza. Agencia universitária de noticias-USP, 2018. Disponivel em: < https://paineira.usp.br/aun/index.php/author/giovanni-marcel/> Acessado em: 30 de Out, de 2019.

Michalowicz J. Bisphenol A - Sources, toxicity and biotransformation. Environ Toxicol Phar. 2014; 3 (2):738-58. doi:10.1016/j.etap.2014.02.003

OBisfenolA-(C15H16O2),professoralucianekawa,2014. Disponivel em:< http://professoralucianekawa.blogspot.com/2014/07/o-bisfenol-c15h16o2.html> Acesso em 30 de outubro de 2019.

OLIVEIRA G.C.P., ARAÚJO J.V.S., JUNIOR A.M.C., PALOMBIT K. Bisfenol A: Possíveis efeitos e danos ao organismo - Revisão de literatura. Jorn. Inter. Bioc., v.2, n.2, 2017

SENCI, Rafaela Sargi. Efeitos do Bisfenol A: Um Desregulador Endócrino. Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA – Assis, 2015.