Bem-vinda! Só que não.
Por Fernando | 14/07/2015 | FamíliaSe tem uma fase da vida tumultuada de verdade é a de estudante universitário. Nossa, como esse período dá trabalho! Parece que todas as complicações do mundo fazem um acordo e caem sobre nossa cabeça ao mesmo tempo só pra nos provocar, viu? É como se estivéssemos em uma caverna ativa: problemas caem do teto e brotam do chão, como estalactites e estalagmites; um riachinho barulhento e turvo corre sem parar pelo chão e não conseguimos nos desligar de seu barulho; a escuridão nos impede de ver o caminho que estamos seguindo e ficamos sem saber se aquele é o lado certo ou o lado errado. Afe... que fase!
E como se já não bastasse, pra quem é estudante vindo de fora (meu caso), ainda tem a confusão das repúblicas. Olha... na próxima vida quero nascer rica pra poder morar sozinha no meu próprio apê, tá? Isso de morar em república é muito confuso! Se compro uma caixa de leite, tenho que escrever meu nome nela senão vem alguém e toma ela toda (e nem sempre o nome na caixa intimida, vamos concordar). Mesma coisa com o pão. Mesma coisa com o chocolate. Mesma coisa com a manteiga. Meu Deus... E foi por ter meus limites invadidos tantas vezes que resolvi me mudar da república em que eu estava pra uma outra, na metade do curso. Passei pela clássica “entrevista” com as moradoras e lá, fui “aprovada” e combinamos a data da mudança. Acontece que um problema chato – mas MUITO chato mesmo! – aconteceu nesse processo, e o que me salvou foi a empresa de mudanças que contratei ter um guarda-móveis à disposição, senão estava mais lascada do que já tinha ficado!
Falha na comunicação
O que aconteceu foi o seguinte: na república pra onde eu ia, já moravam 4 moças mas, no dia da entrevista, uma delas estava viajando. Então fui entrevistada pelas outras três. Até aí tudo bem. O problema é que o local onde a quarta moça estava não tinha sinal de celular (um desses rincões pra acampamento da vida) e as meninas não conseguiram falar com ela que a entrevista já tinha rolado e que já avia a nova moradora definida. Mas aí, pensaram: bom, quando ela chegar, a gente fala”. Ok, tudo certo, data definida e eu de mudança dali a dois dias.
Foi quando aconteceu a confusão. No dia que a quarta moça voltou, não tinha ninguém em casa – e como eu ainda não tinha me mudado pra lá, ela resolveu pensar que não tinha acontecido entrevista alguma ainda. Ela mesma resolveu entrevistar uma colega da turma dela e a convidou pra ir morar lá na república. Essa colega topou e se mudou pra lá no dia seguinte, para espanto das outras moradoras (as que haviam me entrevistado).
Enquanto tentavam entender o que havia acontecido, a campainha tocou: era eu, de mala e cuia, lá no interfone do prédio. “Chegueeeeeei!”, falei animada. E a “chefe” da república me pediu pra esperar porque ela já estava descendo. A voz não parecia boa mas pensei que ela talvez estivesse estressada por causa de provas e trabalhos. Foi quando ela me contou que havia acontecido um “pequeno problema” de comunicação lá na república. O sorriso fugiu da minha cara como se fosse um ladrão. Enquanto ela me explicava o ocorrido, o pessoal do caminhão de mudança estava estacionado atrás de mim, esperando para descarregar minhas coisas.
Solucionando algo insolucionável
Eu fiquei pra lá de aborrecida! Que tipo de república é essa em que uma única moradora “resolve” chamar alguém pra morar lá sem comunicar às outras? E agora, como faríamos? A tal colega já estava completamente instalada com suas coisas no quarto vago e seria uma baita sacanagem fazê-la sair assim – mas e eu? E minhas coisas ali no caminhão? Já não dava mais pra voltar à república anterior – e eu nem queria isso – e praquela nova eu já não podia mais ir porque alguém furou a fila sem saber. Entrei em parafuso.
Mas minha sorte é que essa chefe da república era muito tranquila e me ajudou a achar uma solução. Ela sugeriu o seguinte: deixar minhas coisas no guarda-móveis da empresa de mudanças e ficar hospedada na república dela enquanto procurava por uma outra. Eu ficaria no quarto dela, num colchão, mas pelo menos seria um abrigo seguro. Parecia uma boa ideia, se não fosse o custo adicional do aluguel do guarda-móveis e da nova mudança para o novo endereço, que não estavam previstos e nem cabiam no meu orçamento. Ela calmamente me disse: “isso quem vai pagar é a maluca que fez essa confusão toda, não se preocupe. Ela causou esse transtorno todo, ela vai ter que arcar com isso”. Cheguei a me assustar com a tranquilidade com que ela disse isso! Não me admira nada ela ser a chefe da casa.
Solução decidida, fomos comunicar ao pessoal do caminhão sobre o acontecido e o que pretendíamos fazer. Por sorte, eles tinham um pequeno galpão disponível na sede (o que era bom, já que eu não tinha muita coisa, mesmo), e levaram minhas coisas pra lá. Subimos e comunicamos tudo às outras moradoras – inclusive sobre a responsabilidade da causadora da confusão toda. Ela não gostou nada da decisão da chefe e protestou bastante, mas não teve discussão: até a colega que ela chamou concordou que a culpa era dela.
E assim foi. Levei pouco mais de uma semana pra achar outra república, passar por uma nova entrevista e ser aprovada, pra finalmente me mudar pra lá. Acabei ficando amiga das meninas – apesar da maluquinha lá virar a cara pra mim até hoje quando me vê na rua – e esse foi um grande lucro gerado no meio da confusão. Ah, mas que me estressou... estressou!