BELO HORIZONTE                                  

Belo Horizonte, 22-12-1976

 

Sinto-me profundamente triste,

Ao atravessar a linda avenida

E ver tantas coisas feias.

 

Um popular atropelado,

Um pedinte caído,

Uma prostituta em chagas,

Uma balconista cansada.

Todos ganhando a vida,

Todos ganhando a morte.

Povo de pouca sorte.

 

Ninguém sabe para onde vai,

Andam como máquinas.

Ninguém é de ninguém,

Todos são marionetes,

Que andam em linha reta

Num passeio sinuoso,

Em uma tangente automática

Como retardados mentais.

 

Uns tombando nos outros,

Voltam-se, se agridem, brigam

Como loucos violentos

Quando os olhos estão em chamas.