A avareza, esta particularidade humana deve ser observada atentamente, comumente associada a um sentido pejorativo, ao qual o homem se desvaloriza em relação aos bens que possui, ainda sendo conveniente a um consumismo que é exaltado em uma sociedade capitalista.
Sobre outra perspectiva, observamos a avareza como reconhecimento da conquista, valorização daquilo que obteve e do sacrifício para alcançar o seu objetivo, aumentando o ego apartir do objetivo alcançado, metamorfoseado naquilo que se tornou um bem para o indivíduo.
Além dos objetos que consome, existem sentidos de posse bem mais complexos, como o caso do corpo e a luta contra as instituições disciplinares, conforme arguta exposição do filósofo francês Michel Foucault, no combate contra uma moralização castradora, que limita o sujeito a condicionantes que muitas vezes corrompem seu estado de ser.
Ainda existe a questão de alteridade, que consiste em saber dar valor ao bem alheio, conforme o desejo de respeito para consigo e suas conquistas, criando assim um mutualismo nas relações de aproveitamento de desejos, tendo em vista a descaracterização do outro acarretar em minha própria degradação, citando um exemplo simplório, poderia mencionar o caso do sujeito que adora pão, mas desvaloriza o produtor de trigo, que poderá ser afetado e fazer cair a qualidade do produto, que chegará a padaria, ainda mais desvalorizado, acarretando em chegar a mesa do consumidor, de forma aquém de suas expectativas.
Também não devemos esquecer o olhar sobre o que obtenho, sendo este variado, conforme cada indivíduo, o que possui valor para um não é valioso a outro, o que possibilita evidenciar que, desejar o bem alheio acarreta consequentemente na obtenção de algo que lhe trará uma sensação, diferente daquela que desejou obter ao observar o outro possuidor, cabendo ao sujeito a consciência de que seu prazer ávaro é único e que somente ele desfruta de tal dádiva.
Ainda existe outra questão, e se o bem que um indivíduo deseja for conflitante a ponto de não poder coexistir com o bem de outro, nesse caso, sem valores moralistas envolvidos, existem apenas duas saídas. A primeira consistiria em ambos abandonarem suas metas, buscando outros ideais não conflitantes, a segunda seria o conflito entre ambos e a extinção de uma das partes, tendo como experiência prática, que a grande maioria das pessoas opta pela segunda opção.