AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EM TURMAS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ESCOLA PÚBLICA DE SÃO PAULO
Publicado em 14 de janeiro de 2020 por Carlos Humberto Biagolini
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EM TURMAS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ESCOLA PÚBLICA DE S.PAULO
Por: Prof. Dr. Carlos Humberto Biagolini.
RESUMO
Atualmente o ensino privado e o público, passam por momentos de mudanças onde se busca formas e métodos mais eficientes para se obter melhores resultados no aprendizado e assim, elevar os níveis de rendimento escolar que tem apresentado quedas nos últimos anos. Um dos grandes problemas enfrentados por professores, alunos e equipe escolar está relacionado com o desinteresse por parte dos alunos e elevados níveis de ruído em sala de aula que além de dificultar o aprendizado pode também ocasionar graves problemas de saúde. A fim de avaliar os níveis de ruído em de uma escola pública de São Paulo, foram realizadas medições em salas de aula durante o ano letivo de 2019, com 4 turmas do ensino fundamental e os resultados apontam para níveis de ruídos médios que ultrapassam 75 dBs independentemente das turmas avaliadas, apontando para a necessidade de medidas urgentes em benefício da saúde auditiva dos envolvidos como também de um aprendizado saudável.
Palavras-chave: Audição, Níveis de Ruído, Barulho
INTRODUÇÃO
A educação atravessa atualmente graves problemas na queda de rendimento escolar e segundo estudos, uma das possíveis causas apontadas estão nos altos e constantes níveis de ruído em sala de aula que além de provocar danos para a audição de alunos e professores a médio e longo prazo, muitas vezes irreversíveis, ainda prejudica o aprendizado devido à falta de concentração dos alunos que não conseguem absorver conhecimentos em um ambiente insalubre devido a uma arquitetura que não favorece a reduções de ruído como também ao comportamento inadequado por parte de alguns estudantes que durante as aulas, promovem altos níveis de barulho decorrentes de conversas, gritos, arraste de cadeiras e carteiras, uso de equipamentos eletrônicos, jogos eletrônicos impróprios para sala de aula entre outros.
Segundo Maciel (2011), as escolas e seus personagens, sofrem com ruídos externos e internos, tendo seu espaço físico comprometido, uma vez que altos níveis de pressão sonora (NPS), comprometem o desempenho escolar. Além disso, devemos considerar as questões ambientais também que são afetadas quando o elemento ruído, ultrapassa determinados limites. Conforme Silva, et al. (2019)fica clara a importância da utilização de estratégias didáticas que trabalhem e envolvam os estudantes em discussões abordando questões socioambientais, levando em conta fatores relacionados com barulhos.
Considerando que a definição de poluição sonora é qualquer alteração das propriedades físicas do meio ambiente causadas por conjugação de sons, admissíveis ou não, que direta ou indiretamente seja nociva para a saúde, segurança e ao bem-estar; podemos afirmar que hoje, em boa parte das salas de aula, de escolas privadas ou públicas, a poluição sonora é sem dúvida um dos grandes problemas enfrentados por professores, alunos e trabalhadores da área educacional.
Conforme World Health Organization (2003), poluição sonora representa, depois da poluição do ar e da água, o problema ambiental que mais afeta as pessoas. Se por um lado, o ruído em grande parte é provocado pelos próprios personagens do processo educativo, por outro, tem-se projetos arquitetônicos que não colaboram para uma acústica perfeita e assim, acabam provocando a elevação de níveis de ruídos, pois não há tratamento acústico e nem o uso de materiais que possibilitam isolar ou amenizar os efeitos de uma acústica ruim no ambiente escolar, entre eles o efeito do eco e da reverberação.
Todo som emitido em ambientes fechados como por exemplo uma sala de aula; é propagado nas mais diferentes direções e dependendo dos ângulos entre as paredes, teto e piso, pode se propagar mais ou menos em maiores ou menores intensidades antes de chegar aos ouvidos dos alunos e do próprio locutor. Considerando que a fala de um professor é constante numa aula expositiva, estes retornos acústicos colaboram com a elevação dos níveis de ruído no ambiente de aprendizado. Sabendo-se que cada reflexão de onda sonora perde força ao ser novamente refletida e que novas ondas sonoras são emitidas a cada segundo, tem-se muitos sons se refletindo simultaneamente, trazendo desconforto acústico, prejudicando intensamente o aprendizado de modo geral.
Conforme Lacerda (2018), eco e reverberação não são sinônimos embora ambos sejam causados pela reflexão do som. O eco é o som que chega ao ouvinte após, essencialmente, uma única reflexão por um obstáculo distante, percebida após um intervalo de tempo suficiente para ser distinguida do som original. Na reverberação, o som chega ao ouvinte após várias reflexões no próprio local, criando um prolongamento auditivo.
Sabe-se que os ruídos urbanos estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano, invadindo residências, locais de trabalho, de lazer, hospitais e escolas, prejudicando as relações sociais, comportamento, comunicação, rendimento escolar e a saúde auditiva e mental (ENIZ; GARAVELLI, 2006). Deste modo se faz necessário que novas técnicas de construção e novos materiais sejam pesquisados e aprimorados a fim de serem empregados na construção de salas de aula, de modo a apresentar o menor nível de ruído possível, permitindo relações saudáveis entre professores e alunos e que favoreçam para um aprendizado saudável.
MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada durante o ano letivo de 2019, onde foram realizadas 4 medições semanais em cada sala de aula, sendo duas salas de 6o ano e duas salas de 7o ano do ensino fundamental II, sempre no início de cada aula, logo após a realização da chamada de presença. Os valores obtidos foram anotados em planilha especialmente desenvolvida para este fim. Foram consideradas os valores máximos captados pelo instrumento e posteriormente calculado a média dos valores apresentados.
Para a medição dos níveis de ruído, foi utilizado um decibelímetro digital marca INSTRUTEMP modelo ITEDEC 3000, posicionado na mesa do professor na posição vertical.
RESULTADOS
A fim de simplificar os resultados aqui apresentados, com a soma de todos os valores obtidos foi calculada a média dos níveis de ruído e os resultados foram:
Sextos anos (fundamental II) – Média 76,8 dBs
Sétimos anos (fundamental II)– Média 79,3 dBs
DISCUSSÃO
Conforme Britânica Escola (2020), a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabelece como nível máximo suportável sem riscos de danos para audição humana, o valor de 50 dBs. Assim,podemos considerar que, os níveis obtidos diariamente em sala de aula superam em muito os valores aceitáveis para um ambiente saudável para o corpo e para o favorecimento do aprendizado.
Em trabalho de dissertação de mestrado, Deliberador (1983, p. 193) menciona que o fator acústico não representa um dos fatores principais a serem considerados no projeto arquitetônico de uma escola, no entanto é de primordial importância para o aprendizado e saúde auditiva e mental do professor e dos alunos.
Deliberador (1983) relata ainda que a avaliação em projetos de prédios escolares no Estado de São Paulo, apontam problemas principalmente relativos ao conforto ambiental e à funcionalidade, remetendo-se de forma especial, as falhas de implantação e de projetos. Além disso, percebe-se também a ausência da participação da comunidade envolvida em uma reflexão sobre os parâmetros do projeto, considerados essenciais à arquitetura escolar de qualidade.
Deste modo cabe-se considerar a necessidade de orientações, palestras, exames auditivos em alunos e professores a fim de chamar a atenção para os problemas aqui expostos, como também maior atenção nos projetos de novos prédios escolares como também o uso de materiais que apresentem o perfil necessário para a redução ou minimização dos efeitos sonoros danosos ao aprendizado e para a saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aprendizado é decorrente de um processo de transmissão de informações do professor, da recepção destas informações por parte do aluno e da interação professor aluno no decorrer da aula, então, torna-se óbvio que boa parte do ruído observado em salas de aula são decorrentes destas relações entre orador e ouvintes e vice versa e por esta razão torna-se indispensável a conscientização, considerando também as possibilidades de uso de materiais e mobiliários apropriados na implantação de ambientes escolares e na arquitetura para reduzir os níveis de ruído no ambiente escolar e consequentemente a melhoria nos níveis de aprendizado e saúde dos envolvidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRITÂNICA ESCOLA / CAPES. A Audição. 2020.
Disponível em:
https://escola.britannica.com.br/artigo/audi%C3%A7%C3%A3o/483285
Acesso em: 11 jan. 2020.
ENIZ, A.; GARAVELLI, S. L. A contaminação de ambientes escolares devido aos ruídos urbanos no distrito federal, Brasil. Holos Environment v.6, n2 (2006). Disponível em:
https://www.cea-unesp.org.br/holos/article/view/561/469 - Consulta em 30/09/2019.
Acesso em 30 set. 2019.
LACERDA, M. F. Qualidade Acústica da Sala de Aula: Uma avaliação pelos alunos. Dissertação de Mestrado Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro 2018, 93p.
Disponível em: https://www.if.ufrj.br/~pef/producao_academica/dissertacoes/2018_Marcio_Lacerda/dissertacao_Marcio_Lacerda.pdf
Acesso em: 05 out.2019.
MACIEL, L. A. Projeto alfabetização sonora – A escola como fonte geradora de poluição sonora. 9a Mostra Acadêmica UNIMEP. 20011. Disponível em:
http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/9mostra/4/242.pdf
Acesso em: 30 nov. 2019
DELIBERADOR, M. S.O processo de projeto de arquitetura escolar no Estado de São Paulo: caracterização e possibilidades de intervenção. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – FEC Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Campinas. 1983.
Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/258194
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