INTRODUÇÃO

 

Segundo CARBALLO (1990), a avaliação tem um papel importante para que se mudem situações adversas dos sistemas ou institutos educacionais.

Ela sempre foi um instrumento causador de medo nos estudantes e por muito tempo foi utilizada como um instrumento de opressão por parte dos professores, porém, a mesma é de fundamental importância para o desenvolvimento do educando e também para o próprio professor rever a sua prática de ensino, tomando-a como uma ferramenta para a construção do saber discente, uma vez que a avaliação poderá redirecionar o professor quanto à forma de ensinar e ao que ensinar para que a aprendizagem tenha sentido.

Segundo HOFFMANN (2003), não há como evitar a necessidade de se avaliar os conhecimentos, muito embora possa tornar-se eficaz naquilo que se propõe: a melhora de todo o processo educativo.

Cada sistema educacional possui a sua forma de avaliar e os seus integrantes devem segui-las.

 Conforme TIANA (1996), a avaliação pode ser qualitativa ou quantitativa e cada sistema em busca da qualidade educacional escolhe uma forma de avaliar.

Na rede estadual, o Estado de São Paulo se utiliza do sistema de avaliação por notas e a rede municipal da cidade de São Paulo utiliza o sistema avaliativo conceitual, sendo um exemplo dessa diversidade em se avaliar os educandos.

Se por um lado avaliar os alunos por nota é uma espécie de quantificação da aprendizagem do mesmo, será que não é uma forma mais transparente de se avaliar? Por outro lado, temos a avaliação por conceitos, em que o aluno é avaliado de acordo com o que aprendeu, sem que seja quantificada a sua aprendizagem, aparentemente melhor, será que não é uma forma vaga de se avaliar? Será que o aluno conseguirá através dela perceber os seus próprios avanços?

 

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL

 

      Ensinar tudo a todos pode ser o nosso desejo, mas está longe de ser o compromisso social da escola na atual sociedade, tendo em vista, que a hierarquia econômica fora da escola afeta a constituição das hierarquias escolares.

A função da escola é preparar rapidamente, em série, recursos humanos para alimentar a produção hierarquizada e fragmentada.

Apesar de ser uma preocupação de todos, apenas uma pequena parcela dos envolvidos, compreendem e consideram a avaliação como um instrumento a serviço do êxito dos alunos e transformação do sistema social, de onde decorre o conceito de avaliação formativa. No espaço escolar, a avaliação deve ser organizada como uma prática pedagógica a serviço das aprendizagens, para que o aluno progrida rumo ao êxito.

A avaliação de valores e atitudes se revela nos momentos em que o professor critica os valores e atitudes do aluno, humilhando-o, evidenciando o peso da avaliação, ou seja, o professor faz da avaliação um instrumento repressor e que qualifica os alunos em bons ou ruins de acordo com a quantidade de acertos, lógica essa, que mesmo que não esteja presente na cabeça de alguns professores da atualidade, permanece na cabeça de muitos educandos, que vêm com essa ideia na cabeça, fruto da educação tradicional da qual seus pais ou avós participaram, sendo assim, totalmente excludente, o que ocasiona em parte, a evasão escolar.

Compreender não se reduz a conhecer, mas é a habilidade de pensar e atuar com flexibilidade a partir de algo que alguém saiba, indo muito além da memorização, tendo a ideia de que se aprende por aproximações sucessivas.

            A educação deveria promover aos estudantes o desenvolvimento da compreensão das principais formas de raciocínio disciplinar: a ciência, a matemática, a arte e a história.

            Vemos que grande parte do professorado se preocupa em cumprir o programa curricular, numa visão tradicionalista da educação, porém o que é realmente importante é que o aluno compreenda o que está sendo ensinado, buscando derrubar as barreiras que impedem uma melhor aprendizagem, através de maneiras alternativas de se ensinar determinado conteúdo.

            Para que haja uma real compreensão é necessário que o docente reflita e reavalie a sua prática constantemente. , tendo em mente que uma boa educação não depende tanto de apresentar novos conhecimentos mas com a capacidade de elaborar boas e novas perguntas e a LEYMONIÈ (2001) faz três:

            1 – O que eu quero que os estudantes compreendam? Os tópicos gerais, os fios condutores e as metas de compreensão, estas últimas devem ser claras e se articularem com os dois primeiros itens.

            2 – Como sei que compreendem? O docente deve atuar como um guia itinerante, verificando o desempenho dos alunos grupo a grupo ou aluno por aluno, analisando se eles estão realizando com êxito as tarefas e, assim, poder verificar a aprendizagem.

            3 – Como eles sabem que compreendem? A avaliação diagnóstica contínua é uma ferramenta que leva o aluno ao conhecimento daquilo que realmente aprendeu e o docente para verificar se aquilo que ensinou foi ou não assimilado, podendo ambos, refletirem sobre os resultados obtidos e buscarem juntos soluções para uma melhoria constante.

            Assim, cabe ao professor ajudar os alunos a estabelecerem conexões entre as metas e os desempenhos obtidos, guiá-los no processo de construção do conhecimento, questionar sobre as respostas dos alunos, buscando as razões das mesmas, bem como informar os critérios de avaliação e fornecer a eles meios para uma autoavaliação própria e de seus companheiros.

 

A Avaliação Quantitativa

 

Segundo FREITAS (2003), o sistema de avaliação resultante em notas tem o sentido de estimular o aluno para os estudos, lógica essa, que não foi inventada pelo professor.

            Na rede estadual, São Paulo utiliza a avaliação por notas de 0 a 10 para avaliar a aprendizagem dos seus alunos, sistema esse que passou a vigorar em 2007 com a resolução da SEE no. 30/2007, visando uniformizar o sistema de notas no Estado e colocar as notas na internet no site da Secretaria Estadual de Educação, uma vez que antes disso, as notas eram dadas de forma diversificada, podendo ser por letras de A a E, por números, por conceitos, etc., algo que se tornava uma grande bagunça, principalmente na hora de digitar as notas. Após essa uniformização, os alunos e os pais passaram a contar com o boletim escolar na própria internet, sendo uma forma dos pais e dos próprios alunos acompanharem o seu desenvolvimento escolar.

            Antes, para que um aluno conquistasse êxito em uma disciplina, o mesmo, num sistema de letras, teria que obter no mínimo C, sendo a nota máxima A e o aluno que obtivesse D ou E era mandado para a recuperação ou reprovado. Atualmente, para que o aluno atinja uma boa nota, ele precisa conquistar pelo menos 5, sendo qualquer nota inferior a essa, considerada baixa e comprovação de que o mesmo não aprendeu o necessário. Assim, com base no que diz TIANA (1996), temos um modelo de avaliação que mesmo buscando um padrão de qualidade, na verdade é quantitativo, ou seja, a aprendizagem é medida pela quantidade de acertos do aluno e não pelos objetivos de aprendizagem e de formação de competências e habilidades, que mesmo que sejam atingidas, só são levadas em conta de forma parcial.

            Porém, com os ciclos de formação, só há reprovação de alunos no final do ciclo I, no 5º ano do Ensino Fundamental e no ciclo II, no 9º ano do Ensino Fundamental, só havendo reprovação nos demais anos, por número de faltas, medida criticada por muitos pais, professores e sociedade, sendo defendida, somente, por alguns teóricos e pelo próprio governo, que evita um enorme gasto ao empurrar os alunos para os anos seguintes, mas, que prejudica grandemente a formação da sociedade, tendo em vista que não se respeita o tempo de aprendizagem dos discentes.

 

A Avaliação Qualitativa

 

            Segundo TIANA (1996), a avaliação qualitativa visa avaliar o aluno de acordo com as competências e habilidades que o mesmo adquire no decorrer do processo de aprendizagem. Um currículo estruturado em competências logra que os conteúdos trabalhados tenham como objetivos gerar as competências almejadas para os alunos, sendo a sua avaliação formativa para o aluno e reflexiva para o professor, tendo em vista, que o professor poderá se autoavaliar, verificando se a forma em que trabalhou produziu ou não o resultado esperado.

            A Prefeitura do Município de São Paulo utiliza um sistema de avaliação por conceitos onde o aluno que atinge todas as expectativas alcança o conceito P (plenamente satisfatório), o aluno que atinge a maior parte das expectativas alcança o conceito S (satisfatório) e o aluno que não atinge nem ao menos metade das expectativas obtém a nota NS (não satisfatório).

            A forma qualitativa de se avaliar é aparentemente mais justa, pois não avalia os alunos pelo que eles realmente aprenderam, porém, acaba não sendo totalmente transparente, algo que apesar de todo problema que se encontra na avaliação quantitativa, não ocorre.

      Para HADJI (2001), ao se avaliar é importante ter em vista: o alvo, os critérios de realização e de êxito e as condições de realização, portanto, tanto sendo quantitativa ou qualitativa, a avaliação deve levar em conta esses itens, para que pais e discentes tenham noção da forma pela qual foram avaliados e, possam, posteriormente, questionar sobre os itens em que foram avaliados.

Assim, a diferença fundamental entre verificação e avaliação é que a primeira é uma ação estática e a segunda é um processo dinâmico e encaminha a ação.

           

Traçando um modelo de avaliação

 

            Para DE LA TORRE e BARRIOS (2002) é necessário que utilizemos diversas formas de avaliação, tendo em vista um melhor aproveitamento do aluno, sendo a avaliação contínua e diagnóstica, além de formativa e somativa, sendo importante verificar todo o processo de aprendizagem, ou seja, do início até o fim e não somente o final do processo.

            Eles acreditam que é necessário que se tenha a prova como um procedimento de verificação da aprendizagem, porém, nem todo procedimento implica na aplicação de uma prova.

            Acredito que devemos utilizar elementos variados para verificar a aprendizagem, e, assim como cita HADJI (2001), devemos utilizar critérios qualitativos de avaliação, que por sua vez ao serem transformados em números através de uma pontuação a ser atribuída também se torna quantitativo, assim como é realizada a avaliação no CLAEH, é a melhor forma de se avaliar alguém, pois assim, o educando saberá distinguir em quais quesitos obteve êxito e em quais quesitos ele necessita melhorar, bem como terá uma noção numa escala de 0 a 100 do padrão que alcançou, tendo assim, como contestar determinados valores atribuídos a alguns quesitos.

            Imaginemos um trabalho realizado na disciplina de Arte, com o tema Grupos Teatrais, com valor de 0 a 10 nas quais o professor utilizaria os seguintes critérios na ficha de avaliação:

 

Aspectos a Avaliar

Deficiente

Regular

Satisfatório

Bom

Ótimo

  1. Estética e organização do trabalho

 

 

 

 

 

  1. Conteúdo pesquisado

 

 

 

 

 

  1. Entendimento do trabalho com base na conclusão

 

 

 

 

 

  1. Criatividade

 

 

 

 

 

 

            O item estética e organização do trabalho teria como base de avaliação a estética quanto à formatação do trabalho e se o aluno seguiu a organização sugerida pelo professor, podendo ter o seguinte peso: Deficiente – 0 a 0,25; Regular – 0,5; Satisfatório – 0,75; Bom – 1,0 a 1,25 e Ótimo – 1,5.

            O item conteúdo de pesquisa teria como base de avaliação a qualidade e até certo ponto, a quantidade de informações pesquisadas pelo aluno, podendo ter o seguinte peso: Deficiente – 0 a 1,0; Regular – 1,25 a 2,0; Satisfatório – 2,25 a 3,0; Bom – 3,25 a 4,0 e Ótimo – 4,25 a 5,0.

            O item entendimento do trabalho com base na conclusão teria como base de avaliação aquilo que o aluno demonstrou compreender da pesquisa realizada, podendo ter o seguinte peso: Deficiente – 0 a 0,5; Regular – 0,75 a 1,0; Satisfatório – 1,25 a 1,5; Bom – 1,75 a 2,0 e Ótimo – 2,25 a 2,5.

            O item criatividade teria como base de avaliação a forma em que o aluno procurou realizar a sua pesquisa e as possíveis inovações realizadas pelo mesmo quanto à forma de pesquisa, podendo ter o seguinte peso: Deficiente – 0; Regular – 0,25; Satisfatório – 0,5; Bom – 0,75 e Ótimo – 1,0.

Assim, imaginemos que para o aluno obter um êxito global no trabalho, ele tenha que atingir pelo menos 5 (cinco) pontos e o mesmo atingiu a seguinte pontuação:

Item 1 – Satisfatório – 0,75;

Item 2 – Bom – 3,75;

Item 3 – Satisfatório – 1,5;

Item 4 – Satisfatório – 0,5;

TOTAL6,5 (seis pontos e meio).

Se mantivermos a avaliação como caráter global, poderíamos ter os seguintes valores quali-quantitativos:

0 a 1,75 – Deficiente;

2,0 a 4,5 – Regular;

5,0 a 5,75 – Satisfatório;

6,0 a 8,0 – Bom e

8,25 a 10,0 – Ótimo o que mostraria que o aluno acima teve um aproveitamento global bom.

Assim, acredito que esta forma de avaliação une elementos da avaliação quantitativa com elementos da avaliação qualitativa, sendo uma forma transparente de se avaliar e que mostra tanto a qualidade do trabalho do aluno, quanto à quantidade do aproveitamento do mesmo no trabalho proposto.


CONCLUSÃO

 

Segundo AGUERRONDO (1993), as características da formação do conhecimento científico se modificaram com o tempo, da transmissão do conhecimento para a socialização do mesmo, onde o professor passa a ter um papel de mediador do conhecimento.

            Hoje se tem buscado o entendimento de como se aprende e de como se ensina e a avaliação tendo o papel de formação do educando, contribuirá para o desenvolvimento desse entendimento, pois, assim, o professor poderá verificar o que o aluno aprendeu, bem como ele aprendeu ou deixou de aprender, podendo traçar meios para que se sane os problemas de aprendizagem, refletindo sobre a sua prática de ensino e de avaliação, buscando com a avaliação outras maneiras de socializar o saber.

            DELORS (1999) quando fala sobre os quatros pilares da educação coloca também a importância do aprender a aprender e de se entender como se constrói o conhecimento, assim, fazendo um vínculo com a avaliação podemos concluir que a mesma é uma ferramenta para o descobrimento de como o aluno aprende.

A avaliação formativa é uma leitura da realidade e não é uma questão fechada, pois não possui modelo ideal definido, surge, portando a necessidade de uma análise da ação pedagógica no que se refere à escolha de exercícios, uma vez que, para o profissional em atividade este aspecto é significativo. HADJI (2001) destaca e sugere a pertinência de se ter banco de instrumentos avaliativos, assim, vemos que é importante que o professor diversifique a forma de se avaliar, porém, sem deixar de lado a transparência do processo avaliativo.

Assim, podemos observar que tanto a forma quantitativa como a qualitativa têm seus pontos positivos e negativos e que uma mescla das duas formas de se avaliar, contribuirá melhor para a avaliação da aprendizagem, tendo em vista a não exclusão do educando e a transparência da avaliação do mesmo.

 

BIBLIOGRAFIA

 

- AGUERRONDO, Inés (1993), “El concepto de calidad en educación: Ejes para su definición y evaluación”. Le Educación Revista Interamericana de Desarrollo Educativo, no. 116, III, 1993, OEA, Washington DC.

 

- CARBALLO, SANTAOLALLA, Rafael (1990), “Evaluación del concepto de evaluación: Desarrollo de los modelos de evaluación de programas”. Revista Bordón 42.

 

-        DE LA TORRE, Saturnino y BARRIOS, Oscar (2002), Curso de Formação para Educadores. São Paulo, Madras, 2002 (DO original: Estrategias Didácticas Innovadoras).

 

- DELORS, Jacques, Educação: Um Tesouro a Descobrir. São Paulo: UNESCO, MEC, Cortez Editora,1999.

 

- FREITAS, Luiz Carlos de, Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas, São Paulo, Moderna, 2003.

 

- HADJI, C. Avaliação Desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001.

 

- HOFFMANN, Jussara, Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade, Porto Alegre, Mediação, 2003.

 

- LEYMONIÈ SÁENZ, Julia, Enseñanza para la Comprensión: Algunos Apuntes sobre las Ideas de Gardner, Perkins y otros Investigadores del Proyecto Cero, 2001.

 

- Silva Júnior, J. b. da. A educação pública em São Paulo. Natal, 2008.        Monografia – TCC (Especialização em Gestão Pública) – Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.

 

- SÃO PAULO. Resolução SEE no. 30/2007.

 

- TIANA FERRER, Alejandro (1996), “La evaluación de los sistemas educativos”. Revista Iberoamericana de Educación – Vol. 10.