Percebo que estejas triste, aborrecida e até chateada.
Tens todo o direito!
Mas por favor não estejas. Não gosto de te ver triste em caso algum, muito menos quando imagino que posso ser o causador dessa tristeza.
Sei quanto dói. Sei a dor que  estas desconfianças podem provocar, respeito o teu sentimento e não gosto de te fazer sofrer. Talvez de nada sirva dizer-te que não há razão para ficares assim, mas na verdade não há mesmo.
Eu posso ser louco, mas amo-te muito e tomar consciência do mal que possa fazer-te sem querer, saber que o bem que te quero pode transformar-se num pesadelo quando menos se espera.
É como receber de surpresa  um tiro no peito.
É injusto que nos julguem mal, mas a dimensão deste sentimento é supra humana.
Não cabe em nós,  no nosso magro entendimento, nas nossas pequenas mentes.
Ninguém perceberá a pureza de tão nobre sentimento. Até nós temos dificuldade em entendê-lo.
Desculpa se te magoei, não tive nem tenho intenção de fazê-lo,
Tal como tu, também eu me interrogo.
Interrogo-me se valerá a pena corrermos o risco. Percorrermos o fio da navalha de olhos vendados em direção ao desconhecido e muito provavelmente ao abismo.
Por vezes penso que deveria ter coragem para fugir para longe onde não pudesse fazer-te mal, onde a minha má influência não te contagiasse .
Procurar o isolamento para te preservar, para que possas finalmente
viver em paz. Fugir de ti para não te fazer mal, mas não posso. Não consigo.
Este sentimento há muito que se fundiu em nós. Não só em mim mas também em ti.
Já não somos eu e tu!... nem eu nem tu, e talvez nem sequer sejamos nós mas outra entidade diferente.
Não sou capaz de fugir de mim, porque me transporto onde quer que vá.
...E onde quer que eu for tu irás também. Fazes parte de mim, ou ... então...eu nem sei ...possivelmente eu não sou sem ti nem tu sem mim.
O sentimento que nutrimos é autofágico, e ao consumir-se nos consumiu também fazendo de nós um produto novo ao qual ainda não deram um nome, e essa coisa sem nome, essa entidade interroga-se e pergunta a si mesmo:
Quanto valerá uma vida sem riscos, sem emoção, sem medos, sem ilusão, sem ciúme, sem desejos?
Valerá a pena? E será que se lhe pode chamar vida?
Não será antes uma não vida?
Mas independente do que for do que seja ou do que vier a ser. Será que estaríamos dispostos a aceitá-la?
Procuro avidamente uma resposta, e paradoxalmente a única que honestamente consigo tirar de mim, é um enorme, demorado e sonoro NÃO.