Aula da saudade

 

Raul Seixas, há tempos atrás, cantava: “Hoje é feriado é dia da saudade!”.

Mas se dia da saudade é para ser feriado então feriado seriam todos os dias, pois todos os dias sentimos saudades de algo. Pare, pense e me diga se não é verdade.

Sentimos saudade de um amigo, saudade de um amor, saudade de uma agradável surpresa... saudade de uma pessoa que morreu, saudade de um parente que se mudou... saudade de um dia feliz, saudade de um evento marcante... Sentimos saudade de tudo que nos marcou profunda e positivamente. Sentimos saudade do que está distante e daquilo que o tempo escondeu numa das tantas dobras do passado.

Mas o que vem a ser saudade?

Encontrei, uma vez, escrito no muro que “saudade é o que ficou daquilo que não ficou”. Pode parecer brincadeira, mas isso é profundo. Somente sentimos saudade daquilo que não temos, daquilo que não está presente. Por isso é que somente sentimos saudade de algo que já passou. Não sentimos saudade do que está acontecendo nem temos saudade do futuro.

Sentimos saudade do que passou porque nos marcou. Portanto saudade é uma forma de recordação. É memória. É história. É uma dimensão da vida

Se sentimos saudade do que nos marcou, é porque isso foi bom. Por isso somente sentimos saudade de coisas boas. Ou você já viu alguém dizendo que está com saudade daquela infernal dor de cabeça. Sentimos, sim, saudade daquele beijo, daquele abraço... daquela pessoa que nos deu o abraço e o beijo. Daquele quarto onde aconteceram o abraço e o beijo... Daí que saudade é uma forma de trazer para o presente um pedaço precioso do passado, perdido, mas rememorado pela sensação de saudade.

Sendo assim, parece que não são verdadeiros os versos de Cascatinha e Inhana, cantando: “Saudade palavra triste quando se perde um grande amor”. Perder um amor, um amigo, um parente, pode ser uma experiência dolorida, mas lembrar de tudo de bom que se viveu junto a essa pessoa é algo bom. Por isso saudade é algo bom em relação a algo marcantemente bom.

Ah! É bom sentir saudade! Indica que estamos vivos e que vivemos experiências marcantes que jamais morrerão. Elas permanecerão vivas na memória, revividas e reavivadas pela saudade que é uma forma de reviver os bons momentos, marcantes que viraram saudade.

E aula da saudade?

É um momento presente em que paramos para nos lembrar das boas coias que vivemos ao longo de nosso curso. Coisas ou situações não tão boas também viram saudade pois nos lembramos de como tivemos força, união e coragem para superá-las. Na realidade não sentimos saudade das coisas que não foram boas, mas de como as superamos.

Aula da saudade é isso: chorar de alegria porque o objetivo foi atingido; mas, ao mesmo tempo, chorar pela separação de colegas importantes: que nos deram cola, que nos deram apoio, que no deram incentivo, que nos incomodaram...; lamentar dos colegas que desistiram, que mudaram de curso, que mudaram de rumo, que mudaram de vida... é hora de festejar não só pela vitória, mas também porque não mais teremos aulas com aquele professor chato... aquele que, mais tarde, no exercício da profissão, será lembrado em seu saber e, ai, com saudade diremos: “por que não aproveitei mais aquelas aulas?”....

Aula da saudade, portanto é isso, trazer para o presente o passado das aulas, os colegas, os professores, os tropeços, os avanços... e saber que, futuramente, sentiremos ainda mais saudade... até da aula da saudade. E, talvez, essa saudade nos convide a continuar estudando... para encontrar outros motivos para sentir saudade!

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO