ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA SAÚDE COLETIVA DENTRO DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE

 

ANA PAULA SILVA 

RESUMO 

A proposta de atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva dentro das Unidades Básicas de Saúde e o vínculo de compromisso e de responsabilidade, estabelecido entre os serviços de saúde e a população, fazem parte de grande potencialidade transformadora. Baseado no tema em questão, o fisioterapeuta, pode desenvolver atividades efetivas em todos os níveis de atenção à saúde, dentro da equipe multidisciplinar. A inserção da fisioterapia nas Unidades Básicas de Saúde enriquece e desenvolve ainda mais os cuidados de saúde da população. É relevante descrever sobre a atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva dentro das UBS, que neste estudo será dada ênfase ao trabalho desenvolvido por esse profissional.

Palavras-chave: Atuação; Fisioterapeuta; Saúde coletiva.

Introdução 

O presente trabalho tem como objetivo geral mostrar a atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva das UBS. E como objetivos específicos: identificar a importância do trabalho preventivo na saúde coletiva das UBS; observar os pacientes que necessitam de atendimento domiciliar; conhecer o modelo de atenção que privilegia a promoção, a prevenção da saúde coletiva.

A fisioterapia tem um caráter essencialmente curativo e reabilitador desde sua origem, por essa razão fez surgir à necessidade de centros de reabilitação, com o intuito de restaurar a capacidade física dos trabalhadores.

Observa-se, ainda, possibilidade de atuação limitada, em virtude da prática do  profissional de fisioterapia não está voltada apenas para atenção ao paciente, isto é, aos indivíduos já cometidos por algum tipo de distúrbio que interferem em sua capacidade física, restringindo a atuação a outros níveis que não seja a reabilitação.

Para entender o papel da fisioterapia na saúde coletiva dentro das UBS, quais são suas responsabilidades e quais são seus desafios, é necessário conhecer o perfil epidemiológico da população, ou seja, quais são as principais causas de morbidade e mortalidade da população. De maneira geral, a maioria dos países tem passado por um processo chamado de transição epidemiológica, definida como mudança nos padrões de morte, morbidade e invalidez, que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. 

Desenvolvimento 

A Saúde Coletiva traz consigo um outro elemento inovador: a multidisciplinaridade. Segundo o dicionário Michaelis (2008), a palavra multidisciplinaridade significa “integração de várias áreas do conhecimento para resolução de problemas, estudo de fenômenos, etc...”

Peduzzi (2001), considera trabalho em equipe multiprofissional ou multidisciplinar uma modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais, sendo que a articulação das ações multiprofissionais e a cooperação entre os membros da equipe se daria por meio da comunicação.

Bornstein e Stotz (2008), descreveram que o papel desse profissional como mediador é uma unanimidade, tanto no que se refere à mediação entre o serviço e a comunidade como entre diferentes saberes.

Nunes et al. (2002), também demonstraram a função de mediador do fisioterapeuta, posicionado entre a comunidade e a equipe de saúde, e o seu caráter híbrido e polifônico, marcado pelo fato de ser aquele que convive com a realidade e as práticas de saúde do bairro onde mora e trabalha e ser formado com base em referenciais biomédicos.

Reconheceram, ainda, o movimento bidirecional de saúde coletiva que, de um lado, informam à população “modos de fazer” e, de outro, fornecem aos profissionais de saúde elementos-chave para a compreensão dos problemas de saúde e necessidades da comunidade.

Os mesmos autores descreveram e constataram o papel de tradutor que o fisioterapeuta desempenha, mediando o universo técnico-científico específico com o saber popular.

No estudo de Levy et al. (2004), relataram que realizavam encaminhamentos à UBS, visitas domiciliares, cadastramento das famílias, trabalho de prevenção. Na perspectiva do aspecto relacional dos fisioterapeutas, Nunes et al. e Fabri e Waidman (2002), também destacaram essa relação de amizade e confiança estabelecida pelo agente com a comunidade, a fim de melhor alcançar os seus objetivos e estabelecer o nível de aproximação necessário

A relação de trabalho se torna interdisciplinar quando há margem para maior diversidade de ações em saúde e busca permanente do consenso na equipe Brasil (2000). O processo de adoecimento da população contempla múltiplos determinantes dos fenômenos da saúde-doença onde fatores biopsicológicos, socioeconômicos e culturais são fundamentais para a determinação dos problemas de saúde. Esses formam uma intrincada rede multicausal e multifatorial no processo saúde-doença (ALMEIDA, 2002).

Assim, a prevenção e o tratamento das doenças requerem a disponibilidade de uma equipe multidisciplinar, capaz de entender a saúde na sua dimensão coletiva.

Nessa dimensão, a incorporação do conceito ampliado de saúde, que a associa às condições de vida, norteia a formulação e a implementação de estratégias que viabilizem um serviço de saúde universal, integral, eficaz, eficiente, com equidade e participação popular.

Por definição, fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas (HERBERT, 2001).

Algumas funções do fisioterapeuta são a construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais; prescrever condutas fisioterapêuticas e acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e das condições para a alta do serviço de saúde.

Dentre as considerações da Resolução nº 80, deve ser destacada a que alude ao objeto de estudo e trabalho do fisioterapeuta: A fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objeto de estudos é o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função (NOGUEIRA, 2000).

No nível da atenção básica em saúde, pode participar das equipes multiprofissionais destinadas ao planejamento, implementação, controle e execução de programas e projetos de ações em atenção básica de saúde; pode promover e participar de estudos e pesquisas voltados à inserção de protocolos da sua área de atuação nas ações básicas em saúde; pode participar do planejamento e execução de treinamento e reciclagem de recursos humanos em saúde; e participar de órgão colegiados de controle em saúde (RODRIGUES, 2004).

A fisioterapia guarda profundas ligações com a filosofia multiprofissional reinante no Programa de Saúde da Família uma vez que, por natureza, já é uma ciência que frequentemente trabalha em conjunto com outros profissionais da área da saúde.

Além disso, Herbert (2001), relata que a fisioterapia tem efeitos benéficos na dor crônica, diminuindo as incapacidades; na abordagem multidisciplinar da reabilitação após AVC; na reabilitação de doenças pulmonares e na redução do risco de queda acidentais em idosos. Porém, sob uma ótica relacionada às políticas de saúde específicas do SUS, a atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva pode ainda captar uma demanda reprimida pelo serviço de fisioterapia, ou seja, a parcela da população que não tem acesso passa a usufruir do atendimento à medida em que o fisioterapeuta é trazido para mais próximo das famílias.

A atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva vai, ainda, prevenir o aumento do volume e complexidade da atenção em saúde, reduzindo os gastos públicos; concomitantemente, colaborando com a mudança do modelo assistencial, evitando o incremento das doenças ao mesmo tempo em que limita os danos e sequelas já instalados (HOLDSWORTH, 2004).

Ultrapassar o âmbito individual e clínico exige mudanças na maneira de atuar e na própria organização do trabalho e demanda alta complexidade de saberes. Cada profissional precisa desempenhar sua profissão em um processo de trabalho coletivo, cujo resultado deve ser a consequência de um trabalho que é realizado de forma completa a partir da contribuição específica das diversas áreas profissionais ou de conhecimento (SILVA, 2001)

Fabri e Waidman (2002), relataram a responsabilidade do fisioterapeuta para com a comunidade, identificando também que esse profissional executa suas atribuições conforme foi capacitado, mas destacaram que possuem uma responsabilidade maior, não sendo apenas a de cumprir ações em saúde.

O fisioterapeuta tem o objetivo de manter ou melhorar a qualidade de vida da família com a qual se compromete, a responsabilidade de buscar soluções para as necessidades detectadas.

Silva e Santos (2005), também verificaram que as ações dos fisioterapeutas estão de acordo com o que foi delimitado pelas diretrizes governamentais. Além disso, identificaram que essas ações extrapolam as prescritas em seu leque de competências, mas as atividades educativas, descritas pelos autores como mola mestra das ações desses profissionais, não são desempenhadas de maneira ampla.

Nogueira et al. (2000), também destacaram que os fisioterapeutas realizam tarefas que não se restringem ao campo da saúde, caracterizando-os como um trabalhador genérico, de identidade comunitária, que tem sua atividade ancorada em um perfil social composto por sua capacidade de liderança e ajuda solidária intracomunitária, constituindo-se um trabalhador sui generis.

Zancheta et al. (2005), trouxeram a visão crítica e os impasses que os fisioterapeutas encontram na prática de seu trabalho, os quais restringiram sua função ao controle de doenças crônicas ou à prevenção de outras, pois se vêem impossibilitados de promover a saúde.

Silva e Santos (2005), também descreveram que há uma prevalência de atividades que reforçam o modelo biomédico e apontaram para a necessidade de maior engajamento em atividades de promoção de saúde e prevenção de doenças, pois no conjunto das competências dos profissionais essas atuações são importantes.

Já Fabri e Waidman (2002), defenderam que o acúmulo de função, além de fazer deste um novo profissional de saúde, o faz um profissional de nível médio que pouco conhece de doença, pois é capacitado para disseminar conceitos de prevenção e saúde, divulgando mais informações sobre saúde do que sobre doença.

Além disso, definem como competências e habilidades gerais desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo e, no trabalho em equipe multiprofissional, estar apto a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade.

Freitas (2000), observou que não há referências concretas que apontem para a inserção da fisioterapia na saúde coletiva como campo de trabalho, sendo isto definido com as Diretrizes Curriculares.

Uma vez que as definições desta inserção são um fato recente, ainda se encontram algumas dificuldades para uma legítima caracterização da atuação neste nível de atenção, como destacou Silva (2001), sobre a fisioterapia na atenção básica do idoso. Entretanto, esse autor ressaltou que algumas possibilidades de atuação se tornaram claras, já que alguns dos estudos revistos por ele defenderam objetivos semelhantes da fisioterapia nesta área de atuação, como a promoção da saúde e da qualidade de vida da população.

Em decorrência de algumas características do trabalho da fisioterapia na UBS serem diferentes das realizadas em outros níveis de atenção à saúde, Freitas (2000), salientou que a profissão teve que agregar novos valores à sua prática e destacou algumas características dessa atuação: as intervenções são em domicílios, escolas, salões das UBS, igrejas, praças, etc.; o atendimento não é exclusivamente individualizado, incorporando-se a este o atendimento em grupo; as ações são voltadas para a prevenção e promoção da saúde e a prática profissional é baseada em decisões coletivas, numa perspectiva interdisciplinar.

Almeida et al. e Ragasson et al (2007), destacaram que as contribuições dadas pelo fisioterapeuta podem ser tanto de forma interdisciplinar quanto específica e esta última em grupos ou de forma individual.

Segundo Ragasson et al. (2007), o fisioterapeuta, atuando de forma integrada à equipe, destina-se a planejar, implementar, controlar e executar políticas, programas, cursos, pesquisas ou eventos em Saúde Pública; de forma específica, contribui para a execução de ações de assistência integral às famílias em todas as fases do ciclo de vida: criança, adolescente, mulher, adulto e idoso, com o foco em atendimento domiciliar, pediátrico, direcionado à mulher e às patologias específicas e em atividades voltadas à terceira idade e aos obesos.

Gallo (2005), fez referência às atribuições do fisioterapeuta na equipe, descritas por Ragasson et al. (2007), e descreveu que a atuação deste profissional, é desenvolvida nos domicílios e nas UBS, e se volta para a visita e orientação fisioterapêutica aos indivíduos acamados, o atendimento pediátrico, a realização de ginástica laboral com os funcionários das UBS e para o atendimento em grupo de terceira idade, diabéticos e hipertensos.

Ribeiro (2001) e Almeida et al., ao descreverem experiências no “Projeto Fisioterapia na Comunidade”, reafirmaram a participação de fisioterapeutas de forma integrada à equipe de saúde em uma UBS e de forma específica. Ambos expuseram as diversas formas de atuação desenvolvidas: visitas e atendimentos domiciliares, atendimento individual com foco na reabilitação, participação em grupos de gestantes, idosos, hipertensos e de coluna.

 Nessa perspectiva, Ribeiro (2001), destacou o trabalho com grupos, que tem se mostrado como uma grande possibilidade de atuação da fisioterapia na UBS, representando uma das estratégias de atender a uma grande demanda e a motivar à continuidade do tratamento; o atendimento domiciliar, como atividade imprescindível no trabalho na UBS, pois é nesse nível de atenção que se depara com a realidade das pessoas; e a orientação postural, como o espaço de prevenção visando à manutenção da saúde. No entanto, confessou que, apesar das atuações preventivas e educativas constituírem uma importante demanda, não conseguiam focar a atuação nessa perspectiva, pois dava-se prioridade aos atendimentos individuais e às visitas por existir uma maior demanda por esse tipo de atendimento.

Tal fato também foi destacado por Trelha et al. (2005) e Freitas (2000), também descreveu a atuação do fisioterapeuta integrada à equipe e de forma específica, defendendo a inserção do fisioterapeuta na UBS. Como ação específica, destacou o atendimento domiciliar e relatou que, além da utilização de recursos terapêuticos específicos, era estimulada a intervenção no meio em que o paciente vive, assim como abordagens educativas ao paciente e aos seus familiares.

 Haas (2002), expôs apenas a atuação específica do fisioterapeuta, destacando a intervenção em grupo e o atendimento domiciliar. Concluiu que este profissional pode atuar junto à população na prevenção, cura, reabilitação e na manutenção da integridade física.

Sampaio, ao descrever a atuação de fisioterapia em uma UBS, dividiu as intervenções desenvolvidas pela fisioterapia em dois tipos: programas, dirigidos a toda a comunidade e normatizados pelo Ministério da Saúde ou pela Secretaria Municipal de Saúde, e serviços, voltados para o indivíduo e a família, e propostos de acordo com a demanda de cada Centro de Saúde. Dentre os programas, relatou a inserção da fisioterapia no de hipertensos, diabéticos e crianças portadoras de asma. Quanto aos serviços, atendiam à demanda espontânea com avaliações e tratamento individuais, atividades em grupo com pacientes portadores de patologias crônicas da coluna, atividade física para a terceira idade e para gestantes e visitas domiciliares.

Trelha et al. (2005), trouxeram relatos de fisioterapeutas, que caracterizaram sua atuação em assistência, educação, prevenção de doenças e agravos, e promoção da saúde da população, atendendo de forma individual ou em grupo e por meio de visitas domiciliares.

Dentre as atuações da fisioterapia na UBS, Freitas (2000) enfatizou que o atendimento domiciliar é uma característica comum e bastante presente. Ragasson et al. (2007), o descreveram como imprescindível ao fisioterapeuta, pois é o momento em que a realidade das pessoas é visualizada, a realização das atividades de vida diária e suas limitações são analisadas e os encaminhamentos e orientações são indicados.

Haas (2002), citou que, ao chegar no domicílio, o profissional tem suas fronteiras de intervenção ampliadas, tendo a oportunidade de avaliar o ambiente onde o paciente reside, obter várias informações que auxiliam nas intervenções terapêuticas adicionais, modificações ambientais e equipamento adaptativo.

Ferreira et al. destacaram que a presença na residência alcança conhecimentos mais fidedignos do cotidiano familiar, o que torna a intervenção mais eficaz e mais específica. Segundo afirmou Freitas (2000), o trabalho da fisioterapia possui um grande potencial mediador, podendo funcionar como um elo entre a comunidade e a equipe de saúde, favorecendo a identificação dos problemas que devem ser considerados por toda a equipe na elaboração das ações de saúde.

Hass (2002) e Ragasson et al. (2007), enfatizaram a importância da presença deste profissional na UBS e sua contribuição para efetivar um sistema de saúde universal e equitativo, objetivando a promoção da saúde, prevenção de doenças, cura, reabilitação, manutenção da integridade física, educação continuada e a participação popular, sendo caracterizado por Ragasson et al. (2007) como um agente multiplicador de saúde.

Ainda neste contexto, Ferreira et al. defenderam que a atuação fisioterapêutica na comunidade obedece a Constituição Brasileira de 1988, artigo 196. Tal intervenção contribui para uma assistência integral e equânime, diminuindo ou prevenindo riscos à saúde, como defende esta lei.

Também reafirmaram que a presença do fisioterapeuta na comunidade obedece aos princípios do atual modelo de saúde, tendo em vista que oferece subsídios para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação e, consequentemente, promove a melhoria da qualidade de vida da população.

Freitas (2000), ao fazer o relato de um caso, expôs que tal caso necessitou de uma maior participação de toda a equipe de saúde e destacou a atuação da agente comunitária como impulsionadora de todo o processo que envolveu a atuação interdisciplinar. Este mesmo autor, descreveu que a eleição dos pacientes acamados, que seriam atendidos pelo projeto, era realizada a partir de uma listagem elaborada pelos fisioterapeutas, que os identificava através de busca ativa em suas respectivas microáreas.

Gallo (2005), também descreveu que as visitas domiciliares da fisioterapia realizadas após uma triagem prévia. Sampaio (2002), destacou que a contratação dos fisioterapeutas possibilitou a ampliação da atividade de visita domiciliar realizada, pois os profissionais de fisioterapia faziam o levantamento dos casos e os discutiam com os outros profissionais e realizavam o acompanhamento dos pacientes e de seus familiares.

Ribeiro expôs que o treinamento de agentes comunitários e familiares para colaborar no processo de reabilitação representa uma enorme contribuição para a evolução e eficácia do tratamento, além de favorecer a continuidade deste.

Enfatizou que esse treinamento torna-se uma complementação que amplia as atividades e, possivelmente, confere mais qualidade ao tratamento. Defendeu, também, que o fato do fisioterapeuta conhecer a realidade social e familiar do paciente em tratamento favorece a adequação dos procedimentos à disponibilidade e às necessidades dos indivíduos. Chegou a descrever a participação dos agentes como imprescindível, caracterizando sua colaboração tanto nas ações de reabilitação, quanto nas atividades educativas de caráter mais preventivo. Esse mesmo autor, ao relatar uma experiência profissional, colocou que os fisioterapeutas e líderes comunitários favoreceram a inserção na comunidade. Ainda fez referência à atuação da fisioterapia em outra região, onde o atendimento domiciliar é complementado pelo monitoramento dos agentes, que observam as orientações dadas e acompanham o paciente no intervalo entre as visitas do fisioterapeuta.

A maioria dos estudos destacaram a atuação do fisioterapeuta na UBS, porém, poucos identificaram e relataram a interação das ações entre eles. Em relação à atuação profissional na UBS, está melhor definida e descrita, do fisioterapeuta. E os trabalhos que relataram experiências da atuação do fisioterapeuta trouxeram que este estava vinculado à UBS que implantava a saúde coletiva.

Verificou-se que há concordância entre os objetivos da atuação do fisioterapeuta descritos nos trabalhos e legislações. Em relação às atuações do fisioterapeuta, também observou-se uma concordância, como foi descrito por Fabri e Waidman (2002), Silva, Silva e Santos.

Além disso, Nogueira et al, Fabri e Waidman (2002) e Silva e Santos destacaram que as ações do fisioterapeuta vão além do campo da saúde, sendo caracterizado por Nogueira et al (2000), como um trabalhador sui generis. Há semelhança entre as descrições dos autores ao se referirem a uma característica peculiar e caracterizadora do fisioterapeuta, a de estar entre a comunidade e a equipe de saúde, entre o saber popular e o científico, promovendo a integração entre eles. Através de diferentes denominações, os autores fazem alusão a esta característica.

Mas Nogueira et al (2000) ainda ampliaram esta característica, destacando que o ACS possui um papel de mediador social, resumindo-o como um elo entre os objetivos das políticas sociais do Estado e os objetivos próprios da comunidade, entre a capacidade de autoajuda própria da comunidade e os direitos sociais garantidos pelo Estado, entre o conhecimento popular e o conhecimento científico sobre saúde, entre as necessidades de saúde e outros tipos de necessidades das pessoas.

Bornstein e Stotz (2008), concluíram que o papel de mediador do fisioterapeuta é uma ideia comum, tanto no que se refere à mediação entre a equipe e a comunidade como entre os diferentes saberes, o que está de acordo com o observado nesta revisão.

Como foi descrito por Freitas (2000), o papel de mediador também é uma característica da atuação do fisioterapeuta na UBS, pois quando este profissional entra no domicílio, tem um contato mais próximo com o paciente e a família, possibilitando a ampliação de suas ações e o conhecimento sobre a realidade em que se insere o indivíduo, além de compartilhar essas informações com os outros profissionais da equipe.

A partir das atuações dos profissionais estudados nesta revisão, é possível destacar que atuam de forma interdisciplinar com a equipe de saúde da UBS e visam objetivos comuns: promoção da saúde, prevenção de doenças, contribuição para a melhoria da qualidade de vida da comunidade e integralidade da assistência. Também possuem atuações semelhantes, como a visita domiciliar, ações educativas e orientações com abordagem individual e coletiva, realizadas nos domicílios e na comunidade.

Há coincidência com relação ao público-alvo dos grupos, estando voltados principalmente para gestantes, puérperas, recém-nascidos, crianças, adolescentes, idosos, grupos de situação de risco ou de portadores de patologias crônicas. Dentre as atuações, as direcionadas ao domicílio são destacadas como a principal atividade realizada por ambos os profissionais.

Fabri e Waidman (2002), e a cartilha referente ao PACS colocaram a visita domiciliar como a principal função do fisioterapeuta. Da mesma maneira, o atendimento domiciliar foi destacado como de grande importância para a atuação do fisioterapeuta na UBS, por Freitas, Ragasson et al., Haas e Ferreira et al..

O contato com o usuário em seu domicílio foi enfatizado por todos esses autores como uma característica facilitadora da relação entre o profissional e o usuário/família, pois possibilita a aquisição de informações mais fidedignas do cotidiano familiar, tornando a intervenção mais eficiente.

 O contato mais próximo com o usuário é o que faz desses profissionais mediadores potenciais, pois prestam assistência integral ao indivíduo e mantêm uma relação interprofissional que fortifica o trabalho em equipe em uma UBS.

As ações do fisioterapeuta na UBS são a de acompanhar as famílias de sua respectiva microárea, orientá-las quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis na UBS, desenvolver ações que busquem sua integração com a população e desta com a equipe e identificar indivíduos ou famílias com necessidade de atendimento domiciliar e de grupos educativos.

O vínculo que o fisioterapeuta estabelece com a comunidade, colocando-se até como um amigo, facilita a identificação de usuários que precisam de avaliação e/ou tratamento e a divulgação do serviço de fisioterapia prestado à comunidade, como foi descrito por alguns autores ao relatarem suas experiências em relação à atuação da fisioterapia na UBS.

Apesar de existir concordância entre as atuações descritas nas legislações e as realizadas na prática pelo fisioterapeuta, alguns autores fizeram considerações quanto ao foco de atuação desses profissionais. Há discordância relacionada às ações realizadas pelo fisioterapeuta Silva e Santos e Zancheta et al (2005), relataram que as atividades têm um maior vínculo às doenças e Fabri e Waidman (2002), descreveram que esse profissional é mais capacitado a divulgar conceitos de prevenção e saúde.

Diante do que foi descrito por Ribeiro e Trelha et al (2005), relativo ao foco de ações, também se pôde constatar um desequilíbrio nas atuações do fisioterapeuta na UBS, já que as ações de prevenção possuem abordagem menor. Então, a partir da revisão realizada e da abordagem em alguns trabalhos, verificou-se que os fisioterapeutas são profissionais importantes na composição de uma equipe de saúde na UBS, pois contribuem para a qualificação das ações de saúde junto à comunidade e a efetividade de um sistema de saúde universal, integral e equitativo. 

Conclusão 

As atribuições do fisioterapeuta para saúde coletiva são bastante amplas e têm como principais objetivos proporcionar uma atenção integral aos indivíduos, identificar os problemas de saúde, incentivar ações comunitárias, bem como estimular e desenvolver a participação da população local na solução de seus problemas e no exercício do controle social sobre os serviços que recebe.

O trabalho do fisioterapeuta na saúde coletiva propõe também a organização de relações horizontais no interior das equipes, com o reconhecimento da competência de cada membro e a busca através do diálogo, a definição de uma ação conjunta e não apenas justaposta de todos os integrantes.

Além disso, é importante considerar que este fato fomenta a medicalização histórica da sociedade, que vê na atenção curativa biomédica e especializada a solução para todos os seus males existenciais, incluídos no processo saúde-doença.

Conforme o propósito desta revisão, através da caracterização das ações próprias do fisioterapeuta na saúde coletiva, tanto em relação ao que é descrito nas legislações quanto nos trabalhos que destacam conceitos, observações e vivências, identificamos a existência de ações semelhantes e complementares entre esses profissionais. 

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