ATOS DOS APÓSTOLOS - O Livro e sua Estrutura

O Livro dos Atos dos Apóstolos, ao que parece, foi produzido pela mesma comunidade lucana que produziu o Evangelho de Lucas. Percebe-se isso olhando que os Atos mantém a mesma estrutura e, ao que tudo indica, continua o plano do Evangelho. Como os referimos ao evangelho dizemos ser "de Lucas", usaremos a mesma denominação, dizendo que seu autor é Lucas – embora sabendo que, provavelmente, a obra tenha sido organizada por uma comunidade... mas essa é outra discussão.

Podemos observar a semelhança e perspectiva de continuidade quando comparamos o início e final do Evangelho com o início e final de Atos (Lc 1, 1-4 e Lc 24, 44-52; At 1, 1-3 e At 28, 28-31. O destinatário é o mesmo; o texto é produzido após "pesquisa"; objetivo permanece sendo demonstrar a solidez dos ensinamentos.

Entretanto podemos nos defrontar com alguns problemas. O título: por que Atos dos Apóstolos se não são narradas as ações de todos os apóstolos? Não seria melhor dizer Atos de Apóstolos? O fato é que não foi Lucas que denominou o livro como Atos dos Apóstolos, mas a tradição da Igreja que assim o fez.

A intenção de Lucas parece ter sido a de mostrar a força do Reino de Deus que, ao ser anunciado, cresce; e o autor parece estar interessado em mostrar que a ação do Espírito Santo fez com que Paulo, a exemplo de Jesus, falasse aberta e livremente sobre as maravilhas do Reino de Deus. Além disso, parece querer mostrar que o anúncio chegou ao seu objetivo: a cidade de Roma onde Paulo se instala e de onde faz com que a Palavra sobre o Reino se espalhe. Com isso Paulo, na visão lucana, repete e executa a ordem de Jesus: animado pelo Espírito, anuncia a presença do Reino de Deus.

Por isso podemos dizer que o livro de Atos, como o Evangelho de Lucas tem o mesmo objetivo que é anunciar a presença do Reino de Deus. Começa com a solidez dos ensinamentos de Jesus e termina com Paulo a partir de Roma, fazendo o anuncio se irradiar para todos os quadrantes do mundo.

Em função disso podemos dizer que o livro dos Atos dos Apóstolos, na realidade são uma narrativa dos atos de Paulo. Isso sem nenhum menosprezo aos demais apóstolos e sem supervalorizar a Paulo. Apenas que Lucas, aparentemente discípulo de Paulo, (Paulo se refere a ele, nas cartas: Cl 4,14; Fm 24; 2Tm 4,11; conferir, também as "seções-nós" em que o autor de Atos parece se incluir na narrativa: 11,27; 16,9-17; 20,5-15; 21,1-18; 27,1-28), narra a perspectiva da mensagem com a qual conviveu e se utiliza da fonte em que bebeu: os ensinamentos de Paulo.

Evidentemente Lucas menciona outros apóstolos e testemunhas. Tanto que do ponto de vista da atuação dos apóstolos, dedica os primeiros capítulos a Pedro – e outros. Introduz gradualmente a figura de Paulo, que aparece quase insignificantemente para ir crescendo até ganhar a centralidade da obra. No capitulo 7 aparece o Saulo Perseguidor. No capitulo 9 sua conversão. E a partir do capitulo 11 sai em missão, junto com Barnabé e a partir do capitulo 15 começa a grande caminhada de Paulo em direção a Roma onde Lucas o coloca pregando em liberdade.

Com isso podemos fazer uma primeira grande divisão no livro de Atos: a primeira parte sendo aquela que trata das origens da Igreja, em Jerusalém, de 1,1 até 15,35; a segunda parte narrando a atuação de Paulo viajante, até sua instalação em Roma, de 15, 36 até 28,31.

Muitos elementos podderiam chamar nossa atenção, no livro dos Atos. Mas vamos destacar o final do texto que mostra Paula estabelecido em Roma. Essa cidade, vista como centro do mundo é onde Paulo se instala para, de lá, fazer com que a mensagem de Jesus se espalhe pelo mundo. Portanto a perspectiva lucana é estratégica: mostrar que a Palavra se irradiou pelo mundo, a partir de Roma, da mesma forma que havia se espalhando no episódio do Pentecostes. Ou o episódio do Pentecostes é um prenuncio de como a Palavra, que chegara a Roma, atingiu todo o mundo, ou seja, se universaliza.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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