Este texto tem como objetivo expor ideias que permeiam nos meus conhecimentos referentes ao ato clínico e reforma psiquiátrica. Não há, aqui, referenciais teóricos em fontes de dados, apenas será exposto àquilo que fora aprendido ao decorrer do curso e conhecimentos gerados a partir de discussões extracurriculares.

            Inicio esta discussão na ideia de Estado Estético e Ético de Kierkgaard. Segundo o filósofo o Estado Estético é referente à arte, ao belo, ao prazer; ou seja, as sensações. Desde muito cedo aprendemos a viver neste Estado, que é a fuga de si mesmo. Por exemplo, na escola nós aprendemos a ser de uma maneira que se é esperada, que se é aceita (ser comportado, fazer silêncio, obedecer, etc). Quando uma criança manifesta o seu ser, ou seja, sendo elas mesmas (Estado Ético), muitas vezes elas acabam fugindo desta ideia alienante, causando estranheza e as classificando como anormais e/ou diferentes.

            Podemos estender essa ideia para o âmbito da saúde mental. Por muito tempo fora atribuído a nomenclatura de “anormal”, “maluco”, “doido”, etc. para aquelas pessoas que demonstravam ser o que eram. Pessoas que não se escondiam atrás de aparências. Pois hoje, as pessoas têm medo de dizer o que pensam, de fazer o que querem, por medo de serem taxadas como diferentes. Diria Sartre: “o inferno são os outros”.

            Vale ressaltar a noção de dialética. Na qual é vista como uma espiral sendo em-si-para-si. Rumo a um futuro. Na qual, a totalidade não se completa nunca, está sempre por se fazer, em processo de ser constituída. Contribuindo no entendimento de como se construiu as ideias alienantes que permanecem nos dias atuais. Tendo como base novas sínteses de conhecimento em nosso momento histórico.

            Percebo que há uma grande problemática referente ao Positivismo e ao plano Cartesiano nas quais ainda são grandes influências na Psicologia e Psiquiatria. Tal noção cria um sentido do que é o homem, que na maioria das vezes, o estigmatiza. Veem a doença entre parênteses e esquecem da pessoa em si. É de suma importância que entendamos que quem deve estar em primeiro plano é a pessoa.

            Referente ao ato clínico eu penso no método clínico e na definição de Foucault, quando diz que a etimologia da palavra clínica vem da noção de estar ao pé da cama. Ou seja, junto ao paciente. Porém, o método clínico fora usado na medicina principalmente entrelaçado a política. O problema da medicina em se apoiar na racionalidade político-clínica se dá que para conhecer a pessoa, é necessário isolar apenas o fato patológico; focando apenas a doença e deixando a pessoa em segundo plano.

            Tal acontecimento vem de encontro com o sistema político que vivemos: capitalismo. Indústrias farmacêuticas, hospitais, manicômios foram e ainda são máquinas de fazer dinheiro, nas quais mercantilizam as doenças. É como se dissessem: se os loucos forem dar trabalho, que deem aonde podemos lucrar com suas loucuras. Não penso que não devam existir medicamentos etc., acredito que o método clínico se faz importante quando se é necessário, quando é pensando com coerência, ética e enfatizando os direitos humanos; e entendendo o homem como um todo. Não há mente sem corpo e não há corpo sem mente.

            A prática clínica vai muito além das evidências anatômicas e fisiopatológicas. É necessário que às pessoas que trabalham com saúde mental rompam com ideias e filosofias alienantes referente a noção de homem e que possam entender o homem em situação. Entender aspectos multifatoriais e compreender a noção de alteridade.

            Acredito que saúde deve ser discutida em âmbitos mais abrangentes, entendendo que para fazer saúde não é necessário a ideia de ausência de doença, mas sim: educação de qualidade, transporte, habitação, alimento, etc. O psicólogo, e os demais profissionais, devem encontrar, no sujeito, meios de potencializar seu bem estar através de atividades, projetos, oficinas, rodas de conversa, apoios, entre outros.