Atlântico, a base de um triangulo.
Por jocimar vieira dos santos | 17/12/2016 | HistóriaNeste artigo venho mostrar no intervalo temporal de 1830 à 1850, em
perspectiva triangular(Europa, Brasil e África) com ênfase no Brasil.
As pessoas que retornaram à sua terra natal por meio de coação do
Estado.
Ou seja, os Libertos africanos, forçados a voltar para África por (n) motivos
atrás de sua identidade, portanto este ensaio terá como eixo, o liberalismo e o
nacionalismo no contexto da segunda metade do século XIX.
Período este permeado por essa ideologia difundida após Revolução
Francesa, somando-se ao temor de revoltas, como a Haitiana e o do Malês, resultou
no receio do império brasileiro, a perda do controle da população negra e com
proibição do tráfico negreiro e o avanço do pensamento liberal cruzando o atlântico
triunfando na cabeça da nova burguesia apropriando-se do espaço público, sobre o
controle da autoridade estatal, exercido a partir das instituições.
O Estado começa rever suas bases, assim motivando uma campanha em
conceder cartas de alforria aos escravos. Mas mantendo a autoridade relativamente
na nova camada social, anexada nesta ordem liberal, entretanto, estas concepções
não agraciavam a todos, "dentre os libertos, os africanos eram alvo de mais suspeição, e sofriam
restrições legais muito mais estritas".(Negros, Estrangeiros os escravos libertos e sua
volta à África, p.74)
. Desta maneira, em 1830, é determinada a proibição dos africanos libertos em
transitarem espontaneamente para fora da sua habitação, mediante da apresentação
de um passe que ateste sua regularidade de boa conduta, do mesmo modo este
impedimento mantém-se por cinco anos em "uma serie de medidas discriminatórias contra os
africanos foi tomada na cauda da insurreição de 1835." (Negros Estrangeiros, os escravos
libertos e sua volta à África, p. 76).
Tanto que no mesmo ano, com a fatídica revolta dos escravos na Bahia, às
outras províncias fica autorizada a banir todos os africanos libertos à sombra de
qualquer suspeita de rebelião.
Pois, é neste clima de desconfiança e ameaças que os libertos teriam que se
adequar a nova ordem liberal no panorama social do império,
"foi dessa burguesia, formada de militares, médicos e
engenheiros, que surgiu o movimento positivista no Brasil -
que representou o papel de um guia destinado a renovação
dos padrões da cultura e da política nacionais, contrapondo-se
ao catolicismo e ao espiritualismo eclético e firmando-se como
apostado de uma religião cientifica de alcance político".(
Marcas da Escravidão, p. 78).
Isso nos mostra a quebra dos paradigmas coloniais, deixando a elite
brasileira no controle e neste, contexto vem surgindo os alforriados no quadro
nacional começando a sofrer repressão desta classe de letrados formados na
Europa com ideais racistas.
Desta forma o Brasil assume uma solução jurídica de discriminação dos
africanos libertos:
"Foi evidentemente vedado ao escravo o acesso ao espaço
público, não lhe sendo permitido exercer atividades individuais
ou coletivas reconhecidamente ameaçadoras para ordem
estabelecida - dentre as, quais muito especialmente, qualquer
ação de cunho político". (Marcas da Escravidão, p.
133).
Expondo uma herança de 1824, dissidente da constituição promulgada no
império, que em síntese, incluía a cidadãos brasileiros, apenas libertos nascido no
Brasil, assim, simbolizando que os forros africanos estariam com status de
estrangeiros "Eles precisavam conseguir títulos de naturalização para gozar de alguns direitos
de cidadania" (uma historia do negro no Brasil, p, 155). Portanto os africanos
libertos não eram nacionais, nem estrangeiros, por que a esses últimos se
reconhecia direitos civis e possibilidade de naturalização, diferente dos africanos
forros que pertenciam a uma terceira categoria, a de seres humanos "civilmente
mortos", a que se recusou o estatuto de membro de qualquer comunidade, civil ou
política.
Dai, podemos ver o racismo nutrido pela classe burguesa mostrando um
quadro ideológico do segundo império.
À vista disso os alforriados africanos a sombra dessa perspectiva política de
homogeneização da "raça brasileira" são incentivados a retornar a sua terra de
origem. Assim ingressando em confrarias ou irmandades de africanos libertos e
escravos, sendo formadas no final do século XV em Portugal, já no Brasil as
confrarias existem desde o século XVII, já adaptada às necessidades desta
população em conseguir educação religiosa, assistência medica e busca de
identidade: "As irmandades de pessoas de cor do Brasil representam uma proteção contra uma
sociedade competitiva e dominada pelos brancos, não só para o negro trazido da África como
escravos ou libertos. As irmandades constituíam uma resposta associativa a uma necessidade
coletiva e individual sentida pelos negros e mulatos" (Escravos Libertos no Brasil
colonial, p. 193).
Desta forma, para combater o ostracismo, a uma inserção numa ordem
social de assistência mutua de construção de uma similaridade coletiva, no núcleo
de um mundo às vezes sufocante e sempre indeterminado, "As irmandades de cor
representavam um meio onde homens e mulheres, oprimidos pela sociedade hierarquizada,
conseguiam ser sentir um pouco mais livres, construindo um mundo paralelo ao da sociedade
escravista." (As irmandades religiosas de africanos e afros descendentes, p. 7).
E com todo desequilíbrio político ocorrendo no segundo império os
afrodescendentes e africanos forros ao pertencer a uma confraria estariam dentro
da legalidade, assim minimizar a possibilidade de revoltas coletivas.
Por outro lado em um olhar mais sistemático da elite aburguesada, a uma
idealização de como amansar o espírito africano.
Mas na verdade, as irmandades subdividiam-se de acordo com as etnias de
origem como: angolanos, jejes e nagôs assim, impedindo uma uniformização
ideológica que seria capaz de levar um controle grupal mais intolerante.
Assim adaptando-se e criando micro-estruturas de poder com estratégias
de união, estabelecendo princípios de sociabilidade para com isso gerar canais de
negociação com os governos provinciais e representando um meio onde homem e
mulheres, oprimidos pela sociedade hierarquizada, conseguisse sentir-se um
pouco mais livres, construindo um mundo paralelo ao da sociedade opressora,
assim moldando-se ao novo sistema socioeconômico(imperialismo e abolição) que
vem configurando-se no Brasil e no mundo.
Pois temos que conceber estes princípios, à luz das legislações de
proibição do tráfico negreiro que no seu âmago foi mais um eurocentrismo no qual
o impulso imperialista introduziu um novo sistema social e político nos dois lados
de Atlântico( Brasil e África Ocidental ), no qual havia um grande excedente viável
de consumidores, assim transformando a dinâmica interna da economia política da
escravidão em um sistema produtivo ligado ao mercado externo, isso em contexto
macro-estrutural em uma estrutura triangular(Europa, Brasil, África).
Assim, em uma das pontas(Brasil), a proibição do tráfico negreiro
aumentou os preços dos escravos, e cada vez menos pessoas podiam comprá-
los. Desde então, possuir escravos passou, a ser privilegio de alguns,
especialmente dos mais ricos, e com os preços em alta, pobres e desfavorecidos
ficaram sem condições de ter cativos e os que tinham procuravam vende-los. Logo
não fazia mais sentido defender a escravidão, já na outra ponta(África), a mesma
situação "O novo impulso imperialista introduziu um novo sistema social e político na África, no
qual não havia espaço para escravidão" (A escravidão na África Uma história de suas
transformações. p, 363).
Portanto o movimento abolicionista vindo de fora originando-se na
extremidade do triangulo(Europa), assim sociedades africanas não estavam
prontas em serem participantes passivas da extinção da escravidão, pois sua
atividade interna da economia política estava estreitamente relacionada à
transformação da escravidão em um sistema produtivo ligado ao mercado externo
como parte de desenvolvimento regional. Então, a transição de trabalho
compulsório para trabalho assalariado estava longe de ser uniforme, mas, sim
num contexto de mudança. Mesmo porque o moderno sistema industrial e uma
formação social fundamentada na escravidão eram incompatíveis, em termos
marxistas, logo, a extinção da escravidão era inevitável na conjuntura de
compreensão a uma economia mundial capitalista.
Em vista disso, neste panorama mundial a história microbiana dos
retornados, sendo, centro desta investigação, ao regressarem à África, foi
denominada de Agudás e Sarôs, assim continuando a luta por identidade, dado
que, quando chegavam a costa africana muitos se sentiram enganados pelas suas
memórias. "Não era aquela a África", que traziam na memória, nem muito menos aquela sobre
a qual os pais se tinham demorado em reminiscências acompanhavam os pais na viajem de
retorno, que se reservavam as maiores surpresas e as grandes decepções, quanto aos africanos,
estavam todos, ou quase todos, "abaianados", "amaciados pela Bahia ou "pernambucanizados"
ou "acariocados", viam-se como estrangeiros". (Um Rio chamado Atlântico. p 88).
Que na visão dos nativos eram geralmente tratados como "brancos", logo
aproveitando disto a maioria vinculou-se as estruturas de poder local fazendo
parte do trafico negreiro, já clandestino, e por receio de tornar a voltar o
contrabando de pessoas, alguns libertos ao retornarem à África foi confiscado
seus bens, pois os lideres da costa africana não desejavam a volta de ex-escravos
com novos costumes e crenças religiosas.
Mas nada disto, impediu o contingente de pessoas que retornaram à
África como, "comerciantes ou artífices, católicos, muçulmano ou devotos de orixás e dos vodus,
falando entre si o português". (Um Rio chamado Atlântico. p 95).
Pois estes seriam os Agudás que se diferenciariam de outros retornados,
os Sarôs, de antemão, falavam inglês com princípios protestantes apadrinhados
pelos britânicos e de um modo geral viam as religiões africanas com repulsa
"procuravam afastar-se, com certo desdém, dos nativos, com cujos chefes tinham dificuldade de
lidar" (Um Rio chamado Atlântico. p idem).
Já, os Agudás, embora também se sentissem sublimes aos da terra,
levaram do Brasil um cristianismo ou um islamismo complacente com as crenças
tradicionais, assim parecendo um legado adquirido das confrarias e irmandades
brasileiras antes do retorna a sua terra natal.
Portanto além retornarem à África, sendo por muitas vezes nos mesmos
navios que estavam trazendo novos escravos ilegalmente ao Brasil, e dividindo-se
em dois grupos distintos eles(retornados) tinham a mesma aspiração
independente das diferenças, em formar uma espécie de burguesia negra que
fosse aceita como igual no pequeno e fechado mundo dos brancos.