Assumindo a meia-idade

Rejane Guimarães

 

Hoje resolvi tornar este sábado mais belo e colorido, pois, acredito que dentro da minha força/agonia o meu Eu que é maior e permeia todo o meu ser, estar querendo escrever e registrar acontecências - presenteando--me com consciência cristalina, a transformação de todo este meu novo estado – a meia-idade, que é hoje o meu viver.

Sei que estou entrando numa nova fase (a da meia-idade), estranhando e surpreendendo-me, ao mesmo tempo. Tudo parece carecer de atenção, tudo me leva a fazer uma conexão com o que há de insano em mim, para entrar numa "sanidade” mais abrangente.

Como estou abandonando a minha antiga auto-imagem, a antiga já não me serve, tenho que considerar que estou na estação da meia idade, que é o outono; que a primavera e o verão já passaram. Apesar de desconfiar que essa “imagem de calendário”, não será preciso mais tarde, pois sei que a minha essência passará novamente por todas as estações.

Aos 50 anos estou descobrindo que é possível conhecer os próprios sentimentos sem automaticamente ter que agir de acordo com eles; que sentimentos conhecidos e repetitivos são mais fáceis de reconhecer do que os sentimentos negados; que é possível afirmar e reforçar alguns sentimentos não domados da minha infância e que é possível também, na meia-idade, tornar-se mais compreensiva, mais sensual, mais ousada, mais eclética, muito mais honesta e mais criativa... Sem ter que... Que bom simplesmente ser! É a loucura da racionalidade desenfreada!

Estou fazendo uso de minhas paixões originais e primitivas, juntando todos os meus pedacinhos - para me tornar mais completamente viva - afinal, já posso optar/escolher o que quero – enfim, amadureci.

Estou me perdoando, me reconciliando entre a luta, na infância, para fechar o abismo que separa o demônio e o anjo do próprio eu, para equilibrar o desejo de união com o desejo de liberdade e separação. Estou integrando o meu eu masculino e forte, com o meu eu feminino e frágil; o meu eu criativo com o eu que conhece a destruição interna e externa; o meu eu vivido agora na meia-idade, com o eu jovem lutador e cheio de entusiasmo.

Quero libertar o meu Eu antigo, sei que ele já foi bastante, quero me permitir seguir novos rumos, deixar acontecer! Agora posso escolher ser feliz, sentir prazer, amar, ser livre. Posso ousar e criar muito mais naquilo em que acredito sem impor-me a nenhuma regra.

Já fui bebê, menina, adolescente, estudante; já participei de política e imprimi os meus ideais; já casei, fui esposa e mãe; engravidei, pari, tive filhas - as criei, já são adultas; conheci e experimentei a escalada profissional, seja através de cursos, seja através de cargos e tantas funções. Já fui namorada, casada e me divorciei; fui amada e amante; já me aventurei e me entreguei. Machuquei-me, me frustrei, me decepcionei, me feri e agredi. Já me sabotei e me extrapolei. Já duvidei de mim, dos homens, de Deus, das minhas crenças; percorri religiões, conheci catolicismo, espiritismo, candomblé; seitas, esoterismos; mexi nos chakras; fiz regressão, canalização, energização, visualização criativa, harmonização, renascimento, constelação familiar; participei de grupos de terapia, retiros espirituais como: “Primal”, “Experiência Zero” e “Quem é você?”; mergulhei em vários tipos de meditação; coloquei cartas ciganas, tarôs; búzios, runas; mergulhei no meu mapa astral... ... Já leram minhas mãos, meu coração, tentaram ler até minha alma; Ufa! - cansei, mas, não me arrependi - sei que tudo valeu!

Quem eu sou? O que estou fazendo aqui? Para onde vou? Eu sou eu, essa Rejane que acredita no amor, na amizade, na paz, na criatividade, na felicidade, na abundância da vida, na plenitude do ser, no aqui e agora, e que hoje vive acontecendo, aprendendo e descobrindo-se infinitamente...

Eu quero me emaranhar pelos braços do mundo, eu sou uma guerreira de luz. Que esta luz me leve até onde eu possa ir, sem perder a graça, a garra, a menina, a adolescente, a mulher, a mãe, a guerreira. Estou disposta a me responsabilizar por mim, a ver tudo, ouvir, sentir, tatear, apalpar, a experimentar. Eu estou viva, e com saúde – sei que posso ousar e me arriscar, porque já sei que se não conseguir, posso recomeçar de novo, e tantas vezes quanto for preciso, porque hoje eu estou me amando, me aceitando, do jeitinho que eu sou até agora. Mas, sei também que posso ser ainda um monte de outras coisas e não tenho medo de descobrir. Quero me dar e entregar a mil e tantas possibilidades e enquanto estiver aqui, vou tentar usufruir ao máximo, com todas as cores, sentindo todos os sabores.

Adoro tudo o que fiz e faço. Gosto de olhar para trás e ver o que construí e o que a vida me possibilitou, mas não sou conformista, quero mais e vou me lançar ao desconhecido, ao infinito, ao inusitado. Estou aberta as acontecências.

Inspirei-me!  Mas tudo isso é para dizer que estou me amando e respeitando muito o meu ser. Estou honrando cada encontro nesta vida, cada descoberta, cada degrau, cada busca, cada troca. Sei que posso compartilhar e doar-me sem restrição, sem esperar o receber de alguém. Vivo no meu Eu individual silencioso e no meu Eu coletivo em plena sintonia com o meu ser – sei que a mãe terra, o planeta em que vivo e todo o universo - me acolhem.

É por isso, e por tanto mais, que adoro escrever sobre as descobertas destas minhas acontecências que só me incentivam e estimulam a fluir sendo o que sou.

Sei que já nasci e morri tantas vezes e ainda que aconteça o que quer que venha a acontecer, eu estou aqui! Posso me recompor. O aqui e agora me preenche.

Todas essas acontecências me levam para um novo ciclo, uma nova onda. O universo estar sempre aberto esperando que eu entre. Eu entro e mergulho e vou seguindo. Que bom não ir sozinha, sei que tem um monte de gente também se permitindo acontecer.

Quanto aos medos, decepções, frustrações, tristezas, angústias... Sinto que vem e passam. Tenho força, energia, coragem e compreendo que é na agonia do meu sofrimento interior que estou me confrontando para conectar-me com o divino, e nesse divino, tenho a certeza que uma porta sempre estará aberta para o belo, para a graça e beleza da vida.

Aceito essa dádiva de serenidade da maturidade que o divino está a me presentear. Sinto-me confiante perante a caminhada desta transformação que o meu ser vem experenciando. Sinto-me gerando e distribuindo energia, respirando e exalando vida, reconhecida e grata por todas acontecências que me faz ser o que sou - abençoada filha do divino.