As oferendas religiosas são recursos multi-milenares praticados por todas as religiões, umas a praticam de forma mais aberta e outras de forma mais oculta. As abertas são as que a realizam em santuários naturais ou nos campos dos Orixás  tal como a beira mar, nas cachoeiras, matas abertas, etc, pois veem essa mesma natureza como parte indissociável de Deus e meio que sustenta a vida e os seres na sua plenitude. As religiões que praticam o ato ofertório na natureza são classificadas como religiões naturais, pois cultuam Deus nas Suas várias formas de se manifestar em Suas partes que compõem o todo. As religiões que se utilizam dos recursos ofertórios, a fazem de forma oculta, pois não ofertam Deus e sua corte divina na natureza e sim dentro de templos fechados. Tal como a liturgia católica no ato da oferta da santa Óstia e o santo cálice de vinho, simbolizando ali o corpo e o sangue de Cristo. Aquilo nada mais é do que uma oferenda a Deus, ao mestre Jesus e ao divino espírito santo, solicitando que receba esta oferta e elementos simbólicos, que os imante e energize com seu poder purificador, para que assim ungidos, possam ser distribuídos a todos que comungam da fé em Cristo e possam ser abençoados com as vibrações divinas condensadas ali naqueles elementos simbólicos (pão e vinho). Certo! Já sabemos que em religião tudo é igual e o que nos separa e diferencia  são os pré-conceitos e preconceitos pessoais que fomentam a intolerância e a violência naqueles que querem se tornar donos de Deus. Paciência!

O que vamos abordar hoje é sobre assentamento dos Orixás e firmeza de guias, graus e forças espirituais, pois dentro do aspecto geral oferendas, esses dois quesitos estão e são voltados única e exclusivamente ao praticante ativo da religião, ou seja, ao sacerdote ou médium umbandista, ou seja, aquele que está vinculado à religião e suas práticas de forma ativa. Diferente do umbandista passivo, que é aquele que vai ao terreiro tomar seu passe, propaga a Umbanda, conhece a Umbanda, porém não faz parte do corpo mediúnico ativo, ou seja, não veste “o branco”. A esses são reservadas as oferendas abertas dos Orixás e guias protetores, no qual podem fazer uso sempre que for necessário, para agradecer, pedir prosperidade, abertura de caminhos, etc. Porém no campo das oferendas no que tange ao aspecto oferenda de assentamento de poderes divinos e oferenda de firmeza de forças espirituais, esses aspectos só estão voltados ao religioso praticante no qual o conhecimento é interno e não aberto ou “genérico” como nas oferendas básicas voltadas aos religiosos passivos ou simpatizantes da Umbanda.

O assentamento de forças, geralmente está ligado a um terreiro ou templo religioso cuja a finalidade é receber dezenas ou centenas de pessoas com diversos problemas, tanto pessoas passivas que só vão para tomar um passe e buscar auxílio, como pessoas ativas (médiuns) que estão para auxiliarem aqueles que vão em busca de auxílio.

O nome Assentamento, de forma simbólica significa: poderes divinos assentados, ou seja imutáveis, perenes, auto-geradores, imanentes e eternos. Assentamento refere-se a fundamentos voltados as divindades que não são seres em sí, mas sim o próprio poder divino ou uma individualização de Deus que é eterna, perene, perfeita e imutável e não sujeita a evolução, pois é em sí o próprio poder que sustenta a evolução dos seres. Os Orixás maiores são poderes Divinos, eternos, perenes, imutáveis e sustentadores da criação e das criaturas que habitam e evoluem nos meios evolutivos a elas destinadas. Sendo assim: assentamento é sinônimo de poder e está ligado de forma vertical e a partir do alto que é onde se encontra as faixas vibratórias divinas. Geralmente um assentamento é feito somente por sacerdotes que tem um templo aberto e ativo, que possuem médiuns e fazem atendimento as pessoas que até esse templo chegam aflitas e em busca de uma orientação e uma palavra de conforto e esclarecimento para que direcionem suas vidas. O assentamento tem ligação com o Orixá ancestre, e o Orixá Pai e Mãe de cabeça do sacerdote dirigente do templo, também tem correspondência com o par de Orixá regente do templo, Orixás esses que dão sustentação religiosa para todo os trabalhos e manifestações espirituais, no qual geralmente batizam o terreiro com o seu nome, por exemplo: tenda de Umbanda Ogum Beira-Mar, tenda de Umbanda Ogum Mege e Pai João de Angola, tenda de Umbanda Caboclo Sete Luas e Pai João de Aruanda, e assim sucessivamente. O assentamento de poderes esta voltado para a coletividade, dando sustentação à tudo e a todos que encontra-se sob o amparo do solo sagrado do Templo de Umbanda. No assentamento de um terreiro está o fundamento do Orixás regentes da corôa e das forças  do sacerdote, tanto no assentamento das forças positivas e da direita, quanto das forças ativas e da esquerda. Por exemplo: o sacerdote em seu triângulo de força tem a regência de Ogum, Oxala e Iemanjá, na sua Trunqueira (assentamento dos Orixás da esquerda) estará assentado além do Orixá maior Exu, Pomba-gira e Exu-mirim, os Orixás Exus guardiões dos mistérios de Oxalá, de Ogum é de Iemanjá, que são os Orixás regentes da corôa daquele sacerdote em questão.

O assentamento, uma vez assentado, firmado e ativado, aquele espaço se torna um portal permanente de poderes divinos que darão todo um amaparo religioso e magistico aos trabalhos espirituais e atendimento realizados por aquele terreiro.

O assentamento para nós explicarmos melhor, seria como se fosse uma usina hidroelétrica de fonte de energia perene, imutável, inesgotável e imanente, dando sustentação a todas as casas (forças espirituais) chegando do alto ou verticalmente e se multiplicando em nosso meio de forma horizontal. No assentamento fundamenta-se os Orixás e na firmeza fundamenta-se os guias protetores e linhas de trabalho. No assentamento fundamenta-se o Orixá Ogum é na firmeza o caboclo de Ogum que por ser um espírito humano encontra-se no plano espiritual que é onde flui horizontalmente  as energias divinas que nos chegam do alto ou verticalmente. No assentamento fundamenta-se o poder divino e na firmeza fundamenta-se as forças espirituais. No assentamento fundamenta-se o que é eterno, imutável e perene, na firmeza fundamenta-se o que é finito, transmutavél e transitório. O assentento pertence ao grau ativo de Pai espiritual, do sacerdote e ao templo religioso, e a firmeza pertence ao filho no santo, médium e sua residência onde encontra-se seu altar e sua firmeza de esquerda que é ativada toda vez que esse se dirige ao terreiro para trabalhar. Tudo tem uma correspondência hierárquica muito bem pensada, onde assentamento significa: Poder, Orixá maior ou do alto, Pai ou Sacerdote e sustentação coletiva ou terreiro e altar coletivo, e firmesa significa: Força, Orixá menor ou de frente, filho de santo ou médium e sustentação pessoal e individual ou residência ou altar particular. Assentamento significa: amparo coletivo, e firmeza significa: amparo individual. Assentamento significa: amparo ao todo, e firmeza significa: amparo as partes que compõem o todo.

E qual o fundamento de fazer uma firmeza e um assentamento na natureza?

Vamos lá: Tanto o assentamento, quanto a firmeza deve sim ser feito primeiro na natureza, para que dessa forma, quando abrirmos uma oferenda ritual no campo do Orixá no qual realizarei o assentamento na natureza, (por exemplo Xangô), ela (oferenda de assentamento) se abra no campo natural da divindade Orixá para que no centro da oferenda seja imantado e consagrado na força do Orixá diretamente no seu campo natural que é por exemplo as pedreiras, para depois de imantado num ritual específico, possa ser recolhido os elementos que darão sustentação e fundamentação no assentamento e possam ser levados ao templo para que ali de forma definitiva seja assentado. A razão de termos que ir primeiro na natureza e fazer uma oferenda ritual de assentamento para depois assentarmos os elementos consagrados em nosso terreiro, é para criarmos uma correspondência magnética, ligando o campo ou santuário  natural da divindade Orixá ao nosso terreiro, estabelecendo uma ligação permanente entre os dois campos um natural “pedreira” e outro “abstrato” templo, um altar natural erigido na  natureza  e outro altar montado erigido no templo. Quando realizamos um assentamento na natureza e depois no terreiro, abrimos uma comunicação e uma passagem espiritual permanente para as faixas vibratórias naturais da Divindade maior e  para a nossa faixa vibratória evolutiva humana, fato esse que possibilita e facilita o trabalho espiritual em um terreiro de Umbanda sem que haja tanta sobrecarga energética no local, pois o assentamento está ligado de forma permanente com a faixa vibratória natural do Orixá assentado no caso do nosso exemplo o Divino Pai Xangô e isso facilita o trabalho dentro do terreiro de Umbanda, pois toda a  carga negativa que para nós seria e é totalmente nociva, é absorvida e diluída de forma natural no campo da divindade que possue energias altamente elementarizada e capaz de consumir em segundos toda uma descarga de energia negativa. Para que entendam melhor o que seria uma correspondência magnética com o campo natural, imaginem o scanner ou para quem é mais antigo o saudoso fax, sua função era passar a copia de um documento numa máquina e a cópia chegava no mesmo instante na casa da outra pessoa, mesmo estando em continentes diferentes. A correspondência magnética seria o número de telefone ou código de acesso de um lugar para o outro, facilitando assim a comunicação entre dois extremos.  Funcionaria como um fax, onde a carga chegaria no terreiro e essa carga que chegou era enviada via fax para o campo da divindade na natureza e lá seria descarregada sem que as pessoas precisassem leva-la.  Por isso o motivo e o fundamento por traz de uma oferenda de assentamento e de firmeza ter que ser feita primeiro na natureza, pois caso seja feita direto no terreiro, a sustentação será somente espiritual e não divina ou elemental. Tal como por exemplo: um colar consagrado pelo guia espiritual ele traz toda uma sustentação espiritual que irá nos proteger, mas quando consagramos também na natureza no campo do Orixá responsável pela consagração daquele colar, ali naquele instante também o colar passa a ter uma sustentação energética de padrão elemental e também abre-se uma comunicação e correspondência com o campo da divindade que  será  ativada sempre que usarmos o colar e solicitarmos proteção.

Um assentamento feito na natureza e posteriormente levado para o terreiro é tão importante, mas tão importante, que possibilita ao guia espiritual receber um colar do seu medium, consagra-lo e ativa-lo com velas, assopros e estalos de dedos que o mesmo adquiri ali a sustentação espiritual e também a elemental, mesmo sem o médium ter ido na natureza, pois o assentamento ali feito já fornece as energias elementais necessárias para que o colar tambem tenha sustentação espiritual,  elemental e Divina, pois o assentamento é um portal aberto de forma permanente com o campo natural da divindade que no nosso exemplo é Xangô, é como se tivéssemos ali dentro do terreiro a própria pedreira e o santuário natural do Orixá Xangô.

Sendo assim, o assentamento é imprescindível para o terreiro, e para o médium? Aí já é imprescindível a firmeza de forças na natureza! A firmeza de força na natureza deve ser feita no campo da divindade Orixá ou no campo de força do Orixá regente da linha de trabalho ou do grau espiritual a ser ofertado e firmado. A oferenda ritual consagratória de firmeza de força por exemplo do Orixá Ogum Beira-Mar deverá ser feita no campo natural desse Orixá intermediário que é a Beira-Mar, tal como a do Senhor Ogum Rompe-Matas deve ser feita no campo natural desse Orixá que é nas matas próxima a uma clareira. Ali faremos uma oferenda ritual e no centro colocaremos um elemento consagratório, tal como uma pedra, um minério, um símbolo, um colar, etc. Depois de determinado comportamento litúrgico, recolhemos o elemento consagrado, envolvemos num pano da cor do Orixá e depois o firmamos em nosso altar pessoal em casa, e ali sempre que firmar a vela correspondente a força firmada na natureza, esse elemento se ativará e se comunicará com o campo elemental da divindade maior regente do mistério Ogum Rompe-Matas ou Beira-Mar, se ativando e limpando a nós que estaremos de frente para o elemento em oração, que estara recolhendo e limpando toda as energias negativas que estiver vibrando em nossa casa e em nossos familiares que moram conosco, e após recolhe-las e equilibrar todo o ambiente, essas energias são enviadas para o campo da divindade e lá serão diluída de forma instantânea, e após a realização desse trabalho o portal elemental se recolherá assim que a vela se acabar. Ficando o elemento ou a firmeza neutra aguardando ativação.

Lembre-se: enquanto um assentamento de poder permanece ativo de forma permanente, bastando entrar num templo para que seja beneficiado imediatamente. A sua  firmeza de força só se ativará quando ativada por você e só por você, pois no ato da oferenda consagratória, tudo que foi feito, foi feito na sua vibração, tornando aquela ativação particular e intransferível. Daí você pergunta: ah mais eu Firmo o altar e a Trunqueira do terreiro que frequento, pois tenho essa função e meu pai de santo autorizou, não tem problema? Não!  pois lá existe o assentamento que ampara de forma coletiva sendo assim não importa quem acenda ou firme o conga do terreiro, ele será ativado pois o assentamento é o poder ativador permanente e você na verdade só ira ascender a vela pois a ativação e a  determinação de trabalho se ativa automaticamente, pois é viva, ativa e pensante, qualidade essa que está presente nas divindades que são misterios divinos e estão devidamente assentadas no terreiro. Por isso que a quartinha de cada filho de santo e dada ao cuidado dos próprios filhos, pois ali a quartinha simboliza a firmeza dos filhos que é pessoal e intransferível.

A Umbanda possui fundamentos infinitos, pois os mistérios de Deus são infinitos e a Umbanda é um dos infinitos mistérios de Olorum o Divino Criador, no qual quanto mais mergulhamos, mais nos surpreendemos e nos encantamos.