As vantagens de cada um

 Depois de ter trabalhado o dia inteiro debaixo de um sol escaldante, fui para casa, não sem antes ir à lotérica pagar minha conta de luz.

A fila estava grande, e eu cansado. Mas não cansado o suficiente para não reivindicar meus direitos, e colocar no último lugar da fila aquele rapaz simpático, falante, que pôs-se a conversar com uma senhora que estava à minha frente, e dar à ela, o que a ele cabia pagar.

Paga a minha conta, resolvo passar no supermercado para algumas compras, antes de chegar em casa, tomar um banho gostoso, colocar uma roupa confortável, preparar meu jantar, e depois assistir a algum programa na televisão antes do sono chegar.

Mas acontece que o que vi não me agradou, e o justiceiro que habita em mim, mais uma vez apareceu.

Uma senhora, que mora a poucas casas da minha, estava no supermercado com duas crianças, que pensando levar vantagem, pegaram, cada uma, um pacote de bolachas, um achocolatado, e fizeram um lanchinho rápido, escondendo os vestígios debaixo de uma prateleira. Fome, ou início de uma vida, onde tirar proveito de uma situação, estava dentro dos padrões familiares ou ambientais? Eu não disse nada, apenas fiquei olhando os três. Meio sem graça, as crianças pegaram o que tinham escondido, e entregaram para que fosse pago. Que tenha servido de lição.

Essas coisas tidas como sem importância e sem problema algum, feitas para que vantagens sejam conseguidas em proveito próprio, fazem com que nasçam os corruptos, sempre prontos a se julgarem mais espertos que o outro, e que ao encontrarem um ambiente tido por eles como favorável, agem, navegando na ilegalidade. Será isso resultado de experiências vividas e repetidas através dos tempos? Talvez.

O jogar o lixo no chão, dar troco errado, receber troco a mais e não devolver, levar uma caneta do escritório, comprar uma dúzia de treze quando ninguém está olhando, não fazer bem feito um trabalho para o qual está sendo remunerado, denota um sentimento de inferioridade, camuflado em esperteza.

O apropriar-se de pequenas coisas, julgando que ninguém perceberá, faz com que as pessoas não percebam que mesmo que ninguém saiba ou veja, ela terá sempre em mente o que fez. Afinal, enganar todos pode ser fácil, mas enganar a si mesmo jamais.

Qualquer palavra dita fará com que venha à tona o mal feito.

Ou não?