AS TOPADAS DE ANUNCIAÇÃO

Autor: Júnior do Cordel

 

A cidade campesina        

Encravada no sertão,          

De nome, Anunciação,          

Traz consigo uma rotina

Ou quem sabe uma sina

Que causa um mal estar.

As mulheres do lugar

Traem com facilidade

A tal da infidelidade

É fácil de encontrar.

 

Vez por outra acontece         

Na cidade, um quebra pau.

A mulher do Ladislau

Que às vezes desaparece     

E só quando anoitece

Retorna para o seu lar.

O cabra a desconfiar

Causa grande confusão.

Neste dia o sertão                 

Tem muito pra comentar.

 

Não se fala em outra “brisa”              

Todos dão opinião:    

- Faz tempo, “né” de hoje não!   

- Dizem até que Adalgisa,      

Com aquela cara lisa

Bota galha no José!

O pobre envolto na fé

Não tem nenhuma maldade.

Pregando a caridade

Esquece até da “muié”!      

 

Por conta deste adultério                               

A cidade ganha fama.                                                        

E quem não gosta, reclama:   

- Tudo isso é impropério     

- Ninguém mais nos leva a sério,      

Onde isto vai parar?

Pra tentar amenizar

Um pensamento surgiu.            

O Padre então sugeriu

Um nome novo criar.

 

Se a “galha” for colocada      

Fica assim bem decidido:             

- Pra o pecado cometido      

O novo nome é topada.                                              

Então fica disfarçada     

Diminui a exposição.

Logo em Anunciação     

Finalmente a paz reinou!

Se uma topada levou

Resolve na confissão.

 

Na igreja diariamente

Era uma fila danada!

- Padre, dei uma topada!

- Peço perdão novamente!

O Padre pacientemente

Passava a penitência:

Procure agir com decência  

Que Deus dará o perdão!

Mesmo com todo sermão

Topada, não tinha ausência.  

 

Um certo dia porém

O velho Padre morreu!

E então se sucedeu  

A troca, como convém;

- Já sabem quem é que vem?       

Era só o que se falava.

Na mesma noite chegava

Novo Padre pra assumir          

E por sua vez ouvir                  

Confissões de quem pecava.   

 

- Padre dei uma topada!

Qual a minha penitência?

Errei e peço clemência,              

Já estou envergonhada,                

Esta é a quarta topada!

Não sei mais o que fazer.

Se voltar a acontecer

Aqui eu não volto mais!

- Calma filha, fique em paz       

O perdão você vai ter!         

 

Foi só uma topadinha!

Pecado isso não é!

Fique em paz com sua fé

Continue andar na linha.

A mulherada caminha

Com falta de atenção.

Só em Anunciação

A topada é geral

Isso já não é normal,      

Tem que ter explicação!

 

Vou até a autoridade

Pra o problema resolver.          

Pois está pra acontecer              

Um mal maior na cidade.

Prefeito por caridade          

Veja a pavimentação     

Ajude a população

Não tem dedo que aguente

A topada é recorrente    

E não cabe confissão.

 

Por conhecer a história

Começou a gargalhar!

Do Padre a desdenhar

Com uma certa ironia.

Tranquilo, na calmaria

O Padre sem entender

Diz: - Cuide de fazer!    

Pois sua esposa amada

Já levou tanta topada

Que os dedos estão a arder.