AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO SURDO

                   (uma análise bibliografica sociológica)  


                          Alcides Inácio Sousa Simião
                       Prof.Esp.Mestrando em Educação
                          www.masterflag.blogspot.com
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Resumo

O conjunto de aspirações que levam indivíduos com pensamentos diferentes a agruparem-se em busca de soluções ou idealizações que mesmo sendo individualmente contraditórios, no coletivo os objetivos tornam-se comuns, então temos uma representação social que conjuntamente oferece o sentimento e as disposições referentes a um determinado grupo de indivíduos, em algumas instancias essas representações dar-se-ão por meio de similaridade da lingua e a maneira de expressão, com a busca de ideias e direitos e consequentemente deveres, essas representações sintonizam-se com as possibilidades de posicionamento e busca de direitos , como no exposto sobre a Comunidade Surda, em que a integração a sua representatividade visam a busca de conquistas inerentes ao seus anseios de reconhecimento.

Palavras chaves : Representações, indivíduos, Comunicação, Interação, Surdo

1 Introdução

                As representações sociais segundo Moscovici (2001), baseado nas teorias de Durkheim (1963,1968), são os conjuntos de conhecimentos e objetivos comuns que levam a um posicionamento participativo do individuo que mesmo com suas concepções individuais interagem em determinado grupo, buscando elementos que identifiquem suas ideias e objetivos, apesar de em alguns momentos haver interferência nas suas ideias pré-concebidas figurando uma realidade consciente e consensual na construção social.

           Quando teorizam que o individuo é uma criatura racionalizante, relaciona-se a intenção de o qual o ser humano interage de acordo as ideias e opiniões de um coletivo, onde há  receptividade a sua busca de socialização, procurando interações que esteja em sintonia com as suas reflexões, dessa maneira buscando maior relação entre suas tensões internas e externas. Levando o individuo socializar com um mundo interior, e, de outro, devolvendo o mesmo ao mundo social (MOSCOVICI, 1990).

                   Para Jodelet (1989), no campo das ciências humanas o conceito de representação social tem suas teorias baseadas na complexidade, vitalidade e transversalidade.

                 Segundo Jodelet, as representações sociais são praticas de compreensão e domínio social, material e de ideal, orientadas como modalidades de pensamento, apresentando suas especificidades de caráter organizacional em seus conteúdos, e dos seus métodos de operações logicas e mentais, ainda voltada para a interação e compreensão do individuo com o mundo e com os outros. (JODELET, 1990, pp. 361-362).

               Para Moscovici (2009, p.40), qualquer interação surgida entre indivíduos sendo em grupos ou não, pressupõe uma representação de maneira partilhada socialmente tornando-se um acontecimento conjuntural,

" De um lado a representação social é concebida como processo social que envolve comunicação e discurso, ao longo do qual significados e objetos sociais são construídos e elaborados. Por outro lado [...] as representações sociais são operacionalizadas como atributos individuais – como estruturas individuais de conhecimento, símbolos e afetos distribuídos entre as pessoas em grupo ou sociedades (WAGNER, 1995, p.149). "

                [...] Não existe um corte dado entre o universo exterior e o universo do individuo     ( ou grupo ), [pois] o sujeito e o objeto não são absolutamente heterogêneos em seu campo comum” ( MOSCOVICI, 1978, p. 48 ). O individuo e as representações sociais são constituídos ao mesmo tempo, pois um interfere de maneira ativa em relação ao outro, sendo as representações sociais um prolongamento das aspirações internas sem no entanto receber diretamente as modificações dessas aspirações, cada individuo adapta seus interesses em detrimento a uma motivação comum referenciada por essas representações sem no entanto modifica-las a suas necessidades.

2 Representações Sociais  de acordo com a comunicação e interação.

" Então, no caso da comunidade surda, a L1 é essencial – as crianças surdas precisam ter acesso a uma língua de sinais para garantir o desenvolvimento da linguagem e, consequentemente, do pensamento – e a L2 é necessária – as crianças precisam dominar a L2 para fazer valer os seus direitos diante da sociedade ouvinte. (QUADROS, 1997, p. 85)." 

               Destacamos aqui de acordo com Quadros (1997) que a lingua de  maneira expressiva e como objeto de interlocução forma uma associação representativa entre os seus pares, principalmente quando denotamos a cultura de uma determinada comunidade, no caso a surda, principalmente por ser a aquisição dessa lingua pelos surdos de maneira sistemática e mesmo que no seu dia-a-dia estejam expostos a todos os meios de comunicações possíveis, a comunicação e a interação dar-se-á de maneira mais espontânea pela lingua de sinais, no caso do Brasil a LIBRAS.

             Os surdos em sua cultura (Surda), possuem historia de vida, lingua com modalidade visual-espacial, uma visão de mundo em muitos aspectos diferenciadas dos ouvintes, com tecnologias particulares conhecidas ou não diante dos mundo dos ouvintes, assim Felipe         ( 2008) afirma que os surdos tem seu modo particular e peculiar de ver e as modalidades de comunicação ao seu redor, compartilhando entre seus pares os comportamentos e tradições sócio interativas, esse modo de viver recebe o nome de ¨Cultura Surda¨.

             De acordo com Bentes and Hayashi (2012) Os surdos sentindo-se em desvantagem em relações as outros indivíduos, buscaram integrar-se. [...] Todo grupo humano em situação de desvantagem social, cultural, econômica, política ou jurídica, cujos direitos são vulnerados apenas por possuírem algumas características diferentes das do grupo dominante da sociedade (LOPES, 2006). Diante dessas afirmações. Visualizamos a busca incessante de aglutinação dos indivíduos com sentimentos de perdas em seus direitos em agregar-se as representações sociais que os tornem grupos organizados com características de igualdade e direitos mesmo que de maneira particular não sejam totalmente absolutos, mas que na generalização de um bem comum consigam demonstrar suas necessidades diante de sua vulnerabilidade individual.

3 As identidades dessas representações da cultura surda.

              De acordo com Perlin (1998), é por meio de uma identidade que uma comunidade se constitui e se representa de maneira autentica, essa integridade é que identifica a cada individuo dentro desse ambiente condizente com a sua condição de pensar e agir assumido nessa sociedade.

                  Os relacionamentos preferenciais aos seus semelhantes fortalece essa representatividade, é no contato com seus pares que o individuo surdo se identifica e encontra outras relações com a sua historia, seus problemas do dia-a-dia, suas dificuldades escolares, sendo desta maneira uma espécie de troca de informações que somam-se as demais necessidades e dificuldades de todos.

" [...] “é a constituição dessa linguagem específica que acompanha a formação de uma representação. Uma vez conseguido isso, as palavras obtêm seus sentidos específicos e esses, por sua vez, justificam seu uso na propaganda. A repetição dos elementos formaliza e solidifica o pensamento, tornando-o parte da constituição linguística e cognitiva do indivíduo” (MARKOVÁ, 2006, p.341) "

              De acordo com Jodelet (2005) o pensamento e o sujeito são condicionados a linguagem e a cultura, portanto a representações fazem parte a interação social dos indivíduos que se identificam com essas convenções, tornando- se participativos e externando as ansiedades internas e adequando-se as possibilidades externas sem, no entanto deixar de lado suas ambições na interação com estas representações.

                Em Salles (2005 – p.41) demonstra a preferencia dos surdos nas relações entre si, devido a identificação na busca de sua identidade , geralmente esta busca esta intimamente ligada as dificuldades em relacionamentos diversos entre os ouvintes, mas explicitamente nas áreas familiar, educacional .

                Perlin (1998) definiu a identidade surda como a maneira do individuo surdo identificar-se dentro da sociedade e a partir dessa identificação relacionar-se a sua representatividade social, de acordo com essa definição desde aquele individuo que comunga das características similares aos ouvintes ou não aceitam sua condição de surdos, ate aos estagio de aceitação incondicional de seu papel de surdo, mediante estes ocorre a integralização na busca de seus direitos recorrendo a representações que o tornem conjuntamente a outros indivíduos relacionados em interesses comuns na busca incessante de direitos e em contrapartida absorção de seus deveres.

4 Conclusão

         Quando dizemos que o individuo é uma criatura racionalizante, dizemos que o ser humano interage de acordo as ideias e opiniões de um coletivo, onde há a receptividade em. relação a sua busca de socialização, procurando interações que esteja em sintonia com as suas reflexões, dessa maneira buscando maior relação entre suas tensões internas e externas.

                Os processos de estudo das tecnologias de comunicação e educação voltada para o aluno surdo, entrando num ambiente de uma cultura diferenciada com todas as suas características, mas individualmente cada membro participante tem suas ideias pré-concebidas, baseando sua busca de informações na interatividade com os pensamentos e as ideologias do coletivo. Principalmente quando há necessidade de metodologias para o alcance das informações e da educação e entendimento desse coletivo surdo.

              Busca-se, sobretudo esse entendimento das necessidades e da maneira de como essas representações movem e agem no individuo dentro das suas ambições e a tendência em aceitar as determinações das representações as quais participa em detrimento ao seu pensamento individual, mesmo que ao adentrar a esse coletivo conscientemente delegou suas necessidades a vontade das aspirações e busca de um entendimento comum aos demais participantes.

       O surdo busca através dessas representações suas aspirações e seus direitos, conjuntamente com a aplicação das leis que regem esses direitos, muitas vezes não aceitos e nem colocados em práticas principalmente por falta de aplicabilidade criando então incessantemente essa procura legal.

5 Referencias

 BENTES, José Anchieta de Oliveira and HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Normalidade e Disnormalidade: formas do trabalho docente da educação de surdos. Campina Grande: EDUEPB, 2012 

https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/EL/article/viewFile/3354/3075  acesso 25/09/14.

http://www.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/luizbosco.pdf acesso 25/09/14.

http://editora-arara-azul.com.br/portal/media/k2/attachments/volume12.pdf  acesso 25/09/14.

MAZZOTTI, Alda Judith Alves-, artigo -  Representações Sociais: Aspectos Teóricos e Aplicações à Educação, Artigo publicado inicialmente na revista Em Aberto, Brasília MEC-INEP, ano 14, nº 61, jan./mar.1994, p. 60 a 78.

MOSCOVICI, Serge. A representação social da Psicanalise. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1978.

QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima..[et al.]. Ensino da lingua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, 2005. 2 v : il. (Programa Nacional de Apoio a Educação dos Surdos).

SÊGA, Rafael Augustus, artigo - O conceito de Representação Social nas Obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici, 2000.

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