RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO: A AFETIVIDADE NO ATO DE EDUCAR

 

 

Resumo: 

      A base principal da formação de uma criança é sem dúvida o círculo familiar, tendo como complemento a escola para formar seu caráter e valor, sendo que é nela em que a criança se socializa e aprende a viver e a aprender com o outro. Assim, para que a criança tenha um bom desenvolvimento dentro do ambiente escolar é preciso que ela se sinta acolhida e protegida, pois sendo assim, suas relações interpessoais virão de forma positiva. O presente trabalho de pesquisa aborda o processo de interação entre professor e aluno e o prazer de educar com amor, carinho, e acima de tudo respeito. Sendo estes os fatores principais dentro da educação que acrescentam na vida do educando a formação dos seus valores e personalidade. Muitos educadores ensinam por ensinar sem ao menos se preocupar com a parte emocional do educando, e essas falhas nos levam a analisar tais problemas cotidianos enfrentados dentro de sala de aula e fora dela pelos alunos e professores, enquanto sujeitos inerentes no processo educacional. Esta problemática aqui apontada nos faz refletir com um olhar teórico-bibliográfico junto dos grandes pensadores e pesquisadores da educação. Mas, não basta apenas refletir é preciso mudar a maneira de agir com os educandos para que estes no futuro possam ser pessoas confiantes e amáveis com o seu próximo.   

 

Palavras-chaves: afetividade; aprendizagem; desenvolvimento; relação professor-aluno.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O educando em fase escolar precisa ser ouvido, ser compreendido para que ele se sinta amado e acolhido, sendo assim, terá a vontade de ter um aprendizado e, seu grande mediador neste processo é o professor, pois, ele é quem deve cativar o educando para que este se interesse em receber seus conhecimentos.

Não basta só transferir conhecimentos é preciso que o professor crie vínculos com seus alunos e tenha um diálogo de respeito para que estes não se sintam meramente receptores.

Já dizia o educador Paulo Freire “ensinar não é apenas transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25).

Os laços afetivos entre professor e aluno refletem no cotidiano escolar um ponto positivo, pois, a afetividade é a base fundamental na questão emocional e cognitiva do ser educando.

E o professor é o grande responsável em saber diferenciar o modo de lhe dar com cada educando para que o seu olhar em relação ao mundo tenha sentido.

Freire (1996, p. 89) afirma que:

 

A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação de trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele.

 

 

Nos dias atuais podemos ver que os educadores no lugar do respeito impõem o “medo”, pois, confundem “autoridade com autoritarismo”. O educador que tem autoridade consegue conduzir melhor a sua aula e faz com que seus alunos tenham prazer em vê-lo ministrar. Já o educador autoritário impõe a autoridade através de ameaças e isso torna sua aula se torne cansativa tanto para ele quanto para o aluno.

Segundo Rego (1996, p. 98) “uma relação professor-aluno baseada no controle excessivo, na ameaça e na punição provocará reações inspiradas por princípios democráticos”. Para se entender melhor a afetividade e essa autoridade imposta com autoritarismo é preciso saber o que a psicologia tem a nos dizer.

 

 

JEAN PIAGET E A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

 

Para se entender e compreender o que significa essa afetividade é preciso entender a psicologia do desenvolvimento em especial o desenvolvimento cognitivo estudado por Jean Piaget.

A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. A compreensão deste processo é fundamental para que os professores possam também compreender com quem estão trabalhando.

E assim, já dizia o psicólogo Jean Piaget (1998, p.154) “Educar é adaptar o individuo ao meio social ambiente”. Para Piaget (apud SALTINI, 1999), o desenvolvimento afetivo está ligado intrinsecamente paralelo ao desenvolvimento moral: a criança vai superando a fase do egocentrismo e, se apercebe da importância das interações com as outras pessoas e desenvolve a percepção do eu, tendo a outra como referência.

Pode-se dizer, ainda, que a qualidade da afetividade na relação professor e aluno são importantes para o processo ensino-aprendizagem e para o desenvolvimento do mesmo.

O educando precisa diferenciar sentimento e ação, ler e interpretar as questões sociais usando as etapas para resolver problemas, criando expectativas realistas sobre si e compreender normas de comportamento.

A fase escolar coincide com a fase em que a criança desenvolve várias formas de comunicação que não a oral, e estas incluem gestos e expressão facial, além de trabalhar a interação com os outros, as emoções e suas influências negativas e positivas, e manifestando suas idéias e pensamentos.

Costa e Souza afirmam que:

 

A afetividade no processo educativo é importante para que a criança manipule a realidade e estimule a função simbólica. A afetividade está ligada a auto-estima e às formas de relacionamento entre aluno e aluno e professor-aluno. Um professor que não seja afetivo com seus alunos fabricará uma distância perigosa, criará bloqueios com os alunos e deixará de estar criando um ambiente rico em afetividade. (COSTA; SOUZA, 2006, p. 12).

 

Nesse caso a afetividade passa a ser um estímulo na vida da criança, e isso acaba gerando uma motivação. Existindo a motivação a criança busca realizar tarefas mais complexas, ou seja, difíceis.

No entanto, essa motivação para o ensino aprendizagem depende de como o professor vai conduzir esse educando em sala de aula. E para se obter sucesso o professor precisa estar emocionalmente preparado, pois, a criança lê o seu íntimo através de suas ações.

As emoções têm grande influência na vida do ser humano e para se entender melhor Henry Wallon nos trás pontos importantes.

 

AS QUESTÕES EMOCIONAIS SEGUNDO HENRY WALLON

 

Wallon (1989), um dos principais teóricos do desenvolvimento, atribui, em sua teoria, grande importância à emoção e à afetividade, elaborando conceitos a partir do ato motor, da afetividade e da inteligência. As interações são uma via natural para o desenvolvimento e para a manifestação das emoções. No entanto, Wallon (apud GALVÃO, 2003, p. 61) diferencia emoção e afetividade:

 

As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção de afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias manifestações.

 

 

Segundo La Taille (1992, p. 85) “a afetividade ocupa lugar central, tanto no ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento”. Sendo assim, o educador tem que aprender a lidar com a emoção dessa criança para motivá-la no seu crescimento individual. Pois, o papel da educação é construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter, para que esse educando se torne crítico e trilhe seu próprio caminho.

Lev Vigotsky (2003) relata que para compreender o emocional do ser humano é preciso entender a sua base afetiva, pois, assim como Wallon ele acredita que pensamento e afeto estão interligados.

 

Quem separa o pensamento do afeto nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do plano afetivo. [...] A vida emocional esta conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral. (VYGOTSKY apud ARANTES, 2003, p. 18-19).

 

De acordo com a teoria de Vygotsky, Arantes (2003, p. 23) em sua interpretação diz que: “O longo aprendizado sobre emoções e afetos se inicia nas primeiras horas de vida de uma criança e se prolonga por toda sua existência”.  E assim, o ser humano em sua interação com os outros aprende a partir de seu afeto a ter sentimentos.

 

 

A APRENDIZAGEM A PARTIR DO AFETO E DA MOTIVAÇÃO

 

Na fase escolar uma das características mais importantes no processo ensino aprendizagem é a afetividade entre professor e aluno, pois, esta relação é determinante tanto para o emocional quanto para o desenvolvimento do mesmo. Sendo assim, essa relação passa a transmitir confiança e motivação entre ambas às partes.

Freire (1996, p. 96) afirma que: “o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua fala é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem”.

O que se pode ver nos dias atuais, são professores que em sua prática acentuam apenas as dificuldades de aprendizagem se esquecendo de olhar para o seu aluno, compreender suas dificuldades e motivá-lo a partir do diálogo, do afeto e do amor.

Maturana e Rezepka (2002, p. 15) afirmam que:

 

As dificuldades de aprendizagem e de comportamento relacional que as crianças mostram em sua vida escolar não são de índole intelectual nem relativa às suas características intrínsecas de personalidade, mas surge da negação do amor como espaço de convivência.

 

Chalita (2001, p. 154) também afirma que: “A educação é um processo que se dá através do relacionamento e do afeto para que possa frutificar”.

Para que a educação não seja vista como um processo vazio e inacabado é preciso que, educandos e educadores troquem experiências e estabeleçam vínculos. Sendo assim, para que se estabeleça essa relação amorosa entre professor-aluno cabe a escola e seus professores diante de seus alunos respeitarem a dignidade e autonomia de cada um.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O tema aqui abordado é um dos fatores que está diretamente ligado ao processo ensino aprendizagem, pois, o grande mediador entre a aprendizagem e a criança, é o professor.  Mas para esse processo tenha bons resultados o professor precisa ter prazer em educar, formar pessoas, não basta apenas transmitir conhecimentos sem se preocupar em formar pessoas autoconfiantes em si e criticas para expor seus pensamentos e conhecimentos.

Visto que as crianças desde muito pequenas tem seus laços afetivos rompidos até mesmo no convívio familiar que automaticamente refletem na interação e nas relações com outro, o professor precisa e necessita ser afetivo, amoroso e acima de tudo motivador para com seu aluno.

Toda criança que percebe, vê e se sente acolhida, amada, respeitada e valorizada pelo educador tão logo irá refletir no próximo a autonomia, a confiança e o amor pelo mesmo.

Todos os pensadores e educadores aqui apresentados se preocupam cada um a seu ver que a afetividade e a relação professor-aluno são a base principal para o processo ensino aprendizagem.

O professor que em sua docência impõe autoridade com autoritarismo em sala de aula cria no seu aluno o desprazer em assistir suas aulas. Mas, por outro lado percebe-se que o professor que ministra sua aula olhando nos olhos de seus alunos com segurança e transmitindo através desse olhar amor, afetividade, motivação e prazer em estar ali formando pessoas com certeza fará seus alunos sentirem prazer em vê-lo ministrar.

Segundo o educador Paulo Freire (1996, p. 126) “se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. Lido com gente e não com coisas”.

Sendo assim, cabe a nós Pedagogos mudarmos o nosso olhar para com nossos alunos assumindo com responsabilidade e prazer à educação que almejamos para um aprendizado com mais qualidade e credibilidade.

 

 

Josely Ferreira Da Silva

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

AQUINO, Julio Groppa (org.) Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

SALTINI, Claudio. J. P. Afetividade e inteligência. Rio de Janeiro: DP & A, 1999.

COSTA, Keyla Soares da; SOUZA, Keila Melo de. O aspecto sócio-afetivo no processo ensino-aprendizagem na visão de Piaget, Vygotsky e Wallon. Disponível em:

LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

MATURANA. Humberto R. e ZÖLLER, Gerda Verden. Amar e brincar: fundamentos esquecidos no humano. São Paulo: Palas Athena, 2004.

REZEPKA, Sima Nisis de. Formação humana e capacitação. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.  

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no