Eram cinco e os nomes começavam com z, Zoé, Zita, Zenaide, Zaide e Zoraide. Moravam no Itaim Bibi e nos visitavam com bastante frequência, normalmente aos domingos para saborear a macarronada com franco que minha mãe fazia com capricho.  Eram todas muito elegantes, sendo duas delas modistas bastante prestigiadas. Uma delas era casada e tinha dois filhos,  Renato e  Roberto. O Roberto era dois anos mais velho do que eu e assim, eu acabava herdando suas roupas elegantes, algumas até com grife italiana. A mãe das cinco irmãs era dona Carlota, uma mulher irascível que passava as tardes de domingo jogando praga no marido que ficara em Minas, o Otaviano Botelho, primo de minha mãe, um rico fazendeiro das gerais.  Meu pai gostava de provoca-la dizendo: “Tem tido notícias do Otaviano Botelho dona Carlota? ” Ela respondia prontamente que ele continuava rico como o diabo, mas eu rezo todas as noites para que ele morra na miséria. Todos riam, mas ela falava bem sério. Sabia-se que largou o marido quando descobriu que ele tinha uma amante. Diante da traição, não teve dúvidas; fez as malas, pegou as filhas e foi partiu para nunca mais voltar. Mas antes, num gesto de extrema vingança, colocou fogo na casa. Quando o Otaviano chegou de viagem de uma das suas fazendas, só viu as cinzas. Nem os vizinhos souberam informar o que havia acontecido.

De Minas foi para Araçatuba, no interior de São Paulo, hospedando-se por alguns meses na casa dos meus avós e nunca mais falou com o marido. Vendeu algumas joias que acumulara durante o casamento e com isso sobreviveu durante algum tempo.  Esgotadas as economias, contratou um advogado para cobrar a pensão do marido que concordou em pagar para que as filhas não ficassem à mingua.  Com o tempo, as filhas crescendo, mudou-se para a capital. E assim, num belo domingo de sol, ela apareceu com duas das filhas em nossa casa em São Caetano do Sul. Depois disso as visitas passaram a ser mais frequentes. Ela veio com a Zoé e a Zita e o filho dessa, o Roberto. O outro, o Renato, já era moço e não cheguei a conhecê-lo. Minha mãe o encontrou em uma de suas visitas e soube que entrara para o Exército e pretendia seguir carreira militar.

Moravam no Itaim Bibi, numa casa de classe média em um local muito agradável, onde fui com a minha mãe visitá-las umas duas vezes. Lembro-me de ter almoçado por lá. A comida era pouca, mas sofisticada e os pratos e talheres eram finos.  Por isso meu pai dizia: “chegaram as primas grã-finas”. Minha mãe tirava do baú as melhores louças e talheres para fazer as honras. Elas se vestiam com elegância e quando chegavam à nossa casa de ônibus ou de taxi, toda a vizinhança parava para ver e dar passagem.

Eu levava o Roberto para a rua, onde ele sujava suas roupas elegantes jogando pelada e levava bronca da mãe e da avó. Ele gostava de mostrar seus conhecimentos de geografia e inglês, falando os nomes de todos os planetas do sistema solar, coisa que eu ainda não tinha visto no curso primário. Uma vez brigamos e ele rasgou sua camisa e precisou usar uma das minhas, bem mais modestas, para voltar. A mãe ficou furiosa e prometeu nunca mais trazê-lo.

Com o tempo as visitas foram ficando mais esparsas e nunca mais tivemos notícias das primas elegantes do Itaim. Minha mãe cansou-se das visitas dominicais e parece que deu graças por terem chegado ao fim. Mas às vezes manifestava vontade de saber como estavam, mas desistiu.  Minha irmã mais velha lamentava, pois adorava a elegância sofisticada das primas do Itaim.