Ao se falar de pombogiras, ou pomba giras, ainda enfrentamos o falso estereótipo da promiscuidade e trabalhos de amor e fortuna “fora da Lei”. Dizemos fora da Lei, porque tudo que é feito ferindo o livre arbítrio do outro e interferindo no carma não condiz com os dogmas religiosos da Umbanda. “Amarrar” uma pessoa que não te quer ou encontrar a solução milagrosa para problemas financeiros que nossos erros nos trouxeram é isto. Nossa religião é de amor e caridade. Por isso, nossos trabalhos espirituais em auxílio aos irmãos não devem, em nenhuma hipótese, ser cobrados materialmente ou ferir as leis de causa e consequência. Toda entidade em terreiro de Umbanda age dentro da Lei e, se não age, nem a casa, nem as entidades e nem os médiuns podem ser chamados umbandistas. É também por isso que a Dona Maria Padilha que gentilmente me intui na escrita deste texto, é irredutível em exigir que esta informação esteja logo aqui, no primeiro parágrafo.

O nome pombogira, pomba gira, ou pombojira, deriva de Pambu Njila, equivalente feminino ao orixá Exu da nação Bantu. Foi a correspondência gentil que a cultura popular deu a estas entidades.

Imaginem, antes das importantes marcas de igualdade de gênero - como o voto, a carteira de trabalho e a pílula do dia seguinte - , como uma mulher livre era vista socialmente. Sua função, na verdade, era não ser vista, muito menos livre. Transitava entre o bibelô que servia os olhares masculinos, preferencialmente os do marido, e a escrava do lar e dos filhos. Mas nos terreiros, as risadas, as roupas provocativas e os conselhos impossíveis para a época já eram dados. Especialmente na década de 60 elas surgiram com maior recorrência, acompanhando os movimentos feministas que eclodiam no mundo. Eram as Senhoras Pombogiras vindo cumprir aquilo que a Umbanda se propôs: dar voz e luz aos oprimidos. Neste caso, as mulheres traídas, as que apanhavam, as exploradas e as excluídas.

À frente, a falange de Dona Maria Padilha! Alguns acreditam que elas podem ter sido as primeiras a se manifestarem em terra. Falanges, assim como o nome sugere, são grandes agrupamentos, cada qual com a sua especialidade, que respondem a uma entidade, a chefe desta falange. No caso, a chefe é Dona Maria Padilha, que por sua nobre fama também enfrenta o dissabor da associação de seu nome com charlatões e espíritos zombeteiros. Mas esta senhora e suas trabalhadoras incansáveis, cada qual em sua especialidade mágica, não possuem a nobre fama à toa! Ajudam, dentro do merecimento de seus médiuns e consulentes, até onde suas mãos alcançam, trazendo a real prosperidade, vitalidade e amor.

Das diferentes histórias que são contadas, as Donas Padilhas esperam apenas que seus nomes sejam associados com a força de vencer e enxergando as situações sem os véus do ódio e do medo. Se pedem a melhor champanhe ou um adorno em ouro, trabalham a vaidade e fidelidade (tanto a positiva, quanto a negativa). Se foram rainhas, amantes, prostitutas ou simples donas de casa não importa mais. Hoje, elas querem mais ação e menos mitificação. Como elas diriam, em gargalhada sarcástica e feminina, já estão mortas. E é por isso que trabalham pela nossa evolução, dando seus exemplos como inspirações e nos fortalecendo para o cumprimento de nossos propósitos de vida.

Com este exato objetivo, um baralho de 36 lâminas foi intuído, contendo os mistérios da falange de Maria Padilha que, em sua trajetória, traz as vitórias pessoais de quem o consulta. Dizem as Padilhas que é um oráculo para poucos. Tanto dos que jogam quanto dos que se consultam, seriedade e discernimento são exigidos, pois essas Senhoras vão ao mais íntimo de nosso ser buscar as respostas. Seu trabalho, traduzido igualmente neste baralho, é de amor. E o amor fala com sinceridade: afana o justo e repreende o culpado. Tudo em busca da transformação interna.

Chame pelas Donas Marias Madilhas de lei e elas sempre os ouvirão!

Saravá, Dona Maria Padilha!