AS PALAVRAS DAS IMAGENS 9

(mais redondilhas e outros versos)

 

TÃO PERTO…

Tão perto das caravelas,
Que rompem os horizontes,
Encontrei murchas murzelas
Pousadas. Ruína, ou fontes
De memórias e de arrojo?

No mar agreste, ninguém,
Tendo os piratas defronte,
Evitará o despojo
Sem assaltar a coragem!

 

LER

Leio um livro sem parar,
E quando o seu fim alcanço,
Sigo. Mas se dá prazer
É trabalhar ou descanso?

Se fosse só descansar,
E dando tanta alegria,
Não me custa conceber
Quanta multidão leria!

Não é o caso, porém!
Ler assim é coisa escassa,
Nem toda a gente retém!

Digo então, e sem falácia:
Feliz descanso, mas bem,
Só com trabalho se passa.

 

O ESPANTO DO POETA

O espanto do poeta, farto de ser ignorado, tendo, embora, o dedo em seta:

- Terá ele derrubado
Pela força do meu verso
Ou, antes, será alguém,
Que passando aqui, travesso,
Do meu riso fez desdém?

ANTÓNIO RIBEIRO CHIADO:
“Estátua em que se vê o poeta sentado num pequeno banco, envergando um hábito de monge, sorrindo com escárnio, numa posição arqueada, de convite.”

CAMÕES

“Por aqui passou Camões
E o vário que nele havia
O que fora ainda o sendo
Pronto a ser o que seria”
AGOSTINHO DA SILVA, Quadras inéditas, Ulmeiro (1997)

São versos imperecíveis:
Canções, sonetos e rimas…
Têm um cunho divino!
Oh, Camões, porque m’os firmas?


Ainda, lembrando o templo de Philae, em Assuão, no dia 8 de setembro de 2008, e os reflexos fantásticos do lago:

ENCANTO REDOBRE

As águas que estão ao pé
De monumento tão nobre
Incitam com seu espelho
Que o meu encanto redobre.

 — em Assuan

COMO A BELA NATUREZA…

Como a bela natureza
Veste de ouro a colina!
E o homem qual a razão
Porque tolera a ruina?”

— em Souto da Casa

AH! SE NÃO FOSSE A ALEGRIA…

Ah! se não fosse a alegria
Que inunda o coração,
À vida, sopro tão breve,
Que mais traria razão?

— em Fundão.

Chaminé da antiga fábrica da resina, na estrada Fundão - Souto da Casa:

MIRAGEM DO EQUILIBRIO

Miragem do equilíbrio
Que o passado porventura
Traçou: um gosto simples,
E trabalho. Porque não dura?

……………………………   .

 Mira o perfil da montanha:
Provaste a eternidade!
……………………………...

CHIADO - PORTUGAL…

Foi num dia trivial:

Descendo eu pela rua
A uma hora normal
(Manhã? Tarde? Sob a lua?)
Encontrei um saltimbanco
Cansado, mas funcional.

Sentei-me, presto, num banco,
Para ver em perspetiva:
O muro estava de branco
E o saltimbanco à deriva.

E muita gente assistia
Ao feitiço da ilusão
Que o saltimbanco fazia.

Ó que sério folião!

O MINHA TERRA DE MAIO

Ó minha terra de maio,
De flores, minha raiz.
Volto ao teu encantamento
Aspirando a ser feliz.

Tinha a cidade nos olhos;
O carro me conduziu.
E um rouxinol com o susto
Bateu asas e fugiu.”

HORIZONTES…

Horizontes do Fundão:
O campo ao longe maduro;
Molhos de trigo que são
Uma mira de futuro.

Não será andar atrás
Vir com este alvitramento:
Melhor que míngua veraz
É garantir o sustento.

Foi pão de vida. E dura?
A terra se satisfaz
Com semente e com cultura.

Lindos campos! Quem me trás
Uma visão de fartura?
Quem não desiste de audaz?”

AS MAIS BONITAS IGREJAS

Quem me encantou, viandante,
As pedras altas, vetustas,
Que narram tempos de provas,
Tantas, e tão robustas?

Ou o vermelho das flores
Crescidas no seu terreiro
Com tais aromas cativos
Que preso fica o romeiro?

Romeiro, eu, romeirinho,
Vim às flores e às cerejas.
Encontrei-me no caminho
Das mais formosas igrejas!

-.em Aldeia de Joanes

ONDE POUSAR OS MEUS OLHOS…

Onde sossegam meus olhos
Neste vale de encantamentos?
Oh Estrela, se miro o céu
Insistem em estar sedentos!

em Souto da Casa, Castelo Branco.

CEREJAS…

Onde o mar veio repousar,
Tão longe… Trouxe o marulho
Das ondas, e as cerejeiras,
Oh, se o glosam, com orgulho!

Quando o vento vem da serra
E ondula a rama madura,
As gotas rubras não soam
Infortúnios, mas ventura!

Além, o mar destemido
Repassa-o um canto rude,
Com o vermelho, dorido.

Aqui, oh que virtude!
Pingo rubro ‘saborido’
Cresce na boca, a miúde.”

— em Souto da Casa, Castelo Branco.

 

OS TELHADOS DE CASEGAS

Nestes abrigos, que douram
Quando o sol reclina, limpo,
Está a Capela das Almas:
Há qualquer coisa do Olimpo!

- em Casegas

SUBITAMENTE AO CHEGAR AO LARGO…

Subitamente, ao chegar ao largo
Onde o céu cobrira de lilás,
Cresceu uma voz, um coro amargo.
Eram mendigos - tu não me dás?

-Largo do Carmo, Lisboa

Aumentar o tempo de trabalho p'ra menos!

Estão tão revoltos os ares,
Tão contrários ao viver,
Que até um bem cativado -
Com muita luta, penares,
De o trabalho poder ser
Um arrimo e um prazer
P’lo tempo considerado
Em medida a condizer –
Aí está a ser… estorvado.

CEREJAS…

Pingo de ouro ou de sangue?
Tão rubro o fruto e tão verde
Onde se cria – esperança -
Que é tudo e não se perde!

.

A igreja do Souto da Casa, à tardinha:

TEM ARES DE CATEDRAL…

Tem ares de catedral
Para o olhar repousar!
Tem grandeza, como igual,
P’rá minha alma elevar!”

CEGONHAS EM CASTELO BRANCO:

É muito reconhecido o amor que as cegonhas têm pelos filhos e estes pelos pais! Conta-se, por exemplo, que no incêndio de Delft, uma cegonha aninhada num telhado, a arder, preferiu morrer no ninho, a abandonar os filhos que ainda não podiam voar.

Cegonha, irás partir…
O camartelo já soa!
Em Delft, o filho abraçou-te,
E o fogo talhou coroa!

.

Nesta noite de luar:

"Os bosques são belos, sombrios e profundos,
Mas eu tenho juras a cumprir
E milhas que andar antes de dormir
E milhas que andar antes de dormir."
ROBERT FROST

 

Sobre a situação política:

O drama que isto tem

E ser aquilo que se augura

É ser certo que a í vem

Quem já provou qual a cura.

Colheita das palavras das minhas imagens do facebook, no dia 13 de junho de 2013, dia de Santo António, no Souto da Casa.