AS PALAVRAS DAS IMAGENS 11

VOU ANDAR…

Vou andar, não me prendam, quero ir
Num barquinho que me leve... não sei onde.
Rio ou mar. Se for o rio, a nascente…
A subir, que feliz! ganhando, eu ronde.

Se for o mar, que é largo e tão profundo,
Leva o rio, a nascente... e eu levo o mundo!


PARAR…

Parar ou findar o meu caminho?
Se findou, já não estou, bem o sabeis.
Cheguei, porém, tão carregado! Não vim sozinho...
E o cortejo seguiu... vinham vergéis…

FECHOU A CONTA

Três badaladas soaram
Na alta noite. Desoras?
O relógio fechou a conta:
Gastou-as todas - as horas.

VENEZA…

PRAÇA DE S. MARCOS

Foi chuva tão amorável!

Juntou o céu e o rio.

Na praça, o santo notável

Vingou em belo navio.
 
SENHORA DE LA SALUTE
Senhora de la Salute,
Gosto do branco que vestes.
E quando as ondas levantam,
Que belos mantos celestes!
 
GÔNDOLAS
Quando a gôndola se vai
Balouçando como um berço
Ouço um ranger, ouço um ai:
Sai meu passado submerso.
 
A PONTE DE RIALTO
Ah! A ponte de Rialto!
Sobe e desce. Sempre assim.
Une as margens. Nesse salto
Torna a beleza sem fim.
 
OS GATOS DE VENEZA
Gatos mansos, num quintal,
Subindo aos muros, a ver.
A dormir, no hospital,
Vi outros gatos, sem querer.
 
LEÃO DE VENEZA
Leão, tu gozas um trono.
Tens uma riqueza assombrosa.
As asas pegam-te ao céu.
Veneza misteriosa!
 
O MAR DE VENEZA
Aqui, mesmo a tempestade
Tem o seu quê de magnânimo.
Tão vigorosas as ondas…
Tão incitadas. Que ânimo!
 
OS TETRARCAS
Estavam ali tão juntinhos.
Passavam sombras e rostos.
E eles: donos ou gatos?
Oh! Que pedra! E tão expostos!
 
PONTE DOS SUSPIROS
A despedida acabou.
Já levo um peso de monta.
E sei que além desta ponte,
O suspirar já não conta.
 

"O SINO DA MINHA ALDEIA

O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

E cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado
Sinto a saudade mais perto."

FERNANDO PESSOA, Cancioneiro


NO DIA DO TERRAMOTO

A janela abriu, tremia a terra
E o céu caíra. Um enorme estrondo!
Faziam preces, iam p’rá igreja.
Veio de dentro um pavor redondo.


BANARAS, CIDADE LUZ

Um homem, uma obra, um tear...
Um saber, um fazer, uma emoção...
Um gosto, uma arte, um olhar...
Banaras, que grata recordação!

 

Vê-se o cais e vê-se o mar…
A luz dos olhos procura
Uma paisagem que caiba...
... com travessia... segura…

PELA TARDINHA…

Pela tardinha, ‘inda os campos fruem
A faina calejada, oh incerta glória!
Ouvem-se do sino três pancadas longas:
Tecem de bronze o fio à memória.

Pára a enxada, ‘inda a erva brota
E o feijão tenrinho pede mais alor.
São ave-marias? Ou alguém que parte?
Estava tão sozinho. Deixará a dor?

Oh! badaladas, soai livremente
Porque à mesma hora, rezo. E se desejo
Louvar a terra, bem dizer poente,
Peço à luz desfeita: guardai-me um lampejo.

E ao dissipar-se no escuro que cresce,
Com aquele som que é bronze e memória,
Quero ainda ver, com pena e amor,
O meu irmão sozinho. Ajudo-o. Vitória!

Livros, livros … e livros
Livre, está livre... bem livre.
Livra! A livraria livrou
Num tempo que Deus me livre!

"(...)
Vimos a fome
ser pão para muitos.
Como fizeram calar
tantos homens
cheios de razão."

RAIMON, Digamos não. Antologia da novíssima poesia catalã, Futura

AVENIDA DA LIBERDADE

Liberdade é descer a avenida
Liberdade é subir a avenida

E é cortar o que valida -
Coisa ou quem – o dano à vida.

 “A morte é universal, imprecisa, apaga as suas marcas.”
WITOLD S. GOMBROWICZ. “Morte ao Dante”. & etc.

Quando o Dante, na voz do Gombrowicz,
Cá voltou, na “Morte ao Dante”,
Foi buscá-lo, à conta do verniz
Que deixou. E tão distante!

 POR CIMA, AZUL...

Queria colher uma flor
Tirada à terra vazia
Sem brilho que no passado
Tantas esperas enchia.

Não foi a morte que é bela
E dá o palco à donzela.
Passado, oh morte, p’ra ela.

Foi um veneno tão ácido,
Causou um tal desvalido
Que não dá flor nem há gemido.

Mas espera! Em cima, azul,
E não sendo a terra má,
Tua semente dará.

 

MUSEU

Se o museu
Fosse meu,
Com este aviso
Conciso:
“Santo, troféu,
Mausoléu”,
Dava-o como um recanto
Da terra no paraíso.


(Colheita das palavras das imagens do meu facebook, no dia 29 de julho de 2013)