AS ORIGENS TRÁGICAS DA ERUDIÇÃO – Pequeno tratado sobre a nota de rodapé

                                                                                                ANTHONY GRAFTON

            Texto elaborado pelo Professor Me. CIRO JOSÉ  TOALDO

 

Um bom historiador precisa estar em constante contato com as fontes. Leopold Von Ranke dizia “o dia passa depressa quando se estuda” (GRAFTON, 1998, p.43). O conhecimento real da História se dá com o estudo compenetrado, na busca das fontes. Este episódio  demonstra quem foi e os  motivos que levaram Ranke a se tornar o verdadeiro paradigma da História científica. Seu desejo de estudar e buscar os tesouros nas fontes, eram as recomendações dadas aos seus alunos. Isto vai até o final de sua vida. Mesmo aposentado, já aos 82 anos de idade, dedicava-se horas inteiras aos estudos de documentos.

Ranke com os estudos e análises dos documentos históricos, com  seus escritos, conferências e seminários converte centenas de jornais à crença de que a história, estudada de maneira certa, permitia aos estudiosos da História e a  Alemanha por ordem no caos do mundo moderno.

Na busca de interpretações dos fatos se deve recorrer à analise crítica dos documentos originais, sejam eles obtidos através de arquivos, cartas, biografias ou crônicas. E foi agindo com seriedade e buscando interpretar as fontes historiográficas que Ranke iniciou um método inovador na historiografia.

Ranke se torna um símbolo aos historiadores do século XX, pois, este século de grandes desafios, de constantes revisões de conceitos e conhecimentos, na perspectiva de aprender mais, mas  não se perdendo de vista as fontes originais.

Anthony Grafton, em seu livro “As origens trágicas da erudição”, abre possibilidades para  o entendimento da cientificidade da História. Resgata o processo histórico das notas de rodapé, que são importantes para os historiadores, pois, fornecem suportes empíricos e argumentos necessários as histórias narradas. Onde as fontes originais devem ser mostrada para se comprovar o que vai ser estudado.

            Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Grandes Cientistas Socais -  o atual e o inatural em Leopold Von Ranke”, chama Ranke de “Grande Mestre” e o mesmo é citado por Wilhelm Dilthey , em que também chama Ranke de “ Grande Épico, outro Heródoto entre os historiadores; ... em que suas salas de aulas se viram convertidas em autênticos laboratórios, que lhes deram desde cedo renome universal. Foi ele quem criou para os estudos históricos o sistema dos seminários” ( HOLANDA, 1979, p. 16).

Para Ranke,  um historiador deve se fundamentar em outros historiadores, se utilizando do método de comparação sistemática e,  isto  deve aparecer nas notas de rodapé. “As notas de rodapé compactadas de Sismondi referiam-se a todos os cronistas mais importantes do século XVI, mas ele se apoiou especialmente em Guicciardini” (GRAFTON, 1998, P.47).  Sismonde de Sismondi, no século XIX,  escreve sobre as Repúblicas Italianas,  utilizando  dos escritos do amigo de Maquiavel, Francesco Guicciardini do século XVI.

            Grafton, nas “ Origens trágicas da erudição”, busca valorizar o Iluminismo francês do século XVIII, tenta derrubar o paradigma de Ranke, mas usa o próprio Ranke para destruí-lo. Não consegue. Nisto consiste o que é trágico no neste livro. Mas mesmo derrotado, não desmerece o brilhante trabalho do historiador do século passado: Leopold Von Ranke.

            De fato, Ranke é um grande paradigma dentro da historiografia. As notas de rodapé, com os esclarecimentos, comprovações da afirmação ou justificar informações que não foram incluídas em um texto, começam a ter “sentido” a partir de Ranke.

            Penso que como futuros historiadores temos muito o que aprender com Leopold Von Ranke.  A começar pela vontade de estudar, de estar sempre em contato com as fontes originais. Ser fiel as estas fontes. Saber interpretá-las de maneira correta. Saber criticá-las. Não ter medo de introduzi-las em nossos escritos. Eis alguns desafios para os historiadores e porque não dizer para a historiografia brasileira.