AS MULHERES E OS ÍDOLOS

 

Quando adolescente havia um rival implacável quando se tratava de garotas inteligentes, conscientes politicamente e liberais. O rival era o Che Guevara, com a sua barbichinha rala e seu olhar de revolucionário romântico e boa pinta, era um concorrente sério, mesmo depois de morto. Uma garota que conheci numa igreja onde participava de encontros de jovens, descartou-me sob o pretexto de que não conseguia tirar o Che da cabeça e beijar outro homem era como se estivesse sendo infiel ao seu ídolo.

Já que não podia concorrer com o ídolo das garotas, arranjei um jeito de tirar partido da situação. Aproveitando alguma habilidade para desenhar, fiz vários retratos do Che para as meninas, que guardavam os desenhos com especial carinho. Para dar um toque final em minha técnica de sedução, escrevi um poema sobre o revolucionário que fez um razoável sucesso. Com isso, ainda consegui levar alguma vantagem, mas sendo obrigado a ouvir, entre beijos e abraços, coisas como: “O Che é lindo, ele é não é o máximo?”.

Entre outros ídolos,  apareceu o Chico Buarque que logo se tornou um dos homens mais amados do país. Algumas mulheres da minha geração seriam capazes de largar tudo por uma noite ao lado dele.  Uma amiga chegou a furar todo o esquema de segurança após um show para passar alguns momentos com ele. Ela foi tirada a força do camarim, mas não sem antes gritar o prosaico: “Eu te amo”.

Outra amiga disse em claro e bom tom, que trairia o marido sem nenhum remorso e ainda por cima, ele deveria se sentir orgulhoso de ter levado um chifre do endeusado artista. Ela afirmou, ainda por cima, que já havia feito o comentário ao lado do maridão. É bem provável, caso tenha dito mesmo, que ele não deve ter levado a sério, pois a chance seria como acertar na mega-sena. Além do mais,  o artista já não é mais um garotão, mas um senhor idoso.

Em todo caso, é bom lembrar que os jornais publicaram há alguns anos, uma reportagem com fotos do artista aos abraços e beijos com uma jovem mulher numa praia do Rio de Janeiro. Soube-se depois que a tal mulher era devidamente casada e o marido não gostou nada da brincadeira e tudo indica que o casamento foi para o brejo.

Tempos atrás jantando no Gigeto com minha mulher e um casal de amigos, lá pelas duas horas da manhã, surgiram do nada, o Chico, a Marieta Severo e a Elba Ramalho. Foi um, alvoroço e as fanzines quase não deram folga para o moço jantar.  Logo depois fui ao WC e como era previsível, o Chico apareceu para esvaziar a bexiga. Fiz de conta que nem sabia quem era, pois acho que os artistas têm direito à privacidade.

Mas ao retornar à mesa, a amiga perguntou curiosa: “E aí, conferiu?” e deu uma sonora gargalhada. Só fui entender a insinuação maliciosa bem depois. Coisas de mulheres...