A escrita de Antonio Torres, mediante quatro enfoques literários vai contar várias histórias numa só. Ou uma história dividida em várias. Ou várias histórias que se cruzam. Pode-se escolher qualquer dessas alternativas porque cada uma delas exprime de alguma maneira, o trabalho do escritor que procura evidenciar uma equivalência entre o passado e a atualidade através da mediação histórica.

 Para tanto, o objetivo pretendido neste estudo é extrair dos diferentes gêneros textuais que compõem essas histórias, os elementos representativos, as imagens, os símbolos, a linguagens, enfim estabelecer o isolamento de aspectos que figurem de alguma forma como maneiras de representar traços próprios ou recorrentes diluídos no cenário da sociedade brasileira.

Nota-se, portanto, que a obra de Antonio Torres avança neste panorama visando esboçar os jeitos do Brasil, explícita ou implicitamente, evocando coerências através do discurso e da representação de acontecimentos. Dessa forma, o autor orna a linguagem inserindo clichês, gírias, palavras e expressões próprias que especificam um espaço, o Rio de Janeiro, ou o Brasil

Encontram-se diluídos nos textos, fatos ocorridos no Brasil colonial e outros vivenciados na atualidade. Logo, é através da intertextualidade, a qual Zilá Bernd define como elemento típico da literatura pós-moderna, que esses fatos se sustentam e demarcam as especificidades de um país.

Roberto da Mata em Carnavais, Malandros e Heróis, afirma que a questão principal abordada em seu livro é o que faz do brasil. Brasil. ... Em outros termos procuro discutir os caminhos que tornam a sociedade brasileira diferente e única, muito embora estejam, como outros sistemas igualmente submetida a certos fatores sociais, políticos e econômicos comuns. (DAMATA, 1978. p. 17).

Assim também, Antonio Torres introjeta no tecido narrativo de O Nobre Seqüestrador, variadas e miraculosas contribuições utilizando abordagens interdiscursivas para mesclar questões próprias da sociedade do Rio de Janeiro.

Incorporando a atemporalidade de uma estatua, Torres constrói a primeira parte do livro fazendo uso de um narrador personagem onisciente e onipresente, o herói, ou melhor, o anti-herói, já que auto apresenta-se como um malfalado personagem da história,. René Duguay-Trouin o qual, oferece ao leitor  sua autobiografia póstuma, protegido pelas barreiras existencial e temporal as quais lhe permitem paradoxalmente, a liberdade de expressar sobre seus atos. Também se encontra resguardado pelo mármore delineador da figura de um homem que para resgatar suas memórias precisa falar de um seqüestro, e para falar de glória precisa falar do Brasil, do exótico, engraçado, sacana, país que o transformou em herói para seu país.

Tal personagem foi o corsário René Duguay-Trouin, que em 1711, seqüestra a cidade do Rio de Janeiro por 50 dias. É dele a voz que vai fomentar uma problematização da sociedade brasileira minada por distintos e variados fatores: