De entre os vários domínios em que uma empresa pode ser auditada, para efeitos da respetiva certificação, pela entidade competente, nas diversas áreas da qualidade, destaca-se, cada vez mais, aqueles aspetos relacionados com a responsabilidade social, onde entram critérios e avaliações do trabalho infantil, cumprimento de horários, discriminação, isto apenas para mencionar alguns.

A norma internacional SA 8.000 é bem explícita, embora, possivelmente, ainda pouco utilizada por muitas empresas, seja por desconhecimento, seja para evitar eventuais despesas, embora estas sejam rapidamente recuperáveis, a partir da obtenção de uma certificação de qualidade neste domínio.

É sabido que a constituição de uma empresa requer diversos conhecimentos, recursos variados e uma grande determinação para empreender numa área de negócio, previamente especificada.

Frequentemente, a crise mundial dificulta muito a criação de novas empresas e facilita o encerramento diário de centenas, em todo o mundo. Ser empreendedora/r, em Portugal, em circunstâncias incertas, é um grande risco, se se tiver em conta o que: «Qualquer empresa quando arranca, precisa de tempo para se apresentar, conquistar clientes, desenvolver projectos (…)» (AMARO, 2001:184). Ora, acontece que, no mínimo, no que aos clientes se refere, a situação que resulta do fraco poder de compra, pode, precisamente, destruir, e/ou não deixar crescer a empresa, ou ainda, quando ela depende de apoios estatais.

Ser empresária/o em nome individual pressupõe uma postura otimista, relacionamento direto e cordial com potenciais clientes, fornecedores e autoridades competentes, conhecimento do mercado onde vai desenvolver a sua atividade e, naturalmente, os indispensáveis recursos humanos, financeiros e técnicos, a que devem aliar-se um vasto conjunto de qualidades pessoais.

O empresariado pode equiparar-se, portanto, a uma ciência e a uma arte. Nessa perspectiva: «Somente traços de personalidade e boas ideias são insuficientes para o sucesso, porquanto há que sedimentar-se todos os ingredientes, num todo coeso, encadeado e harmónico, em que a liderança tem papel preponderante.» (BERNARDI, 2003:306).

Várias são as questões a ter em conta na constituição de uma empresa, na medida em que: para além do produto/serviço, inerente ao seu ramo de negócio, existem, pelo meio, as pessoas, quaisquer que sejam as funções desempenhadas por elas, dentro e/ou fora da empresa.

O exercício de funções executivas, ou coexecutivas, por exemplo, não deixa de ser uma profissão, obviamente com determinadas características, exigências e rigor, uma delas será interiorizar o conceito segundo o qual: «A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; só há um luxo verdadeiro, o das relações humanas.» (SAINT-EXUPERY na obra “Terra dos Homens”, in: BERNARDI, 2003:128).

Por outro lado, importa aferir-se, com verdade e rigor: quando a empresa é constituída por mais de uma pessoa; qual o nível de conhecimentos específicos de cada sócio do objeto da empresa; qual o grau de relacionamento existente entre os sócios, afigurando-se que o sucesso também poderá ser influenciado pelos: princípios, valores e sentimentos, com que cada um participa, pensando-se que a reciprocidade daqueles deve estar sempre presente.

Convirá, portanto, que entre os sócios-empreendedores, ainda antes da constituição da empresa, conversem, intensa, aberta e profundamente, sobre todos os aspetos que, no futuro, se colocarão, que envolvem as diversas dimensões da pessoa humana: sentimental, emocional, social, educacional, responsabilidade, personalidade, entre muitas outras possíveis, precisamente para se evitarem atritos e conflitos, porque: «Se houver sócios ou familiares na empresa, cada um tem valores e padrões próprios do que seja o trabalho produtivo, sobre as prioridades, do que seja importante, etc., o que, se não for  muito bem definido e estruturado nas relações desde o início, cria situações emocionais e fatalmente conflitos.» (BERNARDI, 2003:68).

A dimensão social das empresas passa pelos recursos disponíveis: financeiros, humanos, técnicos, mas também pela sensibilidade dos respetivos empresários, para estas questões. As várias sensibilidades para as diferentes dimensões sociais acontecem, ou não, com as pessoas portadoras de princípios, valores e sentimentos, quando a empresa é constituída por mais do que um empreendedor, qualquer um dos sócios deverá abrir-se ao outro, sem reservas, expondo-lhe todo o seu pensamento, em todos os aspetos que possam fazer funcionar melhor a empresa, designadamente, na sua responsabilidade pessoal perante a sociedade.

Assim, no campo económico-financeiro, e nos recursos desta natureza, que se podem obter através das entidades bancárias, por exemplo: deve-se esclarecer logo a disponibilidade de cada uma das partes; depois, no que concerne à admissão de pessoal, igualmente o acordo deverá ficar bem esclarecido, quem vai ser admitido, para que lugar, em que condições, com que deveres e direitos, sendo familiares, ou não; enfim, analisando bem as vantagens e desvantagens para todas as partes envolvidas; também no que respeita aos equipamentos e respetiva tecnologia, que investimentos se deverão fazer, para que a empresa possa arrancar com qualidade e quantidade da sua produção.

Nesta linha de orientações, pode-se considerar, com relativa segurança, que o relacionamento pessoal, entre os sócios, dir-se-á que será uma espécie de “Pedra Filosofal”, na perspectiva daquilo que o futuro da empresa pode oferecer. Nunca será demais recordar que, seja qual for o género dos sócios: masculinos, femininos ou mistos; estado civil: solteiros, casados, viúvos ou divorciados, a abertura, entre todos eles, terá de ser total, sincera e transparente, de tal forma que se possa estabelecer, um laço de amizade e de cumplicidade.

Ninguém pode ficar à “defesa”, só porque tem uma situação civil, por exemplo, casado, separado, viúvo ou solteiro, que, alegadamente, e por via dessa situação, dificulte o bom relacionamento entre os demais. Significa isto que os sócios se devem manifestar ao nível dos seus sentimentos, de uns para com os outros, revelando, ou não, estima, consideração, amizade, ou mesmo “amor de amigo”, este só possível entre pessoas que sentem sincera e genuína afeição.

Ao partir-se desta posição, já não haverá, no futuro, quaisquer motivos para acusações, abandono da empresa sob a alegação de que não conhecia determinada faceta, posição, sentimento ou valores do outro sócio e, além disso, os comportamentos ficam clarificados e relativamente balizados, embora nunca se possa excluir a subjetividade de valores, afetos e atitudes.

Numa empresa constituída por dois ou mais sócios, nenhum deles pode esconder as sensibilidades e as emoções que um sente ou provoca no outro, sob pena, isso sim, de estar a trair a confiança do parceiro empresarial, todavia, em circunstância alguma, o profissionalismo, os objetivos, os valores e a missão nunca podem ser postos em causa por nenhum sentimento que interfira naqueles.

O bom senso será sempre o fiel da balança, sem prejuízo das interferências alheias à vontade racional de cada elemento, porém, se ainda assim, este indicador, o bom senso, falhar, o que entre pessoas pode acontecer, sem que para tal existam pressões, nem intenções premeditadas, e se criem situações inicialmente não previstas, então terá de se encontrar uma solução, que poderá passar pelo auto-afastamento do sócio que não conseguiu controlar os seus sentimentos, emoções e atitudes. As pessoas não são infalíveis, estão sujeitas a sensações e a perturbações, que a razão não controla.

Uma empresa que funciona na base da amizade, e/ou do “amor de amigo”, entre os seus sócios é, muito provavelmente, uma empresa de sucesso, porque entre aqueles sócios não vão existir opacidades, nem preconceitos. A motivação dos sócios e dos respetivos colaboradores é, seguramente, muito maior. O grau de confiança será máximo, e a imagem transmitida para o exterior será de autêntica credibilidade.

É fundamental, evitar, racionalmente, sempre que necessário, que a amizade e outros sentimentos, interfiram, negativamente, na missão e objetivos da empresa, e no profissionalismo dos colaboradores, recusando-se, inclusive, todo o tipo de discriminação negativa e favoritismos, a fim de não se criarem divisões.

Admitindo-se, agora, que já foram ultrapassadas certas preocupações como: instalações adequadas; projetos aprovados; existência de verbas para o arranque dos trabalhos; superados todos os trâmites burocráticos no que respeita à constituição formal da empresa, seguem-se outras realidades.

A constituição de uma empresa, vai pressupor que os seus responsáveis, pelo menos de início, terão de passar muitas privações, tais como: fins-de-semana no seu interior, a rever a semana que findou e a organizar o trabalho da semana que se seguirá; as relações com as entidades ligadas ao negócio; a elaboração e apresentação de projetos/candidaturas financeiramente elegíveis; a angariação de clientes; a escolha dos melhores fornecedores; a situação dos recursos financeiros, técnicos, tecnológicos e humanos; a formação permanente dos colaboradores; a não obtenção de lucros imediatos, a concorrência de outras empresas homólogas, etc.

Portanto, é extremamente necessário estar-se preparado para tais situações, que poderão não ser ultrapassáveis se não houver absoluta confiança e amizade entre os sócios, se algum deles esconder sentimentos, valores, factos passados que, mais tarde, venham a prejudicar o relacionamento entre eles e, consequentemente, o desmoronar-se da empresa, e, possivelmente, inevitáveis sentimentos de culpabilização e, ainda, no limite, ressentimentos e ódio.

Acresce, também, que, do que se tem afirmado, as pessoas/consumidores esperam das empresas bons serviços/produtos, logo, a qualidade terá de ser ótima, dir-se-ia, excelente, e para isso a preparação dos colaboradores, e dos sócios, tem de ser máxima. Também por aqui se prova a necessidade da permanente coesão dos sócios, com os seus sentimentos, valores, amizades e otimismo, sem reservas, nem preconceitos, porque: «Grande parcela das pessoas vive parte da sua existência dentro das organizações. Se as organizações possuem um ambiente mais ou menos saudável, afectam mais positiva ou negativamente a qualidade de vida das pessoas.» (RESENDE, 2000:173).   

Será difícil provar, cientificamente, a tese acima exposta, mas também poderá ser um pouco complexo provar o contrário. Viver uma forma de felicidade no seio de uma empresa parece, portanto, possível, precisamente a partir do conjunto de afetos, valores, emoções, comportamentos, regras e competências.  

Diga-se, que no interior de uma empresa se pode viver a felicidade, ainda que na perspectiva empresarial e, por isso mesmo, em pequenas quantidades. Com efeito: «Ser feliz é o objectivo principal de todas as pessoas. E a felicidade é obtida em pequenas doses como resultante de seus esforços, de efectivação e prática de suas aspirações, (…) sentir-se valorizado, aceito e amado (…), conviver agradavelmente com parentes e amigos.» (Ibid.:176).

Constituam-se empresas assentes em princípios, valores e sentimentos, destes se destacando a amizade profunda e o amor entre amigos. Depois, procurem-se os restantes recursos: financeiros, humanos, técnicos, tecnológicos. Não se deve ter medo das afeições, de resto, são elas que, a par dos sonhos, comandam a vida.

 Isto não é utopia, basta verificar quantas instituições ruíram, precisamente, por não existir entre os sócios um nível de confiança assente na amizade, no amor entre eles, funcionando, apenas, a quantidade e valor das “quotas” de cada um e a divisão dos lucros, quantas vezes, na base da premeditada traição e fraude.

Talvez um cientista destas áreas, possa, um dia, vir a provar que as empresas, tal como o matrimónio, (que não deixa de ser um contrato entre duas pessoas que se amam), só encontram o sucesso quando constituídas com os principais e insubstituíveis recursos imateriais: sentimentos verdadeiros, amizade com amor entre os amigos; valores axiológicos; depois sim, todos os recursos materiais, que, obviamente, são imprescindíveis para os objetivos da empresa.

Não é pelo peso das “quotas” de cada sócio que se resolvem os problemas emocionais, nem de outra natureza, mas sim pela força dos sentimentos em geral e do “amor-de-amigo” em particular, bem como dos valores imateriais que proporcionam compreensão, tolerância, ajuda, carinho e novas aprendizagens, salvando-se, assim, quantas vezes, o futuro da empresa e daqueles que nela trabalham.

Propositadamente ficou para o fim desta reflexão uma definição do que é o “Amor-de-Amigo”, naturalmente, não será única, provavelmente não a melhor, mas apenas um conceito, muito simples, que não terá de ser comungado por todas as pessoas. Pode-se aceitar o conceito de “Amor-de-Amigos”, o qual defende que:

«A relação de Amizade é uma grande manifestação do Amor humano. O Amor de Amigos é Amigável, puro e sem hipocrisia. A pessoa escolhe livremente gostar dessa pessoa, amar essa pessoa, a que chama AMIGO. A pessoa não está ligada à outra pelo instinto! É uma simpatia pela pessoa. Amizade pode existir entre homem e mulher, entre homem e homem, entre mulher e mulher. Neste Amor de Amizade não há! Não existe atracção sexual. (…). A verdadeira Amizade, ou seja, Amor de Amigos, traz muita alegria, a pessoa Ama e dá sem esperar nada em troca. Não Ama o Amigo pelo que ele fez ou faz! Ama independentemente da ajuda, de qualquer coisa que a pessoa Amiga faça.

Nós Amamos os nossos Amigos queremos estar perto deles. Desejamos o melhor para eles. Desculpamos os erros. Temos bons pensamentos, boas palavras, bons sentimentos, bons desejos para os nossos Amigos. Desejamos tudo de bom para os nossos Amigos. Somos sinceros! Puros! Amáveis! Honestos! Leais! Verdadeiros! Com os nossos Amigos. Esta é a verdadeira relação de Amizade. Gostamos dos nossos Amigos.» (ROBERTSON, 22.08.2010, às 11H20m)

 

Bibliografia

 

AMARO, Cristina in CANHA Isabel, (2010). As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excepcional, histórias inspiradas de vidas extraordinárias, Lisboa: Bertrand Editora;

BERNARDI, Luiz Antonio, (2003). Manual de Empreendedorismo e Gestão. Fundamentos, Estratégias e Dinâmicas. São Paulo: Editora Atlas, S.A.

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark~

ROBERTSON, Maria, (2007) in: http://www.google.pt/search?hl=pt PT&source=hp&q=Amor+de+Amigos&aq=f&aqi=g2&aql=&oq=&gs_rfai= 22.08.2010, às 11H20m)

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

Jornal: “Terra e Mar”

 

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  http://www.grupoliterarte.com.br/Associados.aspx?id=306

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